Artigo

Controle de ácaros de Varroa destructor no Brasil com óleos essenciais de eucalipto

Matéria produzida originalmente para o SIS/SEBRAE/SC com imagens da Shutterstock no corpo do texto se encontram os colaboradores.

Imagem 1: Vários ácaros em célula com cria de abelha operária.
Fonte: Varrose... (2013).

Resumo Executivo

As ações de manejo que preveem o transporte das colmeias estão facilitando a proliferação de ácaros. Já disseminados em diferentes regiões do país, os do tipo Varroa podem levar até a morte das colmeias.

Alguns produtos existem para combater esses ácaros, mas o uso intensivo tem provocado a resistência ao princípios-ativos e ao mesmo ameaçado as abelhas.

Esse relatório apresenta o Ecovar, produto desenvolvido pelo Laboratório Fitoquímica, que atua diretamente no controle da infestação de ácaros nas colmeias. O produto tem como princípio óleos essenciais, principalmente, à base de 'eucaliptol'.

Estudos, desenvolvidos pelo laboratório, mostram que os resultados no combate aos ácaros são de pouco tempo. Em apenas quatro horas, o gel aplicado sobre fitas colocadas próximas às áreas de cria, causou mortalidade de grande parte dos ácaros que infestavam abelhas adultas.

Confira ao longo do relatório sobre como os ácaros de Varroa comprometem as colmeias e de que forma o Ecovar possibilita a eliminação dessa praga.

COMBATE AOS ÁCAROS

Introdução

A instalação de abelhas em colmeias racionais facilita a intervenção do apicultor e permite a inspeção detalhada de toda a parte interna da colmeia. Utilizando telas de transporte, é possível transportar colmeias, através de apicultura migratória entre diferentes regiões de interesse apícola. Na apicultura migratória, os enxames podem ser levados para áreas de produção de mel, com rica pastagem apícola, ou para culturas de interesse econômico em que aumentam consideravelmente a produção dos frutos, como em pomares de macieiras (VIEIRA et al., 2004). Porém, o uso de técnicas de manejo intensivo, transporte de colmeias a longas distâncias, que podem promover estresse nas abelhas - por conta da exposição à diferentes ambientes - têm sido apontadas também como um dos fatores desencadeadores de desaparecimento ou diminuição da população. Além da exposição a produtos químicos utilizados nas áreas em que se realiza polinização dirigida, há maior risco e exposição aos vírus, bactérias ou ácaros parasitas (DOS SANTOS et al., 2011).

Nos últimos anos, é possível observar infestação de parasitas nas abelhas, principalmente os ácaros de Varroa, que se encontram disseminados por diferentes regiões brasileiras. O índice de infestação por Varroa em abelhas adultas nas colmeias de abelhas africanizadas no Brasil, está em média abaixo de 5%.

Os níveis de infestação mais elevados foram detectados durante os primeiros anos, após sua observação no Brasil em 1971 (ROSENKRANS, 1999). Porém, em levantamentos sobre infestação de ácaros em 90 colmeias no Piauí, Silva Neto et al. ([20-?]) encontraram 12,1% a 18% de infestação em 5% de 90 amostras levantadas entre os meses de junho de 2009 a julho de 2010. Devido aos problemas relacionados com a infestação de ácaros de Varroa no Brasil, o presente relatório abordará a doença causada por esse ácaro e como é possível fazer o controle da doença que será o primeiro produto de combate ao ácaro nas colmeias no Brasil.

VARROASE, A DOENÇA CAUSADA PELO ÁCARO Varroa destructor

A ocorrência de ácaros Varroa destructor, dependendo do grau de infestação nas colmeias, pode ocasionar enfraquecimento até a sua morte (MORETTO et al., 1991).

