Artigo

PANORAMA RECENTE DO CONSUMO E PREÇO DE MEL NO BRASIL

Adriano Soares Koshiyama - Graduando de Ciências Econômicas - ICHS\UFRRJ
Maria Cristina Affonso Lorenzon - Profa. Dra.do Dep. de Produção Animal - IZ\UFRRJ
Wagner de Souza Tassinari - Prof. Dr. do Dep. de Matemática - ICE\UFRRJ

Resumo:
Este artigo apresenta ao leitor um quadro recente do mercado consumidor de mel no Brasil. O enfoque do trabalho é no período de 2000 a 2009, abordando os fatores na ótica da demanda, como o nível de produção e consumo por habitante e os preços praticados interna e externamente. Conclui-se, apresentando o crescimento do preço no mercado brasileiro em detrimento ao externo, principalmente na região Sudeste, sendo isto uma boa oportunidade para os empresários apícolas brasileiros.

1. Introdução

Figura 1. Produção e consumo por habitante
de mel em kg. Fonte: IBGE (2010), IBGE (2011b)
e MDIC/SECEX (2011).

Atualmente, o Brasil tem experimentado vigorosa expansão econômica, aliado a preços estabilizados e uma estrutura governamental democrática. Entre 2000 e 2010, o PIB cresceu 40,35%, com uma taxa média de expansão de 3,67% ao ano (IBGE, 2010). Os preços nesse período cresceram 70,21% (IBGE, 2010a), e portanto, em torno de 30% acima do crescimento do PIB. Isso demonstra a nova face da economia brasileira, personificado por um mercado consumidor interno cada ano mais forte e determinante para o desenvolvimento do país.

Nessa tendência de aumento de preços, o segmento de alimentos e bebidas foi um dos que mais encareceram, com uma variação nesses anos de 79% (IBGE, 2010a). Alguns fatores, tais como o aumento progressivo do salário dos trabalhadores, a mobilidade social e a intensificação de políticas sociais de combate a pobreza (IBGE, 2009), são prováveis responsáveis pela expansão desse setor.

Este trabalho objetiva verificar se tal comportamento crescente dos preços acompanha o mel, produto mais comercializado e difundido da apicultura. Deseja-se revelar a conjuntura do consumo e a dinâmica de preços no Brasil, e assim, servir como um estímulo e ferramenta para os apicultores e empresários do segmento apícola nacional.

2. Metodologia

Os dados foram obtidos na pesquisa pecuária municipal, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011). Esta pesquisa compreendeu o período entre 2000 e 2009, onde foram extraídos dados da produção de mel em quilogramas, de diversas regiões brasileiras. Os dados de 2010 não foram usados, por não estarem disponíveis pelo IBGE. As análises estatísticas e os gráficos foram desenvolvidos no pacote estatístico R (R Development Core Team, 2011) e os mapas foram confeccionados com o uso do sistema de informação geográfica TerraView (INPE/DPI, 2009).

3. Resultados

Figura 2. Preço do mel em R$/Kg
nas regiões do Brasil em 2000 e 2009.
Fonte: IBGE (2010).

Até 2000, antes da abertura comercial para exportações de mel do Brasil, a produção de mel brasileira tinha o destino de atender plenamente o consumo interno. Na posterior abertura, a demanda internacional tornou-se um novo componente da demanda total de mel, e portanto, foram impulsionados novos patamares de produção e preço. A figura 1 apresenta a partir de 2000 a produção por habitante e o consumo aparente por habitante brasileiro do mel ofertado internamente.

Verifica-se que entre 2000 e 2001 o consumo interno exercia vigorosa participação (98%, em média) no que era produzido internamente aos habitantes (0,125 kg/hab.). Com a intensificação das exportações após 2002 essa parcela do consumo interno reduz-se, até 2004 ao atingir o patamar de 57% (0,075 kg/hab.) do que era produzido por habitante no mesmo período (0,142 kg/hab.). De 2005 a 2009, esta participação demonstra estacionariedade em torno dos 50% para o consumo interno (0,095 kg/hab.). Em 2010 essa tendência de predomínio gradativo para as exportações diminuem, dada a participação de 66% do consumidor brasileiro (0,168 kg/hab.) na demanda pelo total de mel produzido (0,265 kg/hab.).

Esse novo panorama de um mercado consumidor interno forte e exigente, foi se moldando ano após ano. A tabela 1, expõe os preços médios de mel que o empresário do ramo apícola recebia ao optar pela venda interna, ou exportar para outros países (nesse período foi predominante os EUA, Inglaterra e Alemanha). Na exportação, até 2010 o preço se valorizou cerca de 96% em comparação a 2000, com o auge em 2003 de 6,81 R$/Kg. No preço praticado internamente, a valorização acumulada em 2010 foi de 47%, com o auge no mesmo ano.

Recentemente a venda ao mercado interno tem sido relativamente mais segura e rentável, pois as exportações dependem de variáveis e fatores que são fora do controle do apicultor, como a taxa de câmbio, o preço relativo do mel em outros países, a dinâmica logística e de expansão econômica internacional. Isso torna o preço altamente volátil, logo, imprevisível para o apicultor.

