Artigo

Prevenção de acidentes e uso do material silvestre em programas de melhoramento genético de Apis mellifera

Soares, A.E.E,1
1 Departamento de Genética, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Av. Bndeirantes, 3900, Bairro Monte Alegre, 14.049-900 Ribeirão Preto, SP. Tel. 16-3602-3155. e-mail aesoares@fmrp.usp.br

Resumo

O Brasil é o maior produtor de açúcar e álcool do mundo, apresentando uma área plantada de cana de aproximadamente 6 milhões de ha. A produção de álcool está inserida em uma matriz energética importante, e é responsável pela produção de 25 bilhões de litros dentre os 40 bilhões produzidos no mundo todo. Entretanto, na contramão do desenvolvimento energético, está a redução significativa de áreas agriculturáveis com a formação de imensos "desertos verdes", que associado ao uso de inseticidas, agrotóxicos e estimuladores de crescimento, tem comprometido e deslocado grande parte da entomofauna. Dentro deste contexto, associado às condições de manejo, disponibilidade de nidificação, alimentação e muitas vezes com o uso de fogo no processo de colheita, as abelhas notadamente as africanizadas, migram dessas áreas em buscas de locais favoráveis para a sua sobrevivência. Desta forma elas aportam nas cidades podendo provocar acidentes, como também se devidamente capturadas e controladas podem contribuir para a expansão da apicultura e produção de alimento. Palavras-chave: álcool, açúcar, acidentes, prevenção, abelhas africanizadas.

Introdução

Em 14 de novembro de 1975, foi criado no Brasil, através do decreto no 76.593 o Programa Nacional do Álcool (Pró-álcool) visando a substituição em larga escala dos derivados do petróleo e a diminuição da dependência externa sobretudo durante os conflitos internacionais e pelas oscilações dos preços freqüentemente impostos. Investiu-se na tecnologia de adequação de motores para a indústria automotiva e durante o período de 1975-2000 foram produzidos cerca de 5,6 milhões de veículos que usavam como combustível o álcool hidratado. Além disso, passou-se a adicionar a gasolina, um volume de álcool anidro que variava de 1,1% a 25%, para atender uma frota circulante de mais de 10 milhões de veículos. Os reflexos desse programa foram sentidos, sobretudo com a redução de 110 milhões de toneladas de carbono, contidos no CO2 e na importação de 550 milhões de barris de petróleo, proporcionando uma economia de divisas da ordem de 11,5 bilhões de dólares. Os rumos da política energética variaram muito nos últimos anos em função dos preços internacionais, pelo desenvolvimento de tecnologias de exploração de petróleo em águas profundas e pela descoberta de novas bacias petrolíferas notadamente nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo. Entretanto, se vivencia nos dias atuais uma nova expansão dos canaviais com o objetivo de oferecer, em grande escala, o combustível alternativo, que possa produzir menos dano ao desgastado meio ambiente, com a redução de gases e do efeito estufa. A tecnologia de motores flex fuel foi introduzida no País em março de 2003 e veio dar novo alento ao consumo interno do álcool, permitindo o uso de gasolina, álcool ou uma mistura dos dois como combustíveis alternativos. Atualmente esta opção é encontrada em quase todos os modelos produzidos e os automóveis bicombustíveis ultrapassaram pela primeira vez os movidos a gasolina. A indústria automotiva hoje vende 49,5% de automóveis bicombustíveis, contra 43,3% para modelos exclusivos a gasolina.

Impasse

Diante dessa matriz energética, associada às motivações ambientais, por redução de gases poluentes e por uma melhor qualidade de vida, a expansão dos canaviais vai se avolumando, atingindo hoje 6 milhões de ha e com uma produção de álcool líder no mundo de 25 bilhões de litros produzidos. Na contramão desse modelo, constatam-se as reduções de grandes áreas agriculturáveis e de florestas nativas, muitas vezes com o descumprimento das leis. A expansão dos chamados desertos verdes, com a utilização de controladores químicos de pragas e de ervas daninhas e pela utilização do fogo no corte da cana tem contribuído para a redução e deslocamento de uma entomofauna importante. Assim, as abelhas africanizadas pela redução inerente de matas disponíveis, pela redução de plantas produtoras pólen, pelas disponibilidades reduzidas de locais de nidificação e pela presença quase sempre constante do fogo, buscam alternativas de sobrevivência e normalmente encontram nas cidades próximas condições adequadas para tal. Porém essa ocupação pode gerar impasses sociais com o aumento de acidentes e de pessoas vitimadas por picadas de abelhas e conflitos públicos na remoção dos enxames em áreas urbanizadas. Impasse criado. O que pode ser feito?

