Artigo

AVALIAÇÃO POPULACIONAL DE COLMEIAS UTILIZADAS EM SERVIÇOS DE POLINIZAÇÃO DIRIGIDA EM POMARES DE MACIEIRAS NO MUNICIPIO DE BOM RETIRO - SANTA CATARINA.

James Arruda Salomé1 Afonso Inácio Orth2.

1Doutorando em Recursos Genéticos Vegetais - Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. E-mail: jamesarruda2002@hotmail.com
2Professor Doutor no Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais - Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.

Introdução

Com uma área territorial de 8.456,510km² de terras, o Brasil possui diversos tipos de clima e de solo que permitem o cultivo de frutas tropicais, subtropicais e temperadas, constituindo-se em um dos maiores produtores mundiais de frutas. Entre os anos de 2004 e 2005, o Brasil produziu 34 milhões de toneladas de frutas, volume esse superado apenas pela China e Índia. A base agrícola da cadeia produtiva das frutas abrange 2,2 milhões de hectares, gerando 4 milhões de empregos diretos e um PIB agrícola de US$ 11 bilhões (IBRAF, 2005). Entre as frutas de clima temperado, destaca-se a maçã, produzida principalmente no Sul do País (FERNANDES, 2007).

Para atender a crescente demanda por frutas de clima temperado, principalmente maçãs, é necessário melhorar a qualidade e produtividade, obtendo-se uma boa frutificação, que depende de polinização satisfatória e consequente fertilização das flores (ANTUNES, 2008).

A importância das abelhas como agentes polinizadores é de alta relevância e corroborada por números bastante expressivos: estima-se que aproximadamente 73% das espécies vegetais cultivadas no mundo sejam polinizadas por alguma espécie de abelha. Um exemplo de um caso de dependência obrigatória é a polinização da macieira. De acordo com Losey & Vaughan (2006), esta cultura é 100% dependente das abelhas.

O número ideal de colmeias usadas por hectare no sistema atual de produção das principais frutíferas de clima temperado no Brasil é amplamente discutível. Nos sistemas de condução em alta densidade (2.500 plantas/ha-1 ou mais), o número de flores por área é muito maior em comparação ao tipo de condução utilizado no passado, necessitando de uma maior quantidade de abelhas para realizar a polinização.

Uma colmeia para estar apta a polinizar pomares de frutas deve apresentar em seu ninho, no mínimo seis favos cobertos com crias em diferentes estágios de desenvolvimento e a presença de alimentos (AMBROSE, 1990).

Sagili & Burgett (2011) realizando experimentos com diferentes tamanhos de colmeias em pomares de frutas, observaram que as colmeias utilizadas para a prestação de serviços na polinização dirigida devem ter, no mínimo, seis favos com crias em diferentes estágios de desenvolvimento, principalmente crias abertas, que influenciará as abelhas adultas, em idade de abelhas coletoras, em forragear na busca de pólen.

A mesma observação foi feita por Spivak (2005), que recomenda que as colmeias para a polinização apresentem na câmara de cria de dez favos, pelo menos seis deles compostos por crias, sendo que crias abertas são desejáveis para proporcionar estímulo entre as abelhas adultas coletoras no forrageio por pólen.

Abrol (2012) recomenda que colmeias utilizadas na polinização devam conter pelo menos sete favos com 60% da área dos favos ocupados por crias, sendo que as crias em idade de ovos e de larvas jovens deverão ser em torno de 25%.

Delaplane et al. (2013) sugerem que colmeias para a polinização deverão ser preparadas para entrarem nos pomares com seis a oito favos cobertos com abelhas, em que pelo menos cinco destes, sejam ocupados com crias em diferentes idades.

Delaney & Tarpy (2008) sugerem que as colmeias levadas aos pomares deverão ter entre seis e oito favos crias em diferentes estágios, e estarem cobertos por abelhas adultas.

Material e métodos

Foram realizadas inspeções nas câmaras de cria de 12 colmeias utilizadas para a polinização dirigida, no dia 03/10/2012, em pomar comercial de macieiras das cultivares Fuji Suprema e Galaxy na Fazenda Santa Clara, no município de Bom Retiro, integrante da microrregião de Lages, no Estado de Santa Catarina.

