Evento
 
 

XXXV CONGRESSO INTERNACIONAL DE APICULTURA

 APIMONDIA - ANTUÉRPIA - BÉLGICA

Dr. Mario Isao Otsuka - Diretor Responsavel do Mensagem Doce
 
 

    Em comemoração aos 100 anos da realização do I Congresso Internacional de Apicultura em Bruxelas, em 1897, por iniciativa do belga F. de LALIEUX de la Rocq, foi também realizado na Bélgica, na cidade de Antuérpia, no período de 1 a 6 de setembro/97, o XXXV Congresso Internacional de Apicultura.

    Dos 35 Congressos Internacionais realizados até a presente data, a Federação Internacional das Associações de Apicultura - APIMONDIA - tem chamado a si a responsabilidade da organização dos últimos 20 Congressos, sempre em estreita colaboração com as Entidades Apícolas dos Países sedes.
 
    Assim, desta vez a organização do XXXV Congresso coube à APIMONDIA  em conjunto com as autoridades, universidades, centros apícolas e outras entidades apícolas da Bélgica.

    O XXXV Congresso realizou-se no Centro de Congressos do Parque Zoológico de Antuérpia, ao lado da Estação Central Ferroviária, bem no centro da cidade, o que facilitou sobremaneira a freqüência dos congressistas, pois para aquele local também convergem as principais linhas de ônibus e do metrô.

    Como todo congresso realizado na Europa, a afluência dos congressistas europeus foi em massa devido a fácil comunicação rodoviárias, ferroviária e aérea entre os países da Comunidade Européia.  Foi também muito grande a presença de congressistas de outros países do mundo. Do Brasil, embora não tenhamos o número oficial, estimamos que lá estiveram, entre pesquisadores e apicultores, cerca de 100 participantes.

    A sessão solene de abertura do XXXV Congresso, comemorando os 100 anos da realização do I Congresso, foi marcante com a execução de músicas e espetáculo de luzes simultaneamente à entrada no recinto de bandeiras de diversas cores alusivas ao centenário, portadas por pessoas vistidas de roupas regionais, bem ao estilo do povo europeu.

    A sessão de abertura ocorreu no dia 1o, com a palavra proferida pelo Presidente da APIMONDIA, Sr. R. Borneck, seguido pela transmissão do cargo da Presidência do Congresso pelo suíço Sr. JEAN P. COUCHARD, Presidente do XXXIV Congresso realizado em Lausanne - Suíça, ao Prof. Dr. R. VERHEYEN, Presidente do XXXV Congresso.

    A seguir usaram também da palavra outras autoridades e Presidentes de Comissões da APIMONDIA. Foram eles os Srs. NIVAILLES, G. RATIA, DR. O. VAN LAERE, DR. W. RITTER, DRA. N. BADBEAR, H. WATANABE, DR. M. SOMMEIJER, M. THOMAS E DR. T. CHERBULIEZ.

    As sessões plenárias, os simpósios, as apresentações de pôsteres, as reuniões das comissões, sessões de filmes e diapositivos e as mostras e vendas da APIEXPO/97 ocorreram simultaneamente, de maneira que os congressistas tiveram que fazer com antecedência e com critério, a opção do que e onde participar.

    Na verdade, num Congresso Internacional o congressista, tamanha a quantidade de assuntos, além de uma grande e eficiente feira de produtos e equipamentos apícolas, fica um tanto frustrado em não poder participar de mais eventos. Entendemos, todavia, que se conseguir assistir algumas sessões de seu agrado, tomou conhecimento das últimas tecnologias em termos de equipamentos, reviu os amigos e fez novas amizades, o congresso terá valido a pena.

    Os temas apresentados nas sessões plenárias foram de Patologia da Abelha, Biologia da Abelha, Apicultura para o desenvolvimento  Rural, Tecnologia e Equipamento Apícola, Flora melífera e polinização e Apiterapia.

    Nos simpósios foram apresentados os temas: Abelhas Africanizadas, Méis monoflorias, Apis capensis, Loque Americana, Abelhas sem Ferrão e Tolerância a Varroa.
 
    Os temas apresentados em forma de pôsteres, totalizando um número bem acima de 2 centenas, foram muito variados e de muitos países.