Processo de Africanização

As abelhas africanas (A. m. scutellata), foram introduzidas no Brasil, pelo Dr. Warwick Estevam Kerr, em 1956, trazidas da África do Sul e Tanganica [1]. São abelhas ligeiramente menores, que as demais subespécies que já estavam por aqui. Possuem um ciclo de desenvolvimento mais curto, maior agressividade e maior freqüência de enxameção e a abandono do ninho. Constroem ninhos tanto em cavidades como em áreas abertas. As operárias apresentam uma maior atividade de coleta, trabalhando mais horas por dia e as rainhas chegam a botar até 2.000 ovos/dia e não interrompem a postura durante o inverno. Podem formar colônias com mais de 50.000 abelhas.

Foram introduzidas no estado de São Paulo, em Camaquã, na região de Rio Claro, com o intuito de se executar um programa de melhoramento genético que fosse capaz de aumentar a produção de mel do país, associado a uma baixa agressividade. Entretanto, por acidente, de um apiário onde 47 rainhas africanas estavam sob controle, ocorreu a enxameação de 33 colméias. Isto levou ao início de um processo de cruzamentos naturais com as diferentes subespécies de origem européia que haviam sido trazidas pelos imigrantes, propiciando a formação de um híbrido, que foi chamado de abelha africanizada [2,3,4,5].

O grau de africanização é variável em todo o país, mas de uma maneira geral devido as trocas continuas de material genético com populações de abelhas européias da Argentina e Uruguai, as abelhas dos estados mais ao sul, são menos africanizadas [6,7,8]. Essa abelha africanizada embora muito produtiva causou um impacto muito grande no início de sua dispersão, devido ao alto grau de defensividade que elas apresentavam e as próprias deficiências dos apicultores e da população em geral que não sabiam como trabalhar e conviver com elas [9].

Houve abandono da atividade apícola, morte de pessoas, animais e a produção de mel, que já era baixa, praticamente zerou.

Alguns aspectos do comportamento defensivo

As abelhas africanizadas se irritam com cores escuras, cheiros estranhos e, sobretudo, com vibrações provocadas no substrato onde elas construíram os seus ninhos naturais ou colméias racionais.

Ao ser estimulada para o ataque a abelha atinge o invasor deixando no seu corpo todo ao aparato ferroador, que tem autonomia para se movimentar e injetar o veneno.

A liberação do feromônio de alarme (isopentil acetato), durante o ataque, faz com que outras abelhas sejam atraídas para ferroarem próximos da região atingida anteriormente.

A abelha que ferrou, tem parte dos segmentos abdominais e intestino rompidos e morre depois de algumas horas (3-4 h). Entretanto, após a ferroada, a abelha continua voando ao redor da vítima e de vez em quando toca com a mandíbula deixando pontos de 2-heptanona, que funcionam como alvos secundários de ataque. Desta forma o ataque é direcionado aos pontos próximos das ferroadas e aos pontos de 2-heptanona. Assim, a intensidade do ataque é crescente e ininterrupto.

O comportamento defensivo é condicionado geneticamente e a sua intensidade por ser quantificada por testes especiais [10,11,12].

As abelhas, após 15 a 20 segundos do início do ataque a um inimigo localizado na frente da colméia, tornam-se muito bravas e saem em grande quantidade (mais de 200) do interior da colméia voando para todos os lados e ferroando todos os animais que encontram pela frente [13]. Ficam tão irritadas que se chocam violentamente com qualquer obstáculo (carros, árvores, paredes) que surgir a frente de seus vôos [14,]. A intensidade do ataque é muito rápida, podendo atingir de 800 a 1000 ferroadas em menos de 2 min. Durante o ataque as abelhas podem perseguir um inimigo por mais de 700 m. Uma colméia enfurecida demora de em média 25-30 min a para se acalmar [15,16]

Um novo cenário após o impacto da africanização

Com o passar do tempo, os apicultores se conscientizaram que essas abelhas poderiam ser controladas e exploradas com êxito, se houvesse uma adequação e uma total reformulação de técnicas e conceitos válidos para as abelhas européias, mas que eram desastrosos para a abelha africanizada.