Os ácaros sugam a hemolinfa das abelhas adultas, assim como das crias em diferentes estágios de desenvolvimento. A exposição de feridas na epiderme das abelhas em virtude das picadas feitas pelos carrapatos, podem se tornar porta de entrada de outras doenças nas abelhas, em que a Varroa pode se tornar um vetor para vírus da paralisia aguda de abelhas (ABPV), ou para o vírus de abelhas Kashmir (KBV), ou o vírus que deforma as asas (DWV) (STRAPAZZON, 2008). Dependendo dos níveis de infestação, o volume de postura na colmeia tende a diminuir, como também, a saúde das abelhas recém nascidas, diminuindo seu tempo de vida e consequente produtividade de mel da colmeia, que pode ser reduzida pela metade (CHEN et al., 2004).

MÉTODO NATURAL

Controle

O uso de produtos veterinários para o controle da Varroase é comum em outros países que apresentam infestação causada pelo ácaro.

Para minimizar os efeitos da infestação de Varroa, vários acaricidas sintéticos foram desenvolvidos, como os organofosforados e piretroides. Mas, o uso intensivo de produtos sintéticos tem ocasionado resistência em diferentes índices dos ácaros. A resistência adquirida, normalmente, é sobreposta pelo uso gradativo de concentrações maiores de princípio ativo nas aplicações ou a alternância do uso de dois ou mais produtos sintéticos, que facilmente podem contaminar o mel ou a cera nas colmeias (LODESANI, 2004; VIEIRA et al., 2012).

Esse fato tem levado ao desenvolvimento de produtos, com princípio ativo de origem natural, que não façam ocorrer resistência dos ácaros, que sejam eficientes no controle do ácaro em todas as fases de seu desenvolvimento, e que não promovam resíduos no mel e na cera das colmeias (CASTAGNINO; ORSI, 2012).

O laboratório Fitoquímica de Porto Alegre (RS), no primeiro semestre deste ano, produziu um gel chamado Ecovar que atua diretamente no controle da infestação de ácaros nas colmeias infestadas. O produto possui como princípio ativo a substância 'cineol', também conhecida como 'eucaliptol', que é o componente principal do óleo essencial extraído das folhas da maioria das plantas de eucaliptos.

O uso do princípio ativo em gel para ser aplicado sobre um substrato e ser colocado entre os favos próximos da área de cria foi testado em vários países.

Um dos testes foi feito por Garcia (2009) foi em apiários na Guatemala onde foram testados três tipos de óleos essenciais de plantas, sendo um deles o de eucalipto. Os resultados foram animadores, em que a partir de quatro horas o gel aplicado sobre fitas que eram colocadas próximas ás áreas de cria, causou mortalidade de grande parte dos ácaros que infestavam abelhas adultas, como mostra a Tabela 1.

O uso de 'eucaliptol' não trouxe qualquer fator de repelência ou morte de abelhas nas colmeias em que foram realizados os experimentos.

O produto Ecovar, de acordo com o fabricante, possui ação por contato e fumigação e tem as seguintes propriedades:

- Inibidor da enzima acetilcolinesterase;

- Desnaturante proteico;

- Devido ao forte aroma do 'eucaliptol', há dificuldade dos ácaros em localizar as crias;

- Indutor do "grooming";

- Efeito sinérgico;

- Repele a oviposição dos ácaros;

- Biodegradável.

O produto, de acordo com o fabricante, é isento de registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, em que por meio da Instrução Normativa nº 46/2011, permite o uso de óleos essenciais no controle de doenças das abelhas em sistemas orgânicos de produção. Sua comercialização é feita em potes de um litro, em caixas de seis unidades e com os substratos compostos por cartões Panamá (Laboratório Fitoquimica, (2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização de produtos para controle de ácaros de Varroa com sistemas naturais tem sido uma constante junto à cadeia produtiva da apicultura em vários países, visando o combate do acaro, com a preocupação em não contaminar os produtos apícolas.

No Brasil, embora vários pesquisadores afirmem que os índices de infestação de ácaros nas colmeias apresentem valores que não causem riscos, em levantamentos de campo é possível observar que os índices de infestação chegam a acima de 10% (SILVA NETO et al., [20-?]).

Um produto com o princípio ativo natural poderá ser usado para o controle da doença e sua utilização fica condicionada ao diagnóstico realizado em campo, pelo técnico, para a determinação da necessidade do uso ou não.

