Tecnologia Apícola
 
 

EFICIÊNCIA COMPARADA DE NÚCLEOS DE FECUNDAÇÃO UTILIZADOS NA PRODUÇÃO DE ABELHAS-RAINHAS AFRICANIZADAS (Apis Mellifera L.)

RESULTADOS PRELIMINARES

    Etelvina C. A. da Silva; José Chaud Netto (Instituto de Biociências UNESP, cx. p. 178, Rio Claro, SP, 13500-000); Ronaldo M. B. Silva; Augusta C. C. C. Moreti; Maria L. T. M. F. Alves; Ivani P. Otsuk; (Cen-tro de Apicultura Tropical, Instituto de Zootecnia, cx. p. 176, Pindamonhangaba, SP, Brasil, 12400-000).

SUMMARY

    Although advanced Apiculture places fundamental importance toward commercial production of queen bees, this is still incipient in Brazil. This gap may be partly due to peculiarities of our apiculture - based on exploration of Africanized bees. Our work aims through comparison of four types of mating nucleus (large individual nuclei, large collective nuclei, small individual nuclei and small collective nuclei) to establish the most adequate to the rearing of Africanized honey bee queens.

    There will be performed a series of 10 random experiments with 4 treatments (mating nucleus types) and 12 replications (nuclei/treatment).

    Partial results on the first experiment suggest the feasibility of rearing Africanized queen bees in small individual nuclei as well as in small collective nuclei. Overall data will make possible to assess the relative advantages of these systems - quantitatively and economically.

INTRODUÇÃO

    A produção de rainhas envolve dois processos: criar as rainhas virgens e depois fecundá-las (EL-SARRAG e NAGI, 1985). Este segundo processo é o mais incerto, estando sujeito a riscos e fracassos, o que o torna a parte mais onerosa da produção.

    RUTTNER (1983) acentua que, em boas condições, 80% das rainhas atingem a fase final do processo de criação. Em situações menos favoráveis, não mais que 50% das rainhas virgens chegam à fase de rainha fecundada em postura. Produtores comerciais de rainhas do Canadá geralmente obtém no mínimo 51,4%, e no máximo 81,5% de rainhas fecundadas, com média de 67,32% de fecundação (FREE & SPENCER - BOOTH, 1961).

    Os núcleos de fecundação são classificados em “grandes” (utilizando quadros de tamanho normal de colmeia) e “pequenos” ou “isolados” e “compartimentados” (duas ou mais unidades embutidas em uma só caixa). Numerosas comparações experimentais entre estas categorias têm sido realizadas, com resultados nem sempre concordantes. MIRZA e DAGAN (1967) observaram maior porcentagem de fecundação em núcleos pequenos (67%) do que em grandes (60%). Obtiveram, ainda, 24 rainhas fecundadas, por quilo de abelhas em núcleos pequenos, contra somente 12 rainhas fecundadas em núcleos grandes, concluindo que os núcleos pequenos foram 48% mais eficientes do que os grandes. Contrariamente, SKROBAL (1968), comparando núcleos grandes com “micronúcleos” concluiu que os primeiros foram melhor sucedidos e que núcleos com menos de 100g de abelhas (aproximadamente 1000 abelhas) não deram resultado positivo.

    A simples mudança no tipo de núcleo utilizado pode alterar em mais de 50% o custo final da rainha fecundada (CORNEJO et al., 1973). Em condições de produção comercial e empregando vários tipos de núcleo, KATZAROV (1976) estabeleceu que o preço de custo das rainhas fecundadas depende das dimensões e do número de núcleos do abrigo: (a) o maior preço foi registrado em abrigos com três compartimentos e três quadros Langstroth (4,69 leva); (b) abrigos com dois e três núcleos, com três 1/4 quadros Dadant foram quase idênticos (4,35 e 4,15 leva); (c) o menor preço (2,45 leva) foi obtido em abrigos com seis núcleos com três quadros 1/2 quadro Langstroth. TARANOV (1976), testando a eficiência de 1, 2, 4, e 8 compartimentos em único abrigo, em uma estação de fecundação do Cáucaso, em Krasnopoliansk (Rússia), durante três anos, concluiu que: (1) os núcleos devem ser isolados e ter uma única abertura na parede da caixa; (2) a menor taxa de fecundação ocorreu com núcleos de 8 compartimentos; (3) os melhores resultados foram obtidos com núcleos de 2 compartimentos e (4), os mais econômicos foram os núcleos de 4 compartimentos.