Baseando-se em suas próprias experiências e nas informações geradas pelos centros de pesquisas, os apicultores conseguiram assimilar as novas técnicas e passaram novamente a acreditar que seria possível uma apicultura eficiente com abelhas africanizadas.

A apicultura voltou a tomar impulso fazendo com que nos anos 80 tivéssemos a chamada "explosão doce" no país, quando o Brasil passou de 27º para o 7º produtor mundial de mel, ocupando hoje um lugar de destaque no cenário internacional com uma produção de aproximadamente 40.000 ton/ano.

Muito bem adaptada às condições tropicais, essa abelha africanizada apresenta basicamente dois modelos de dispersão que têm favorecido a sua sobrevivência e a expansão no continente americano.

Migrando a uma velocidade de 400-500 km por ano, atingiu o Texas (USA) em outubro de 1990. Dentro dos Estados Unidos a abelha africanizada migrou mais rapidamente para a costa oeste chegando ao sul da Califórnia, e recentemente atingiu a Florida na costa leste, contudo, a sua expansão deverá ficar restrita ao paralelo 30º N, o que analogamente se evidencia na América do Sul.

Quando as condições de fluxo de alimento são ótimas, com abundância de flores abertas na natureza, produzindo néctar e pólen, as abelhas africanizadas trabalham incessantemente. Expandem sua população que, em alguns casos, chega a 120 mil abelhas e podem produzir uma divisão natural da colônia pelo processo de enxameação. Neste processo ocorre a formação de uma nova rainha e a metade das abelhas da colônia sai com a rainha velha à procura de um local adequado de nidificação para estabelecer a sua nova moradia.

Quando o fluxo de alimento diminui, para não morrerem de fome e não ter extinta a sua colônia, as abelhas abandonam a colméia e vão em busca de um outro local que apresente condições favoráveis a sua sobrevivência.

A expansão das áreas canavieiras, particularmente no estado de São Paulo, onde se concentram mais de 100 indústrias sucro-alcooleiras e que respondem por mais de 60% da produção nacional, reduzindo as áreas de nidificação e de oferta de alimento, faz com que as abelhas migrem para as áreas urbanizadas aumentando os riscos de acidentes [17,18]. Levantamentos feitos junto ao Corpo de Bombeiros e dados coletados pela USP/RP têm mostrado que o número de enxames que entra na cidade de Ribeirão Preto, SP varia de 800-1000 enxames/ano.

Esses comportamentos de enxameação e abandono, embora sejam altamente adaptativos para a sobrevivência das abelhas, podem contribuir para o aumento significativo do número de acidentes com animais e pessoas. Ao escolherem o seu novo local de nidificação, como por exemplo: tubulações, caixas de madeira ou de papelão, cavidades em postes, paredes, árvores, latas velhas, pneus, cupinzeiros, arbustos, tambores, etc, as abelhas podem se posicionar de maneira a provocar acidentes fatais.

Esses acidentes podem ser produzidos inadvertidamente quando capinamos um gramado, cortamos um arbusto, aramos um terreno, batemos no local do enxame ou nele provocamos uma vibração sonora, ou de uma forma irresponsável quando atiramos pedras, paus nas colméias ou simplesmente quando tentamos mexer com as abelhas sem os devidos conhecimentos e sem os equipamentos se segurança e proteção.

Estes dois mecanismos que contribuem para a dispersão das abelhas e sua localização na natureza apresentam em comum um aspecto fundamental, que é a escolha pelas batedoras do local definitivo de moradia. A escolha do local aonde o enxame vai se instalar envolve inicialmente o reconhecimento dos sítios pelas batedoras, comunicação pela dança e a liberação de feromônios, notadamente da glândula de Nassanof das operárias, que sinalizam o local onde se dará a agregação e início da nova colméia.

Caixa-isca: uma estratégia efetiva de prevenção de acidentes

A compreensão e a elucidação de quais variáveis poderiam estar influenciando neste comportamento decisório, poderia resultar em uma "caixa-isca" que fosse altamente atrativa para as abelhas e que fosse extremamente prática para a monitoração e retirada dos enxames das regiões passíveis de acidentes.

O Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP conseguiu tal intento desenvolvendo uma caixa-isca confeccionada de papelão, que deve ser pintada com a cor branca; ter um volume de aproximadamente 35 L; conter no seu interior 5 caixilhos, com 1/3 de cera alveolada e ter um análogo do feromônio da glândula de Nassanof, extraído do capim limão ou capim erva cidreira (Cymbopogon citratus), que é colocado (0,5 mL) em um tubo Eppendorf e preso ao arame do caixilho central, próximo a entrada. A caixa deve ter uma abertura de 10 cm2, e dever ser colocada a uma altura de 2,0 m do solo [19].

Testes comparativos revelaram que a caixa papelão é pelo menos 10 vezes mais atrativa que aquelas caixas iscas construídas com madeira. A sua durabilidade pode ser aumentada revestindo-as com sacos plásticos ou pintando com tintas impermeabilizantes. Essa caixa isca, não serve para criar abelhas. É uma caixa que se presta simplesmente para a captura dos enxames e não para se fazer apicultura. Embora a caixa de papelão resista até 2 meses com o enxame dentro, eles devem ser passados logo para a colméia Langstroth padrão para se desenvolverem. A transferência do enxame deve ser feita de preferência depois que a rainha realizou postura nos favos e que já tenha larvas jovens. Não convém passar o enxame recém pego porque ele poderá abandonar a sua colméia [20]. A eficiência dessa caixa isca, já foi determinada em várias situações experimentais, e hoje temos a total certeza de que se durante a enxameação ela for encontrada por uma "batedora" que esta procurando um local para o enxame se abrigar, seguramente que o enxame irá para dentro da caixa isca.

Isto abriu a grande possibilidade de prevenir e controlar acidentes em áreas urbanizadas, o que já foi feito em várias cidades brasileiras, pela implantação de programas SOS-Apicultor. [20]. Esse modelo de caixa isca, foi utilizado nos países Centro-Americano na década de 80, para prevenir acidentes e retardar a invasão das abelhas africanizadas no México e nos USA dentro do "Programa de Manejo y Control de la Abeja Africanizada", financiado pelo BID/OIRSA do qual participaram vários pesquisadores brasileiros. O México que é um dos maiores exportadores de mel, antevendo o que poderia significar a entrada das abelhas africanizadas em seu país, utilizou o modelo brasileiro e instalou aproximadamente 300.000 caixas-iscas nas rotas de entrada com a Guatemala e até hoje mantém um esquema na própria cidade do México de prevenção de acidentes, utilizando ao redor 30.000 caixas .

Problema real

Embora as caixas iscas sejam altamente atrativas para capturar os enxames que estão procurando um local definitivo de moradia, elas não se prestam para remover os enxames já instalados.

Assim, os enxames já alojados em uma área urbanizada, que se constituem numa ameaça constante de acidentes, necessitam ser removidos de uma forma eficiente e segura. Porém, quando se olha para este contexto, constatamos, que os apicultores não tem interesse direto na remoção, pois é uma atividade que envolve muitas vezes, risco, demora na execução da tarefa e sobretudo não compensatória do ponto de vista financeiro. Normalmente as pessoas envolvidas não querem pagar pelo serviço executado, alegando que o apicultor poderá ficar com o mel.

Além destes impasses, existe uma agravante com relação à segurança das pessoas e animais, visto que ao se trabalhar em área urbanizada, as abelhas poderão atacar pessoas e/ou animais, colocando em uma situação complicada o operador. Imagine que ao retirar um enxame, as abelhas se alvorocem, façam um ataque em pessoas e eventualmente ocorra uma acidente fatal. O responsável por esta vítima é o operador... um que irá ser enquadrado na legislação criminal como "crime doloso."

Assim, a remoção dos enxames em áreas urbanizadas passa a ser uma atividade a ser exercida pelo poder público notadamente o Corpo de Bombeiros.

Na cidade de Ribeirão Preto, SP, com uma população de aproximadamente 550 mil habitantes, a Promotoria do Meio Ambiente, diante dos inúmeros casos de ocorrência de enxames em áreas urbanizadas, tentou com o auxílio do Corpo de Bombeiros, Prefeitura Municipal, Universidade de São Paulo e apicultores, encontrarem alternativas para minimizar os acidentes.

Através da Portaria 004 de 13 de abril de 2009. Diário Oficial do Município de Ribeirão Preto, Ano, 37; número 8.244, foi estabelecido um Grupo de Trabalho para elaborar projeto de: Prevenção de acidentes e captura das abelhas africanizadas.