Ao apicultor cabe a responsabilidade de usar o produto, quando necessário, de forma correta, de acordo com a prescrição do fabricante e do técnico responsável para evitar contaminação dos produtos apícolas.

Fontes bibliográficas

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas EmpresasSanta Catarina CASTAGNINO, G. L. B.; ORSI, R. O. Produtos naturais para o controle do ácaro Varroa destructor. Scielo. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.47, n.6, p.738-744, jun. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pab/v47n6/47n06a02.pdf. Acesso em: 24 mai. 2013.

CHEN, Y.; PETTIS, J. S.; EVANS, J. D.; KRAMER, M.; FELDLAUFER, M. F. Transmission of Kashmir bee virus by the ectoparasitic mite Varroa destructor. Apidologie, Sophia-Antipolis, 35: 441-448. 2004.

DOS SANTOS, L. G.; ALVES, M. L. T. M. F.; MESSAGE, D.; TEIXEIRA, É. W. Apicultura migratória: aspectos sanitários. IN: 5º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica - CIIC, 2011. Anais... Embrapa. Campinas. Disponível em: http://www.cnpm.embrapa.br/5ciic/anais/Artigos/RE11301.pdf. Acesso em: 24 mai. 2013.

LABORATÓRIO FITOQUIMICA. Disponível em: http://www.fitoquimica.com.br/. Acesso em 24 mai. 2013.

GARCÍA, C. A. F. Evaluación de três produtos naturales para el control alternativo del ácaro Varroa em colmenas de abejas (Apis mellifera L.) usando gel como substrato portador. Trabalho de conclusão de curso em Agronomia. Universidad de San Carlos de Guatemala. 90 p. Guatemala. 2009. Disponível em:http://biblioteca.usac.edu.gt/EPS/01/01_2500.pdf. Acesso em: 24 mai.2013.

LODESANI, M. Contol strategies against Varroa mites. Parassitologia, Bethesda, 46 (1-2):277-9. 2004.

MORETTO, G.; GONÇALVES, L.S.; D. De Jong. The effects of climate and bee race on Varroa jacobsoni oud. Infestation in Brasil. Apidologie, Sophia-Antipolis, 22: 197-203, 1991.

ROSENKRANS, P. Honey bee (Apis mellifera L.) tolerance to Varroa jacobsoni Oud. in South America. Apidologie, Sophia-Antipolis, 30: 159-172, 1999.

SILVA NETO, H. B.; BENDINI, J. N.; SOUZA, D. Levantamento das enfermidades apícolas e do índice de infestação do acaro Varroa destructor em abelhas africanizadas na região do Semi-Árido Piauiense. Universidade Federal do Piauí. Teresina, [20-?]. Disponível em: http://www.ufpi.br/19sic/Documentos/RESUMOS/Vida/Hilton%20Borges%20Silva%20Neto.pdf. Acesso em: 24 mai. 2013.

STRAPAZZON, R. Caracterização genética do ácaro Varroa destructor em colônias de abelhas Apis mellifera (africanizada) no estado de Santa Catarina. Monografia, Universidade Regional de Blumenau. Blumenau-SC, 20p. 2008. Disponível em:http://www.bc.furb.br/docs/MO/2008/332219_1_1.pdf. Acesso em: 24 mai. 2013.

VARROSE. Apisantos. Seção: Mundo das abelhas - Doenças. [2013]. Disponível em:http://www.apisantos.com/1/varrose_328717.html. Acesso em: 24 mai. 2013.

VIEIRA, G. H. da C.; SILVA R. F. R. da; GRANDE J. P. Uso da apicultura como fonte alternativa de renda para pequenos e médios produtores da região do Bolsão, MS. In: Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, 2. Anais... Belo Horizonte, 2004.

VIEIRA, G. H.; ANDRADE, W. P.; NASCIMENTO, D. M. Uso de óleos essenciais no controle do ácaro Varroa destructor em Apis mellifera. Pesquisa Agropecuária Tropical, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 317-322, jul./set. 2012. Disponível em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/pat/article/view/18567/11785. Acesso em: 24 mai. 2013.

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