O pomar está localizado nas coordenadas 27°49'16.90"S e 49°34'18.95"O, com 875m de altitude, e pertence à empresa Pomesul. Possui 13,86 hectares de macieiras em produção, implantados no ano de 2007, com 11.757 plantas em 6,75 hectares da cultivar Galaxy, e 10.715 plantas da cultivar Fuji Suprema em 7,11 hectares, com densidade de 1.621 plantas/ ha-1.

A distribuição das plantas no pomar obedece a sequências de duas fileiras alternadas de cada uma das cultivares, com espaçamento de 4,5m x 1,5m (cv. Fuji Suprema), e de 4,5m x 1,3m (cv. Galaxy), em que as plantas se apresentam sobre porta-enxertos 'M-9' e 'Marubakaido'.

As colmeias foram utilizadas em serviços de polinização dirigida em três áreas do pomar, dividas em quadrantes de 04 hectares cada, de acordo com os seguintes tratamentos (DAG & STERN, 2001, STERN et al., 2005, e SAPIR et al., 2007):

Tratamento 1 - T1. Controle (C), com a introdução de 03 colmeias/ha-1, em 25/09/2012 distribuídas com 15% da floração aberta, de acordo com os atuais modelos utilizados pelos pomicultores, totalizando 12 colmeias.

Tratamento 2 - T2. Introdução Sequencial (IS), com a distribuição de 1,5 colmeias/ha-1 em 25/09/2012 com 15% da floração aberta, e a introdução de 1,5 colmeias/ha-1 em 02/10/2012 com plena floração, totalizando 12 colmeias.

Tratamento 3 - T3. Dupla Densidade com Introdução Sequencial (DD + IS). Distribuição de 03 colmeias/ha-1 em 25/09/2012 com 15% da floração aberta, e a introdução de 03 colmeias/ha-1 em 02/10/2012 com plena floração, totalizando 24 colmeias.

Na área T1 foram inspecionadas três colmeias, na área T2 foram inspecionadas três colmeias e na área T3, seis colmeias foram avaliadas, durante a floração do pomar, para realização dos seguintes procedimentos:

a)Avaliação de cria aberta em estágios de ovos e larvas nas células dos favos;

b)Avaliação de cria fechada, em estágio de pré-pupas e de pupas nas células dos favos;

c)Avaliação de alimento (mel e pólen) depositado nas células dos favos.

As avaliações foram realizadas por contagem do número de favos para cada um dos elementos durante as inspeções.

Os dados foram analisados por ANOVA, e as médias comparadas pelo teste de Duncan.

Resultados e Discussão

Entre as doze colmeias avaliadas, todos os dez favos que compõem a câmara de cria da colmeia padrão modelo americano estavam ocupados com alimento e/ou crias em diferentes estágios de desenvolvimento, e cobertos com abelhas adultas.

As colmeias do T2 apresentavam maior número de favos (3,75 favos/colmeia-1) ocupados com crias fechadas (operculadas), representada por pré-pupas e por pupas. Em T1 a média de favos com crias fechadas foi de 2,5 favos/colmeia-1, e em T3 foi de 3,5 favos/colmeia-1.

Favos com crias abertas, representando a ocorrência de ovos e de larvas foram observados com maior frequência entre as três colmeias do T1 (3,75 favos/colmeia-1). Em T2, a média de favos com crias abertas entre as três colmeias foi de 2,75 favos/colmeia-1, enquanto que em T3, a média de favos entre seis colmeias que apresentavam cria aberta foi de 3 favos/colmeia-1.

As doze colmeias avaliadas possuíam reservas de alimentos em quantidade satisfatória, representados principalmente por mel e pólen, sendo as colmeias do T1 com as maiores reservas de alimentos com 3,75 favos/colmeia-1, e de 3,5 favos/colmeia-1 nas colmeias dos tratamentos T2 e T3.

Entre as doze colmeias avaliadas para os três fatores não ocorreu diferença significativa nos três tratamentos, ou seja, as médias do número de favos para cada um dos fatores avaliados eram semelhantes. Mesmo as colmeias que foram introduzidas sequencialmente (02/10/2012) em T2 e em T3, após a primeira introdução no dia 25/09/2012, apresentavam semelhança de população de abelhas adultas, como também para os três fatores avaliados (crias abertas, crias fechadas, e reservas de alimentos).

Em Bom Retiro, as doze colmeias avaliadas apresentaram crias em diferentes estágios de desenvolvimento em 6,25 favos/colmeia-1 em T1, 6,5 favos/colmeia-1em T2, e de 6,5 favos/colmeia-1 em T3. Esses dados encontram-se dentro dos critérios mínimos estabelecidos para a utilização dessas colmeias como unidades para a polinização.

