Artigo

MELIPONICULTURA E AS MULHERES DE CHORÓ - CEARÁ

Darci de Oliveira Cruz¹; Antonia Renata Lima Corrêa²; Ana Carolina Costa Silva³
1Doutora em Entomologia e integrante do Grupo de Pesquisas com Abelhas da Universidade Federal do Ceará. E-mail: cruzdarci@yahoo.com.br
² ³ Graduandas do Curso de Zootecnia da UFC

O Brasil é rico em espécies de abelhas, como por exemplo, as sem ferrão, abelhas sociais nativas que habitam todo o território nacional com grande importância ecológica e econômica. A importância ecológica decorre da atuação como agentes polinizadores, tanto em áreas naturais, contribuindo para a manutenção dos ambientes naturais, como em culturas agrícolas (Saraiva e Imperatriz-Fonseca, 2002). O interesse pela criação de abelhas sem ferrão é justificado na maioria dos casos pelo uso nutricional e terapêutico do mel e pelo fato da sua comercialização promover um aumento da renda familiar, além da atividade servir como fonte de lazer.

As espécies de meliponíneos mais criadas no Brasil são as do gênero Melipona como M. quadrifasciata (mandaçaia), M. scutellaris (uruçu do Nordeste), M. compressipes (tiúba), M. subnitida (jandaíra), M. rufiventris (uruçu amarela). Dentro do grupo das Trigona, a Tetragonisca angustula (jataí) e as Scaptotrigona spp (mandaguaris, canudo, etc.) são as mais utilizadas (Cortopassi-Laurino et al., 2002).

Entre os meliponíneos nativos do Nordeste brasileiro, a abelha jandaíra (Melipona subnitida Ducke) é uma das espécies mais indicadas para a criação racional com fins lucrativos. Além de produzir mel de excelente qualidade organolética, o que o torna bastante procurado na região, parece contribuir para a polinização e conseqüente sucesso reprodutivo de diversas espécies vegetais (Bruening, 1990; Freitas et al., 2002).

No município de Choró ( 4º 50' 36"S; 39º 08' 28"W), localizado na região Centro-Norte do Estado do Ceará, cujo clima é caracterizado como Tropical Quente Semi-árido e temperatura média entre 26º e 28ºC (IPECE, 2011), a meliponicultura vem sendo desenvolvida por mulheres como forma de complementação ao orçamento familiar. Em meio à Caatinga Arbustiva Densa e Floresta Caducifólia Espinhosa, meliponários rústicos (Figura 1) vêm sendo implantados para produção de mel, principal produto de interesse comercial.

No Distrito de Caiçarinha, município de Choró, a principal atividade econômica dos agricultores é o plantio de milho, feijão, algodão, gergelim e abóbora. No entanto, a abelha jandaíra vem sendo criada racionalmente por um grupo de mulheres (Figura 2), visando complementar a renda familiar. O mel dessa abelha é comercializado na própria comunidade, em média por R$ 50,00 o litro.

Diferente da criação racional da espécie Apis mellifera, na qual se utiliza um modelo padrão de colmeia, não há uma padronização na meliponicultura brasileira. Com relação à criação de jandaíra, tanto no interior quanto no litoral nordestino encontram-se criatórios de abelhas primitivos, os quais utilizam caixas rústicas ou mesmo troncos de árvores cortados, na forma de cortiços, além de cabaças de cucurbitáceas penduradas nas casas, o que dificulta o manejo adequado, além de contribuir para a diminuição da qualidade do mel colhido. Porém, no município de Choró, colméias verticais (modelo INPA) e horizontais (modelo Baiano) são utilizadas nos meliponários, como forma de facilitar o manejo racional dessas abelhas (Figura 3).

Uma peculiaridade do criatório de abelhas sem ferrão realizado pelas mulheres no Distrito de Caiçarinha é a identificação das colmeias com nomes próprios referentes às meliponicultoras (Figura 4). No entanto, as caixas também são enumeradas para permitir um melhor acompanhamento. Além da abelha jandaíra, outras espécies de abelhas como a uruçu, arapuá, jati, canudo e moça-branca também são conhecidas na localidade. Porém, apenas a abelha jandaíra vem sendo criada de modo racional tendo em vista a produção de mel.


Figura 1 - Meliponários do Distrito de Caiçarinha em Choró - Ceará

Figura 2 - Sra. Francisca Antônia exibindo mel de jandaíra e meliponário rústico

Figura 3 - Comeias verticais e horizontais utilizadas nos meliponários de Choró - CE.

Figura 4 - Colmeias de jandaíra identificadas por números e nomes próprios.


AGRADECIMENTOS

Agradecemos às mulheres meliponicultoras de Choró que permitiram a visita aos seus meliponários.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRUENING, H. Abelha jandaíra. Mossoró: Ed. Vingt-Um Rosado, 1990.

CORTOPASSI-LAURINO, M.; ROSSO, J.M.; IMPERATRIZ-FONSECA, V.L. Meliponicultores do Brasil. In: XIV CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA, 2002, Campo Grande. Anais...Campo Grande: Confederação Brasileira de Apicultura, 2002. P. 119.

FREITAS, M.F. et al. Avaliação de colmeias de jandaíra (Melipona subnitida), procedentes de divisões, no Meliponário Escola da UFPB, Campus VII, Patos- PB. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA, 14., 2002, Campo Grande. Anais...Campo Grande: Confederação Brasileira de Apicultura, 2002. p. 104.

IPECE (Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará). Perfil Básico Municipal. 2011. 18p.

SARAIVA, A.M.; IMPERATRIZ-FONSECA, V.L. Webbee: Uma rede de informações sobre biodiversidade brasileira em abelhas nativas. In: V ENCONTRO SOBRE ABELHAS, 2002, Ribeirão Preto. Anais... Ribeirão Preto: USP, 2002. p.108-113.

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