Notícia

Audiência pública debateu pedido de liberação de eucalipto transgênico na CTNBIO

Fonte: Publicado em 05 Setembro 2014 no site: Gôndola Segura

foto de T.Mahlmann - Apis mellifera na flor de eucalipto - flickr.com

Segundo o Professor Paulo Kageyama, que agora está de volta como membro da CTNBIO a audiência foi importante porém criticou o formato da audiência, onde segundo ele, foi possível perceber mais argumentos a favor da liberação do que contrário além da direção não abrir para mais pessoas poderem se manifestar. 

Segundo o ex-membro da CTNBIO,  Dr. Leonardo Melgarejo, representando o Ministério do Desenvolvimento Agrário, a empresa Futuragene havia lotado o auditório com seus 45 funcionários e terceirizados, ironizando. Melgarejo fez uma apresentação extremamente coerente, segura e ética. Demonstrou as deficiências do pedido de liberação e após assistirmos a própria empresa apresentar seus resultados, estava claro a fragilidade do processo de pesquisa até o presente momento.

Não obstante, tivemos momentos de comoção, quando um apicultor que comenta ter participado do experimento da empresa Futuregene (Suzano), requerente da autorização/uso comercial do eucalipto transgênico fez um discurso extremamente emotivo, ao se auto declarar um "observador" desse experimento certificando-se com propriedade: "as abelhas continuam até picando igual, nada mudou nesse período de testes".

Pesquisadores contestaram essa afirmativa, além de criticar a postura ética da empresa, que convidou um suposto apicultor para expor-se em uma audiência pública de cunho científico alegando inclusive que ele alimenta-se do mel em testes e nada sentia de diferente.

Esse fato demonstra a levianidade da equipe que conduziu esses experimentos, tratando o tema com uma característica muito presente no Brasil, o deboche.

Todavia o representante da federação de apicultura do estado de São Paulo, Alcindo Alves, criticou com muita enfase a audiência. Alcindo comenta que sendo o mel brasileiro um produto que poderá ser contaminado indiretamente pelo eucalipto transgênico, os agentes fiscalizadores do mercado externo certamente vão impor barreiras comerciais caso seja detectado polen modificado. 

Além de ser necessário no Brasil informar na rotulagem a leta "T" pela possível contaminação o que causaria um enorme prejuízo aos apicultores de todo o Brasil. As abelhas percorrem de 6 até 10 km. Outro ponto acerca das abelhas é que não foi possível prever impactos concretos na sua saúde pois existem diversas espécies nativas que não foram avaliadas.

A reflexão então seguiu no sentido de correr vários riscos de contaminação não somente da biodiversidade e do mel mas um possível efeito colateral que impacte na saúde das abelhas pela inserção de duas proteínas na árvore. O prejuízo que o setor apícola poderia sofrer é incalculável.

É preciso mobilizar-se sobre o tema e expandir o debate para não incorrermos em decisões precipitadas. Foram solicitados mais experimentos além dos 19 que faltam ser concluídos pela empresa atualmente, principalmente relacionados ao consumo animal do mel produzido com polen de árvores transgênicas.

O Ministério da Agricultura posicionou-se de forma imparcial, reforçando que a decisão depende do resultado do processo da CTNBIO. Já o Ministério do Meio Ambiente reforçou a preocupação com a falta de dados e pesquisas alertando a necessidade de tratar a questão com mais cautela. O Ministério da Ciência e Tecnologia representado pela EMBRAPA fez a defesa da tecnologia e da liberação defendendo o processo de pesquisa e liberação, mesmo este sendo severamente criticado pelos demais representantes do governo e pesquisadores. 

Ao fim o GreenPeace questionou o setor florestal / Futuragene perguntando se havia sido realizado algum experimento onde estivesse dados/fatos que comprovem que se aumentado a produtividade da árvore pelo processo de transgencia, poderia ter um aumento no consumo de água. A resposta foi de que nenhum estudo nesse sentido foi realizado.

Outro ponto importante do debate foi a respeito das certificadoras que atualmente não permitem o uso de árvores transgênicas. O setor florestal posicionou-se de forma tranquila, comentando que estava articulando o processo de alteração de conceitos e diretrizes de suas fornecedoras.

A FSC - The Forest Stewardship Council é uma das principais certificadoras do setor e corre o risco de tornar-se conivente desse processo caso venha a ceder a pressão dos industriais. É com esse intuito que o Gondola Segura alerta a todos os consumidores que preparem-se para o boicote caso essa liberação venha acontecer assim como todos os cidadãos devem pressionar o governo para que sejam acatadas as críticas dos pesquisadores sobre o tal processo de pesquisa que conclui-se incompleto e incapaz de prever e ou reparar danos a saúde de animais bem como de contaminação da biodiversidade neste momento.

O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE O EUCALIPTO TRANSGÊNICO!

Prof. Paulo Kageyama - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) USP
Dr. João Dagoberto dos Santo - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) USP

A Futuragene/Suzano quer fazer do Brasil o único país do mundo a liberar essa tecnologia. Mas a própria empresa reconhece que não avaliou os efeitos da modificação genética que faz a planta aumentar a produção de madeira [2]. Além disso, afirma que faltou tempo para estudar seu impacto sobre as abelhas e sobre a produção do mel [3].

As abelhas são os principais polinizadores dos eucaliptos e o mel é produto de elevado valor medicinal e nutricional. A empresa reconhece que as abelhas voam distâncias superiores a 6 km e que outras plantações podem ser contaminadas [4], mas alega que isso não é um problema pois os plantios hoje são feitos a partir de clones e não de mudas produzidas a partir de sementes. Acontece que só em 2013 o Instituto de Pesquisas Florestais comercializou 525 kg de sementes de eucaliptos [5], que seriam suficientes para plantar mais de 10.000 ha.

A empresa também deixou de avaliar os aspectos nutricionais do mel produzido por abelhas que visitaram as árvores transgênicas e não realizou nenhum experimento sobre sua toxicidade e alergenicidade [6]. Assim, não se pode dizer se é ou não seguro consumir esse mel.

O que acontecerá com os apiários e produção de mel? E a produção orgânica de mel, própolis, pólen e geleia real?

Certificados socioambientais como o FSC não aceitam a produção de árvores transgênicas [7].

A empresa diz que esse eucalipto transgênico é mais produtivo e assim não será necessário avançar sobre áreas nativas. Já o setor da silvicultura projeta expansão de 50% até 2020, chegando a 9 milhões de hectares [8].

Hoje não há estudos disponíveis para se avaliar os potenciais impactos do eucalipto transgênico. Sem essas informações não se pode tomar uma decisão confiável sobre liberá-lo ou não. É isso o que diz o Princípio da Precaução, que está no artigo 1º da lei de biossegurança (Lei 11.105, de 24 de março de 2005).

Retorna à página anterior