    Embora não tenhamos assistidos todas as sessões plenárias e simpósios com a participação brasileira constava da programação os seguintes temas: Palestras - AS abelhas Urbanas (Mônica Grohmann),  Acasalamento Múltiplo em Abelha sem Ferrão ( Prof. Dra. Vera Imperatriz da Fonseca), Comportamento de Ovoposição das Operárias e a Morfologia de seus Ovos em Melipona bicolor Lepelletier ( Prof. Dra. Vera Lúcia Imperatriz da Fonseca), As Abelhas sem Ferrão e as Abelhas Melíferas Africanizadas da Mata Tropical Atlântica do Brasil ( M. Ramalho), Estudo sobre a Influência da Raça e dos Mecanismos de Defesa contra o Acaro Varroa jacobsoni na Colônias de Apis melifera ( G. Moretto, L.J. de Mello Jr.) Rivalidade entre Apis melifera e Scaptotrigona bipunctata pela coleta em SP; Papel do Comportamento de coleta e abundância das Campeiras ( B.M.Freitas, G.F. Brandão, Z.B. de Araujo), Eficácia Comparada de Quatro tipos de Núcleos de Fecundação de Aplicação na Cria de Rainhas de Abelhas Meliferas Africanizadas( Prof. Etelvina Conceição de Almeida da Silva, Dr. Ronaldo Mário Barbosa da Silva, Augusta Carolina de C.C. Moreti, Maria L.T.M.F.Alves, I,P. Otsuk, J. Chaud Netto), Análise de Própolis mediante Fluorescência por Raios X para Detectar a contaminação por Chumbo (M.I.M.S.Bueno, I.B.S. Cunha, Maria Cristina Marcucci, A.N. Santos, M. Marasi), Potencial apícola do sul da Região de Minas Gerais (R. Lemos muller).
 

APIEXPO/97

    A Feira Apícola APIEXPO/97 realizou-se numa área de 2.000m2, especialmente construída sobre o gramado de uma praça situada defronte ao Centro de Congressos. A presença de Expositores também foi muito grande, principalmente os da Europa, destacando - se mais uma vez a Indústria de Produtos Apícolas Thomas, da França, que com seu imenso caminhão estande estacionou-se ao lado da Estação Central, fora do recinto da APIEXPO/97.

    Para o apicultor congressista, de acordo com a maioria pesquisada, o ponto alto foi a APIEXPO/97, onde pode ver os produtos das colméias em embalagens e rotulagens atraentes dentro da mais moderna técnica de comercialização, bem como e especialmente os equipamentos apícolas com a tecnologia de última geração tanto os adequados aos amadores quanto aos profissionais.

    As grandes indústrias alemãs, italianas, francesas, portuguesas e outras emergentes de outros países se fizeram presentes, tais como a já mencionada Thomas, Quarti, Graze, Lega, Carl Fritz, Augen Herzog, SAF, Amilcar & Morgado, Apícola Fernandez etc.

    A APACAME coloca a disposição dos associados, para consulta, na sua Biblioteca, folhetos e catálogos dos produtos apresentados na APIEXPO/97.

    Quanto à  visita técnica a maioria do grupo APACAME, juntamente com congressistas de outros países, foi a LAUVAIN LA NEUVE para visitar o Centro de Pesquisas e Informações Apícolas da Universidade de língua francesa daquela localidade. Segundo uma rápida palestra apresentada, como em outros países do mundo prevalece na apicultura belga a participação de apicultores amadores que ainda trabalham em outras atividades, mas a maioria é constituída de aposentados.

    Em 1956 haviam no país cerca de 7.000 apicultores e atualmente existem aproximadamente 4.000. Com relação à quantidade de colméias cerca de 37% possuem de 1 a 4 colméias, 35% de 5 a 9, 18% de 10 a 14 e o restante possuem acima desse último número.

    A distância entre a residência e o apiário para os 55% dos apicultores é de até 100 metros, 10% até 500 metros e o restante acima de 500 metros até o máximo de 50 quilômetros e são muito poucos os que praticam a apicultura migratória.

    A Abelha é de raça negra, mas acredita - se que prevalecerá a Buckfast. A florada principal é o Trevo com cerca de 60% de produção e o restante de fruteiras, plantas nativas etc.

    A produção de mel é de no máximo 20/25 kg. por colmeia/ano, e como média nacional a produção é de 10/15 kg. por colmeia/ano.

    Os méis monoflorais são raríssimos e 80% do mel consumido na Bélgica é importado. Todavia a  apicultura é valorizada em razão do valor da polinização das plantas agrícolas e é considerado um elemento importante para a preservação da biodiversidade. O problema de fontes florais tem melhorado muito com a alteração da legislação sobre o uso de erbicidas. O uso de inseticidas agrícolas é controlado quando se trata de aplicação sobre plantas com floradas visitadas pelas abelhas.