O grupo de trabalho constituído detectou que:

- Os Apicultores não têm interesse nessa atividade, pois não são remunerados; perdem horas de trabalho, existem riscos de acidentes ao se operar em alturas e não querem assumir os danos que eventualmente possam ocorrer á terceiros.

- Os Bombeiros por sua fez, fazem os extermínios eventuais usando "lança chamas" em situações emergenciais. Não são suficientemente treinados para fazerem remoções de enxames, que muitas vezes são demoradas. Entendem que não é prioridade da corporação este tipo de atendimento.

Existem agravantes, pelo fato de terem poucos veículos e não poderem disponibilizá-los em atividades não essenciais. Embora tenham equipamentos de segurança para o trabalho apícola, pela alta rotatividade dos membros de plantão, nem sempre existem pessoas capacitadas para executar o serviço. O deslocamento de veículos com escadas e com caçambas, para se operar em lugares altos, não pode ser autorizado para esta função, visto que ela é essencial em outros atendimentos emergenciais.

- A Prefeitura Municipal, através da Secretaria do Meio Ambiente, não dispõem de veículos adequados e embora conte com um profissional para executar essa atividade, entende que o número de enxames a ser removido é muito alto, e não tem alternativas para a sua utilização.

Uma das alternativas era o estabelecimento de apiários, que pudessem produzir mel para entrar na merenda escolar, se tornou inviável pelo fato de Ribeirão Preto, ser um "mar de canas" e que para se produzir mel de boa qualidade, os apiários necessitariam estar a pelo menos 200 km dessa região. A Prefeitura não tem mão de obra suficiente para operar apiários produtivos, que possam extrair e processar este mel par abastecer a merenda escolar.

- A Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, que desenvolve pesquisas com abelhas africanizadas há muito tempo tem competência para dar cursos de Capacitação e Prevenção de Acidentes para os Bombeiros e outras Entidades; domina as técnicas de instalação de caixas-iscas e uso de feromônios na atração dos enxames, mas não pode exercer a atividade de remoção de enxames em áreas urbanizadas por seus funcionários, visto que isto se caracteriza desvio de função. Além disto, não tem equipamentos de segurança e pessoal treinado para se trabalhar em alturas e em áreas de risco.

Ela controla os enxames no Campus da USP instalando e monitorando caixas iscas e eventualmente removendo enxames alojados em tarefas que possam ser executadas em finais de semana e sem risco para a população.

Ligado a Universidade de São Paulo, a Unidade de Emergência do HC Cidade, dispõe de um setor capacitado para entender ocorrências de risco com animais peçonhentos, incluindo aqui as cobras, escorpiões, aranhas, vespas e abelhas.

Busca de soluções

Diante dos diferentes impasses e dificuldades levantadas e da morosidade do Poder Público, na execução do projeto de instalação e monitoramento de caixas iscas, que poderiam em parte minimizar os problemas, a Universidade de São Paulo, desenvolveu um equipamento denominado Coletor Eficiente de Abelhas, que permite a retirada dos enxames em áreas urbanizadas e de risco com grande segurança.

Coletor Eficiente de Abelhas

Foi desenvolvido por Pedro Caetano, apicultor autônomo; Jairo de Souza, técnico do Departamento de Genética da FMRP-USP e Ademilson Espencer Egea Soares, docente do Departamento de Genética da FMRP-USP.

Este equipamento está sendo patenteado e já foi utilizado mais de 20 vezes na remoção de enxames em áreas de risco, com a captura total das abelhas, inclusive da rainha, utilizando técnicas de sucção. Visto que o enxame não é morto, ele pode ser passado facilmente para uma colméia racional e ser utilizado na apicultura convencional. Todos os enxames capturados com este equipamento, não geraram nenhum tipo de contratempo. Foram remoções rápidas e seguras.

Avaliação do material genético

Evidentemente que estes enxames capturados pelo Coletor Eficiente de Abelhas são utilizados em colméias racionais de produção e devidamente avaliados como possíveis fontes de material genético, para os programas de seleção e fornecimento de rainhas.

Distribuição de rainhas

Baseando-se no modelo desenvolvido pelo Depto. de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP, hoje existem empresas especializadas que produzem e enviam rainhas geneticamente selecionadas para os apicultores, pelo sistema SEDEX.

Referências Bibliográficas

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