A venda interna é mais favorável, pois o consumo por habitante tem crescido gradualmente, além do mercado estar praticando preços sempre crescentes e na maior parte do tempo superior ao internacional. Uma boa opção para o empresário é vender a maior parte da produção de mel para o mercado interno e relegar uma parcela menor ao externo, assim diversificará as vendas e diminuirá, consequentemente a incerteza do retorno.

Ao analisar o agregado brasileiro, fica imperceptível as dinâmicas de preço que ocorreram nas regiões do Brasil. Enquanto no agregado brasileiro o aumento do preço do mel em R$/Kg foi de 47% de 2000 a 2009 (figura 2), na região Sudeste o aumento nesse período foi correspondente a 84%, iniciando com 4,99 R$/Kg em 2000 para galgar 9,21 R$/Kg em 2009. Outra região com aumento considerável foi a Centro-Oeste, com incremento em torno de 66%. As demais regiões permaneceram com a elevação de preços similares ao agregado brasileiro, destoando somente a Norte, onde houve taxas de menores de expansão que a média nacional.

Esse aumento nas regiões é expressivo, mas é nominal. Observe que no mesmo período o IPCA de alimentos e bebidas foram de 69% (IBGE, 2010a). Logo, não houve aumento real de preços no Brasil, e sim uma contração de -22% no preço do mel no agregado brasileiro, tanto nas outras regiões similares, quanto na Centro-Oeste de -3%. O Sudeste foi a única com valoração real de 15%, refletindo o potencial consumidor dessa região.

A figura 3 apresenta os preços em R$/Kg por mesorregião no Brasil em 2000 e 2009. Como observado houve um aumento geral nos preços, porém com maior intensidade nominal e real no Sudeste. Os mercados que mais se expandiram nessa região foram os litorâneos, como os estados do Rio de Janeiro e parte do Espírito Santo, tanto que no estado do Rio de Janeiro o preço do mel em 2000 foi de 7,88 R$/Kg, enquanto que em 2009 valorizou-se para 14,63 R$/Kg, representando uma variação em torno de 86% no preço cobrado nominalmente e de 20% real.

4. Conclusão

Figura 3. Preço do mel em R$/kg
nas mesorregiões do Brasil nos anos de 2000 e 2009.
Fonte: IBGE (2010).

Verificou-se ao longo do trabalho, que o mercado consumidor de mel no Brasil tem se mostrado aquecido, gradual nos aumentos de demanda e constante ao pagar preços cada vez maiores anualmente. Em algumas regiões o preço do mel tem se expandido mais intensamente, como no Sudeste, apontando aquecimento do mercado consumidor local e por conseguinte, um viés de oportunidades de comercialização e lucratividade dos produtores interessados em atender as exigências dessa demanda, cada vez menos atenta a preços e mais alerta com a qualidade e sustentabilidade.

Os preços das exportações de mel devem no curto e médio-prazo, permanecerem em patamares baixos se comparados aos oferecidos internamente. Isso se deve em parte pela política cambial praticada pelo governo atualmente, que permite um câmbio fracamente desvalorizado, encarecendo relativamente o mel brasileiro quando comparado a Argentina, ou China. O outro lado é a crise econômica nos países Europeus, o que provocará a retração na demanda por produtos não essenciais para a manutenção da vida (como o mel), e assim, esse baixo interesse deve manter os preços de exportação depreciados.

Por fim, os empresários e apicultores da região Sudeste devem aproveitar esse mercado consumidor cada vez mais forte e aquecido, buscando uma produção integrada, responsável e altamente tecnológica. Com o fortalecimento de cooperativas e associações, a busca incessante por capacitação e a cobrança juntamente ao poder público pela assistência técnica e certificação do mel, será possível o restruturamento produtivo dessa região, que nos últimos tempos, tem se mostrado aquém de sua representação histórica.

5. Referências Bibliográficas

IBGE. Síntese de indicadores sociais: Uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

IBGE. Produto Interno Bruto do Brasil de 2000 a 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acessado em: 15 de outubro 2011. 2010.

IBGE. Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo de 2000 a 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acessado em: 15 de outubro 2011. 2010a.

IBGE. Pesquisa Pecuária Municipal de 2000 a 2009. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acessado em: 15 de outubro 2011. 2011.

IBGE. Contagem da População de 2000 e 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acessado em: 3 de maio 2011. 2011b.

INPE/DPI. Ministério de Ciência e Tecnologia. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. TerraView versão 3.1.3, 2009. Disponível em http://www.dpi.inpe.br/terraview/index.php.

MDIC/SECEX (Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior). Balança Comercial das exportações de mel no Brasil: período de 2000 a 2010. Disponível em: www.aliceweb.gov.br. Acessado em: 10 de Março de 2011. 2011.

R DEVELOPMENT CORE TEAM. R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria, 2011. Disponível em: http://www.R-project.org.

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