    O movimento relativo ao associativismo é florescente, pois a maioria dos apicultores belgas pertencem a uma associação local. Essas associações promovem cursos de apicultura, promovem palestras, conferências, visitas técnicas, etc. Essas associações por sua vez formam duas federações que estão em pleno funcionamento.

    Após a visita ao centro de pesquisas o grupo visitou o histórico local onde se deu a famosa batalha de Waterloo.

    Os outros congressistas da APACAME visitaram o Museu de Apicultura de TILFF onde puderam observar a importância de um museu apícola

    Na viagem pós congresso entre Oslo e Bergen, o grupo APACAME pernoitou uma noite em Lofthus na altas montanhas da Noruega. A região já se apresentava, embora extemporaneamente, com vestígios de uma precoce nevada.

    Em Lofthus tivemos a grata satisfação, graças a nossa inesquecível Guia Sra. Ellen Broch Smith, uma profissional muito competente, que envidou todos os esforços no sentido de que pudéssemos conhecer um apicultor local.

    Logo após nossa chegada em Lofthus, por volta da 19:00 horas já se encontrava no Hotel o Sr. Lars Rosten, um Juiz aposentado e apicultor por diletantismo.

    O Sr. Lars pratica a apicultura há mais de 40 anos, possui cerca de 30 colméias e faz migratória na região costeira próximo à Lofthus.

    A média de produção tanto em Lofthus quanto na costa tem sido por volta de 20kg/colmeia, mas pode se dizer que como média anual sua produção tem sido por volta de 800 kg/ano.

    O mel colhido em Lofthus é de predominância de urze enquanto que na costa é multifloral.

    O consumo de Candy é cerca de 25kg./colmeia/ano.

    As abelhas existentes na região são as Brown Bees, Buckfast e Cárnica e são bastante mansas. Começa sempre o trabalho do apiário com máscara e fumegador, mas ao longo do trabalho a máscara acaba sendo retirada. Não existe ainda na região a Varroa jacobsoni em razão das altas montanhas que separam o outro lado da Noruega.

    Em razão dessa não existência da Varroa  estão legalmente impedidos de importar rainhas de outros países, e mesmo as abelhas de outras regiões do próprio país onde existam aquele ácaro não podem ser levadas para sua região.

    Quanto à outras doenças o Sr. Lars no informou que não existem, mas lembra que no passado havia uma provocada por fungos mas que já há muito não tem sido constatada.

    A cada 3 anos ele produz rainhas pelo sistema de enxertia para fazer a substituição em suas colmeias. Nesse momento se preocupa em selecionar as rainhas de índole mansa.

    As suas colmeias são de isopor por serem mais térmicas, pois o inverno na Noruega é rigorosíssimo e chove no país por volta de 230 dias por ano, havendo por isso muita umidade e mofos no seu interior. As colmeias recebem uma camada de tinta na parte interna.

    Na Região de Lofthus existem 43 apicultores com 5 a 7 colmeias e a finalidade principal é a polinização dos pomares. O maior apicultor da região possui cerca de 150 colmeias, enquanto que os maiores do país possuem até 200 colmeias.

    São mais ou menos 4.000 apicultores no país, na sua maioria amadores, e produzem em média 1.000 toneladas/ano, mas possui potencial de florada para 2.000 toneladas.

    Com relação ao associativismo, existe uma entidade nacional em Oslo, outras regionais e associações locais. Os cursos são ministrados pelas associações com apicultores mais experientes.

    Existe ainda uma cooperativa de apicultores em Oslo que distribui a  produção de mel dos apicultores. Aqueles que entregam à Cooperativa recebem por volta de 20/30 coroas por kg., mas com o recebimento da distribuição de lucros acaba ficando em torno de 41,50 coroas por kg.. O preço ao consumidor é em média 80/80 coroas por kg.

    A taxa de filiação à Cooperativa é de 50 coroas por colmeia e que deve ser complementada à medida que se aumenta a quantidade de colmeia.Entretanto, caso haja diminuição por qualquer motivo não haverá a devolução do dinheiro correspondente, mas sobre esse valor receberá um bônus, e finalmente quando ocorrer a demissão receberá integralmente o dinheiro em devolução.

    O Mel  entregue pelos apicultores é processado pela própria Cooperativa que controla sua qualidade, o mesmo acontecendo com o mel que é importado da Argentina. Neste último caso há no rótulo dizeres de que o mel foi inspecionado pela Cooperativa e que se trata de mel argentino. Não existe nenhuma inspeção por órgão oficial.

    No Controle de qualidade do mel a preocupação é sobre a umidade que deve estar entre 18% e 19% e sobre a contaminação nuclear, desde o trágico acidente de Chernobyl.
 
 

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