    Comparando o desempenho de núcleos de fecundação contendo abelhas africanizadas e européias em Sarare, Venezuela (aproximadamente 9º LN), HELLMICH II et al. (1986) verificaram que a taxa de fecundação foi maior nas colônias européias e que as africanizadas desertaram com maior freqüência. Investigando a mortalidade de rainhas virgens em núcleos de fecundação, TEIXEIRA (1993) utilizou núcleos com cria tendo registrado taxas de fecundação entre 51,3 e 90,3%, com média de 70,0%.

    EL-SARRAG & NAGI (1989), trabalhando na região de Cartum (15o 33' LTN), com abelhas híbridas Carnicas-Egípcias, estudaram diversos fatores que afetam a fecundação, tendo observado que:  (1) as maiores porcentagens de fecundação (média de 83%) ocorreram no início do verão (março) e no início do outono (agosto); as menores porcentagens de fecundação (50%) ocorreram na primavera (fevereiro), no verão (maio e junho) e no meio do outono (outubro). Os mesmos autores observaram, ainda, a ocorrência de abandono dos núcleos, em abril-maio (33%) e junho-julho (17%);  (2) nos núcleos povoados com abelhas jovens a fecundação foi mais elevada (66,6 a 83,3%) do que naqueles habitados somente por abelhas campeiras (33,3 a 50,0%);  (3) nos núcleos que não possuíam cria a taxa de abandono foi maior e a porcentagem de fecundação foi mais baixa, do que naqueles que possuíam crias de várias idades e  (4) a taxa de fecundação foi mais elevada (50 a 83%) nos núcleos maiores, com quadros Langstroth, do que nos núcleos pequenos, tipo "baby" (17 a 33%). Nestes últimos, os autores observaram, ainda, 50% de incidência de abandono.

    Na presente investigação pretende-se obter informações referentes à eficiência e custo de produção de rainhas de abelhas africanizadas (Apis mellifera L.), frente a diferentes núcleos de fecundação e técnicas de manejo a eles apropriadas, comparando os resultados entre si e relacionando-os com os fatores tempo de produção, esforço, materiais requeridos para sua obtenção e custos, com vistas à otimização do processo.

MATERIAL E MÉTODOS
 

    O experimento foi realizado no Centro de Apicultura Tropical (C.A.T.) do Instituto de Zootecnia, em Pindamonhangaba, SP (22º 57’S, 42º 27’W), a 560m de altitude, com temperaturas médias mensais entre 15 a 24º C.

    As comparações abrangem dois tipos de núcleos isolados e dois tipos múltiplos (colmeias compartimentadas), sendo cada tipo representado por grupos de 12 núcleos, totalizando 48 núcleos. Em cada núcleo serão efetuadas 12 introduções sucessivas, a intervalos de duas semanas, totalizando 576 rainhas virgens a serem introduzidas. A rainha é introduzida com 3 a 4 dias de idade, com auxílio de uma gaiola com cândi, conforme manejo corrente no criatório do C.A. T. (SILVA et al., 1994).

    Tratamento 1 - Núcleos isolados de tamanho pequeno - Constam de dois a três favos com 20 x 15 cm, cobertos por abelhas (cerca de 1000 operárias). Os favos são inicialmente introduzidos em colônias de apoio, com rainha, que neles realizarão postura, sendo posteriormente transferidos para os núcleos. Utiliza-se um apoio para quatro núcleos. As abelhas são alimentadas com xarope de açúcar a 60%.

Tratamento 2 - Núcleos isolados de tamanho grande. - São constituídos por dois quadros de ninho Langstroth, sendo um de cria fechada e um contendo alimento, instalados em uma caixa com capacidade para cinco quadros. A cada duas semanas, de acordo com a necessidade, um ou os dois quadros são substituídos, por favos provenientes de colmeias de apoio, na proporção de um apoio para cada dois núcleos.

    Tratamento 3 - Núcleos múltiplos de tamanho pequeno - São formados a partir de um ninho dividido em quatro compartimentos. Cada compartimento está dotado de um pequeno orifício, em cada um dos lados da colmeia, para a entrada e saída das abelhas (alvado), pintado de cor diferente para evitar o desvio das abelhas. Os 12 núcleos deste tipo estão, portanto, alojados em três abrigos.