A população de abelhas adultas de colmeias para a realização de serviços de polinização devem ter pelo menos 20.000 abelhas adultas (AMBROSE, 1990). Uma orientação é que uma colmeia de 20.000 ou mais abelhas adultas devem ter pelo menos 75 abelhas que deixam a entrada da colmeia por minuto, em um dia com temperatura amena, e dia ensolarado. Porém esse método pode incorrer em erros, já que a saída de abelhas das colmeias para forragear é dependente de diferentes fatores ambientais, inclusive dos volumes de secreção de néctar nas flores.

Figura 1. Colmeias polinizadoras em área de pomar de macieiras na Fazenda
Santa Clara, em Bom Retiro/SC, em 2012. Foto: do autor.

Em Bom Retiro durante as avaliações sobre visitação das abelhas às flores do pomar, foram observadas como média entre seis colmeias instaladas em um 'bin' no T3 até 78 abelhas/minuto-1, no dia 02/10/2012, às 14:00 horas, e com temperatura ambiental de 26°C.

Outra forma de avaliar a quantidade de abelhas adultas nas colmeias que polinizarão cultivos é a avaliação do número de favos cobertos com abelhas. De acordo com Burgett (1993) e Sagili & Burgett (2011), um favo tipo 'Hoffman' coberto com abelhas possui cerca de 2.400 abelhas adultas aderentes.

As colmeias avaliadas em Bom Retiro apresentavam as câmaras de cria com dez favos cobertos com abelhas, que de acordo com Burgett (1993) e Sagili & Burgett (2011) possuiriam cerca de 24.000 abelhas adultas.

As colmeias de observação, que foram introduzidas incialmente no dia 25/09/2012 no T1 (3 colmeias/ha-1), em T2 (1,5 colmeias/ ha-1), e em T3 (3 colmeias/ha-1) possuíam além da câmara de cria, composta por dez favos tipo Hoffman, melgueiras com oito favos de cera, com alvéolos vazios e prontos para armazenamento de mel.

A adição de favos vazios às colmeias cria um incentivo à coleta de néctar entre a população de abelhas coletoras. Favos vazios e o volume de cria nas colmeias podem influenciar o sistema de distribuição entre a população de abelhas coletoras sobre o tipo de material a ser coletado (néctar, pólen, ou ambos) nas flores (RINDERER, & HAGSTAD, 1984). Essa mesma constatação é conhecida por Spivak (2005).

Por outro lado, o volume de mel armazenado nos favos parece não influenciar o tipo de material alimentício a ser coletado pelas abelhas coletoras nas flores. A regulação em curto prazo do consumo de energia da colmeia, aparentemente não está baseada na função do mel já armazenado, sendo que a diminuição das reservas de mel armazenado não ocasiona respostas imediatas das abelhas coletoras em ampliar a coleta de néctar (FEWELL & WINSTONB, 1995).

Referencias Bibliográficas

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AMBROSE, J. T. Apple pollination. In: N.C. Apple Production Manual. North Carolina Agriculture Extension Service, AG-415. 6 p. 1990.

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FERNANDES, M. S. Exportação de frutas e derivados: a importância da logística e do transporte. São Paulo: IBRAF, 2007.

FEWELL, J. H. & WINSTONB, M. L. Regulation of nectar collection in relation to honey storage levels by honey bees, Apis mellifera. Behavioral Ecology. Vol. 7 No. 3: 286-29. 1995.

INSTITUTO BRASILEIRO DE FRUTAS - IBRAF. Comparativo das exportações brasileiras de frutas frescas. Fev. 2004/2005. Disponível em: http://www.ibraf.org.br/x-es/pdf/t-esta_CEBFFfev20042005.pdf. Acesso em: 13 mar. 2013.

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SAGILI, R. R. & BURGETT, D. M. Evaluating honey bee colonies for pollination. A guide for commercial growers and beekeepers. Pacific Northwest Extension Publication. Oregon. PNW 623. 8 p. 2011.

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SPIVAK, M. Apple pollination.  Minnesota Fruit and Vegetable Growers Association. V. 2, n° 4, pg 12. 2005.

Agradecimentos a CAPES pela oportunidade de realização do trabalho.

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