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Quanto custa para a agricultura brasileira os serviços prestados pelos polinizadores?

Patrícia Maria Drumond
Bióloga, doutorado em Ciências, pós-doutorado, pesquisadora da Embrapa Acre, patricia.drumond@embrapa.br

A polinização realizada por animais é responsável por, aproximadamente, 35% dos alimentos consumidos mundialmente. Entre esses animais, destacam-se as abelhas, responsáveis por cerca de 80% da polinização dos cultivos comerciais. Nesse caso, tem-se mais de 20 mil espécies (só de abelhas), contribuindo, em maior ou menor grau, com a produção agrícola e a conservação da agrobiodiversidade em diferentes países.

Polinização é o processo pelo qual os grãos de pólen são transportados das flores masculinas para as flores femininas, por meio da ação de agentes bióticos (insetos, mamíferos e aves) ou abióticos (vento, chuva, entre outros). Embora não seja a única condição necessária, a polinização representa uma etapa importante no processo de formação de frutos de várias plantas. Além do incremento na quantidade produzida, a polinização contribui com a melhoria da qualidade dos frutos e promove um amadurecimento mais uniforme, maior vigor das plantas que germinam, aumento no número de sementes produzidas e no teor de óleos e outras substâncias extraídas de algumas espécies vegetais.

Estima-se que os serviços prestados pelos polinizadores nas áreas agrícolas valham cerca de 153 bilhões de euros por ano e que sua extinção possa reduzir em até 12% a produção de frutas consumidas no mundo. A valoração dos serviços prestados pelos polinizadores é, todavia, um assunto relativamente recente, que apresenta variações, dependendo da metodologia empregada. Em um estudo realizado nos Estados Unidos em 2005, por exemplo, calculou-se entre 0,21 milhão e 2,25 milhões de dólares por ano os serviços de polinização fornecidos pelas abelhas nativas nos cultivos de melancia em Nova Jersey e Pensilvânia. Já na Europa, estima-se em 100 bilhões de dólares a contribuição das abelhas do gênero Apis à agricultura local. Independente da metodologia utilizada, os valores encontram-se na casa dos milhões/bilhões de dólares, principalmente, quando se trata de commodities. Pouco, no entanto, se conhece sobre o valor dos serviços prestados pelos polinizadores naturais para a agricultura brasileira. Em um dos poucos estudos disponíveis, realizado em Viçosa, MG, em 2010, determinou-se o valor econômico anual do serviço de polinização das abelhas mamangavas em um plantio de um hectare do maracujá-amarelo. De acordo com esse estudo, os agricultores locais, de base familiar, teriam que gastar R$ 33.777,85 a mais por hectare com salários e encargos sociais para realizar a polinização manual, caso fossem impedidos de se beneficiar dos serviços prestados pelas mamangavas.

Apesar de sua importância, parece haver ainda no Brasil certa resistência em atribuir aos polinizadores os resultados positivos ou negativos da safra agrícola. O café, por exemplo, tem a sua produtividade relacionada, normalmente, à idade e variedade da planta, à densidade dos plantios e às condições climáticas. A estimativa da produção brasileira para a safra 2011 foi 9,6% menor que a safra anterior (48,09 milhões de sacas). Essa redução foi atribuída ao ciclo da cultura (ano de baixa bienalidade) e à irregularidade nas chuvas que prejudicaram as lavouras localizadas, sobretudo, nos estados de Minas Gerais, Bahia e Rondônia. Há, todavia, estudos feitos no Brasil, Costa Rica, Índia, Indonésia, Equador, Panamá e México confirmando a importância das abelhas na polinização e formação de frutos no café. De acordo com esses estudos, as visitas realizadas pelas abelhas podem dobrar o número de grãos de pólen depositados nas flores, aumentando em até 50% o número de frutos produzidos, principalmente, nos cultivos circundados por fragmentos florestais. Assim, considerando o papel desses insetos na polinização do café, vale a pena investigar o estado de conservação das populações de abelhas nas regiões cafeeiras brasileiras, em particular naquelas que se encontram sob altas taxas de desmatamento e uso indiscriminado de defensivos agrícolas.

É consenso que o avanço do desmatamento e o uso incorreto de defensivos promovem a diminuição dos recursos utilizados pelas abelhas para alimentação e construção dos ninhos, e, consequentemente, reduzem a diversidade e abundância desses insetos nas áreas agrícolas. Com isso, perdem-se flores que poderiam dar origem a novos frutos, reduzindo a produtividade de algumas culturas, o que pode causar um impacto negativo na renda dos produtores locais. Dependendo da escala de produção, os efeitos negativos podem ser percebidos dentro e fora da região afetada pela deficiência de polinizadores, por meio da elevação dos custos de produção e do aumento de preços de mercado, afetando, também, os consumidores finais.

A Embrapa Acre investiga, atualmente, diferentes estratégias de conservação, criação e manejo das abelhas nativas, potenciais polinizadoras da castanheira-do-brasil (Bertholletia excelsa). O desmatamento representa a principal ameaça às populações naturais de castanheira-do-brasil, espécie vulnerável à extinção, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Com isso, o seu plantio vem sendo estimulado, principalmente, como componente agroflorestal para programas de reflorestamento, a fim de reincorporar áreas degradadas ao processo produtivo.

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