    Tratamento 4 - Núcleos múltiplos de tamanho grande - Instalados em um ninho Langstroth dividido longitudinalmente em três compartimentos. Nos compartimentos laterais, com capacidade para dois quadros, localizam-se os núcleos de fecundação, enquanto que no compartimento central, com capacidade para cinco quadros permanece o remanescente da colônia formadora dos núcleos, com sua rainha. Esta colônia é utilizada como apoio para os dois núcleos laterais. Os três compartimentos se comunicam, através de uma passagem retangular (6 x 4 cm) provida de tela excluidora nas paredes internas, o que permite às abelhas moverem-se através dos núcleos. São formados a partir de uma colônia de produção e reforçados com quadros de cria da colônia contendo a rainha mãe das abelhas, procurando-se desta maneira manter a maior parte das operárias irmãs. O manejo para obtenção de rainhas fecundadas é realizado nos núcleos laterais. Assim, para os 12 núcleos relativos a esse tratamento são utilizadas seis colmeias compartimentadas.

    Os núcleos do experimento foram distribuídos ao acaso, entre os demais núcleos de fecundação do C. A. T. O rendimento obtido para os diferentes núcleos será avaliado pela porcentagem de rainhas fecundadas e/ou de colônias que abandonarão os núcleos de cada tipo. A eficiência econômica será avaliada pelo preço da caixa núcleo, quantidade de abelhas utilizadas, porcentagem de rainhas fecundadas obtidas e insumos (mão de obra, alimento, cria e abelhas) consumidos para obtenção de uma rainha fecundada, em cada um dos tipos de núcleo.

RESULTADOS PARCIAIS OBTIDOS

    Os resultados a seguir apresentados abrangem os sete primeiros ciclos de produção. Como se pode observar no quadro 1, procurou-se padronizar o investimento inicial (abelhas, cria e alimento), para  melhor evidenciar os efeitos da forma, dimensões e manejo dos diferentes sistemas, sobre seu desempenho. Assim mesmo, algumas diferenças ocorreram: o tratamento 1 absorveu mais alimento, por receber favo de mel e xarope, enquanto que os demais somente receberam favo de mel. Além disso, quatro núcleos (um conjunto) do tratamento 1 tiveram que ser repostos, por falhas na execução inicial. Verificaram-se ainda diferenças no tempo requerido para a organização de cada tipo de núcleo.

Quadro 1 - Custos e materiais necessários para o estabelecimento dos núcleos - valores unitários
Tratamento
Fator
1
2
3
4
Custo de materiais e abelhas* (R$)
107,00
173,00
97,60
102,20
Consumo de abelhas (ml) 
500
500
500
500
Consumo de cria (1/2Q)
2
2
2
2
Consumo de alimento (kg)
2
1
1
1
Tempo operacional (segundos)
170,83
139,00
241,42
459,58
Freqüência de reposições
4
0
0
0
 * - Incluindo fração proporcional do custo das colmeias de apoio.

Quadro 2 - Custos de manutenção dos núcleos - médias por núcleo e por ciclo de produção
Tratamento
Fator
1
2
3
4
Consumo de abelhas (ml) 
29,76
0,00
3,57
0,00
Consumo de cria (1/2Q)
0,89
1,35
0,74
1,31
Consumo de alimento (kg)
0,55
 0,74
0,2
0,62
Tempo operacional (segundos)
45,2
42,96
63,87
130,27
Freqüência de reposições
6
0
2
0
 
 
 
Quadro 3 - Custos de utilização e produtividade dos sistemas de núcleos
Tratamento
Fator
1
2
3
4
Tempo para introdução 
12,39
12,54
10,48
27,35
Tempo para verificação de fecundação
94,67
75,04
73,19
92,45
Tempo para coleta da rainha
243,10
 181,23
226,19
297,36
Porcentagem de fecundação
82,00
82,00
64,00
61,00
 
 
 

    Durante os trabalhos de manutenção dos núcleos, envolvendo entre outras, operações de troca de favos, alimentação e reposição, verificaram-se sensíveis diferenças entre os tipos de núcleo (quadro 2). Somente os núcleos pequenos consumiram abelhas (operárias adultas), em conseqüência de algumas deserções (7,6% do tratamento 1 e 2,4% do tratamento 3). Houve maior consumo de cria e de alimento nos núcleos grandes (tratamentos 2 e 4), motivado pelo maior tamanho dos seus quadros. As maiores diferenças entretanto, são as referentes ao tempo consumido nos trabalhos de manutenção, indicando que a estrutura de alguns facilita ou dificulta a execução dos trabalhos. Estas mesmas diferenças se observam em relação às operações de utilização dos núcleos: os que demandam menos tempo são os do tratamento 2 e os mais demorados são os do tratamento 4. Esta convergência de valores reforça a suposição de que o desenho do núcleo influi sobre o rendimento do trabalho do apicultor. Os dados de rendimento indicam dois agrupamentos: os tratamentos 1 e 2, com 82,00% e os tratamentos 3 e 4, com 64,00 e 61,00%, respectivamente. Estes dados sugerem que o tamanho do núcleo não afeta o rendimento, porém, aparentemente, os núcleos isolados apresentaram melhor desempenho do que as colmeias compartimentadas.
As porcentagens de fecundação observadas em todos os tratamentos estão dentro dos limites citados pelos autores (RUTTNER, 1983; MIRZA e DAGAN; 1967; TEIXEIRA, 1993). A incidência de abandono nos núcleos pequenos, contudo, foi muito menor do que aquela referida por EL-SARRAG e NAGI (1989).

     Os resultados coletados até o momento, por incompletos, não nos permitem definir qual o melhor sistema para a produção de rainhas de abelhas africanizadas, em clima tropical. Contudo, algumas conclusões provisórias podem ser enunciadas, como:

1. Os métodos correntes de produção comercial de rainhas podem ser utilizados com as abelhas africanizadas, com expectativa de êxito similar ao esperado para abelhas de qualquer outra subespécie.

2. Aparentemente não existem restrições ao uso de qualquer tipo de núcleo de fecundação, para este tipo de abelhas.

3. Os sistemas em estudo apresentam desempenho desigual nas diferentes variáveis analisadas, o que sugere a possibilidade de aumentar-se a eficiência da produção de rainhas, combinando-se as melhores características de cada sistema.
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 

CORNEJO, L.G., ITZCOVICH, B., BARTOLOMÉ, R.  Costo de produccion de abejas reinas para el periodo 1971-1972.  In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE APICULTURA, 24, 1973, Buenos Aires.  Anais.  Bucarest: APIMONDIA, [s. d.] p. 575.

EL-SARRAG, M.S.A., NAGI, S.K.A.  Some factors affecting rearing of queen honeybees in the Shambat area, Sudan.  In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON APICULTURE IN TROPICAL CLIMATES, 3, 1984, Nairobi.  Proceedings.  London: IBRA, 1985, p. 66-70.

EL-SARRAG, M.S.A, NAGI, S.K.A.  Studies on some factors affecting mating of queen honeybees in the Khartoum area, Sudan.  In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON APICULTURE IN TROPICAL CLIMATES, 4, 1988, Cairo.  Proceedings.  London: IBRA, 1989, p. 20-4.

FREE, J.B., SPENCER-BOOTH, Y.  Analysis of honey farmers records on queen rearing and queen introduction.  J. Agric. Sci., Cambridge, v. 56, p. 325-31, 1961.

HELMICH, R.L. II et al.  Comparison of Africanized and European queen-mating colonies in Venezuela.  Apidologie, Paris, v. 17, n. 3, p. 217-26, 1986.

KATZAROV, G.A.  Efficiency of various types of queen mating nuclei.  In: SYMPOSIUM ON BEE BIOLOGY, Moscow, 1976. Genetics, selection and reproduction of the honey bee.  Proceedings.  Bucharest: APIMONDIA, 1976.  p. 244-5.

MIRZA, E & DRAGAN, M.  Efficiency of mating queens in large and small nuclei.  Lucr. Stünt. Stat. Cent. Ap. Seri., v. 8, p. 35-44, 1967.

RUTTNER, F. et al.  Queen rearing.  Bucharest: APIMONDIA, 1983.  358 p.
SILVA, E. C. A.; SILVA, R.M.B.; CHAUD NETTO, J.; MORETI, A.C.C.C.; OTSUK, I.P.  Influence of management and environmental factors on mating success of Africanized queen honey bees.  Journal of Apicultural Research 34(3): 169-175. 1995.

TARANOV, G.F.  Formation of nuclei and introduction of queens in large queen breeding apiaries.  In: SYMPOSIUM ON BEE BIOLOGY, Moscow, 1976.  Genetics, selection and reproduction of the honey bee.  Proceedings.  Bucharest: APIMONDIA, 1976.  p. 149-254.
TEIXEIRA, M. V.  Aspectos comportamentais e fatores que influenciam na fecundação natural de rainhas de Apis mellifera (Hymenoptera: Apidae), em região neotropical..).  Ribeirão Preto, 1993.  124p.  [Dissertação de Mestrado - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto].n
 
 
Experimento financiado pela FAPESP, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

 
 

 
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