Artigo

Zangões: mais do que meros reprodutores

Zanusso, J.T.1*, Farias, B.F.2
1Prof. adjunto do Curso de Zootecnia/UFPEL
* e-mail: jerri.zanusso@ufpel.edu.br
2 Acadêmico do curso de Agronomia/UFPEL

A maior parte da literatura nacional e mesmo estrangeira, considera os zangões como indivíduos um tanto preguiçosos, já que não auxiliam na maior parte das tarefas da colônia, servindo unicamente para a reprodução.

As abelhas do gênero Apis são insetos sociais conhecidos também pela sua grande capacidade termorregulatória, fazendo com que o "superorganismo" chamado colônia sobreviva em regiões com grandes flutuações térmicas. As abelhas regulam a temperatura do ninho dentro de uma faixa de 32 a 36 ºC (Bujok et al., 2002, Kleinhenz et al., 2003, Jones et al., 2005, Kovac, et al., 2009).

Para garantir o desenvolvimento das larvas no ninho, a manutenção de uma faixa de temperatura elevada, é crucial (Groh et al., 2004), e a homeotermia é importante, já que flutuações consideráveis na temperatura do ninho podem gerar malformações nos adultos emergentes, como consequência de problemas na fase de cria operculada (Groh et al., 2004). Pode afetar também as habilidades no aprendizado, na coordenação de atividades externas e na divisão de trabalhos (Tautz et al., 2003, Groh et al., 2004, Becher et al., 2009).

Figura 1 - Dados de temperatura analisados
e mostrados na janela de visualização
do programa utilizado.
(Fonte: modificado de Becher & Moritz, 2009).

O papel das operárias, como termorreguladoras, aquecendo ou ventilando a colméia é bem conhecido (Harrison, 1987, Bujok et al., 2002 e Kleinhenz et al., 2003). A incubação necessita, em grande parte, do trabalho das operárias, que reagem mais a temperatura do ninho do que à temperatura do ar (Kronenberg & Heller, 1982).

Foi demonstrado por Becher & Moritz (2009) que as abelhas concentram-se na tarefa de aquecimento das crias, podendo esta temperatura variar conforme a etapa da metamorfose, sendo que na fase de ovo, observaram temperatura média de 32,7 ºC, na fase larval, temperatura média de 33,3 ºC e na fase de pupa, temperatura média de 33,2 ºC. Estes autores também verificaram temperaturas mais baixas (aprox.. 30 ºC) e uma grande flutuação de temperatura nas áreas sem crias (Figura 1), demonstrando que as operárias otimizam seu trabalho, fazendo um aquecimento localizado.

Os zangões não possuem ferrão, nem glândulas cerígenas, nem corbículas e seu aparelho bucal sugador é relativamente mais curto que o de uma operária (Clément, 2004). Por esta falta de habilidades, os zangões são frequentemente chamados de preguiçosos, assumindo-se que realizam "somente" a fecundação de rainhas virgens. Esta visão é bastante limitada, já que os zangões preparando-se para o vôo, ao aterrissarem e ao movimentarem-se pela colméia mostram uma grande capacidade termogênica, com temperaturas elevadas na região do tórax, onde concentram-se os músculos alares (Jean-Prost & Le Conte, 2005). Os zangões mais velhos são, comparativamente aos recém nascidos, mais relevantes na contribuição do aquecimento da colméia (Kovac et al., 2009).

Figura 2 - Termograma de zangões (D: drones)
e operárias (W: workers) em uma colméia.
Temperatura externa de 33 ºC.
(Fonte: modificado de Kovac et al., 2009).

O trabalho realizado por KOVAC et al. (2009) conseguiu demonstrar, através de uma câmera infravermelha, que zangões contribuem bastante na produção de calor na colméia (Figura 2), apresentando temperatura corporal entre 33,9 e 36,7ºC .

Os zangões são vistos em grande quantidade (algumas centenas) durante a primavera e parte do outono, sendo que no inverno são eliminados (Le Conte, 2004). Obviamente os zangões tem uma participação termorregulatória relativa, já que proporcionalmente às operárias, eles estão presentes em menor número e exatamente no período de maior necessidade de auxílio na termorregulação, os zangões são banidos das colônias (Benedic, 2001).

Com base nos estudos realizados até o momento, demonstrou-se que os zangões devem ser tratados com maior consideração no seu papel social na colônia. A sua participação na homeotermia da colônia é relativa, mas não irrelevante.

Fica claro, também, a importância de redobrarmos a atenção nos manejos adotados durante o período de escassez de alimento, especialmente durante o inverno, como: fortalecer os enxames através da manutenção de rainhas jovens, sem falta de espaço que limite o crescimento da colônia nos períodos favoráveis, vedar frestas ou trocar peças avariadas e reduzir o alvado, usar entre-tampa, alimentar durante o outono-inverno, conforme decréscimo na postura e evitar as flutuações de temperaturas, preferindo manejar as abelhas nos horários em que a temperatura externa seja mais próxima daquela do ninho, assim como evitar fazer trabalhos desnecessários, por curiosidade.

Referências bibliográficas

Becher, M.A. & Moritz, R.F.A. A new device for continuous temperature measurement in brood cells of honeybees (Apis mellifera). Apidologie. v. 40. p.577-584. 2009.

Becher, M.A., Scharpenberg, H., Moritz, R.F.A. Pupal developmental temperature and behavioral specialization of honeybee workers (Apis mellifera, L). J. Comp. Physiol. A. 2009.

Benedic, S. Relevè de températures. (2001). In: http://apisite.online.fr Acesso em: 10 de novembro de 2011.

Bujok, B., Kleinhenz, M., Fuchs, S., Tautz, J. Hot spots in the bee hive. Naturwissenschaften. v. 89, p.299-301. 2002.

Clément, H. (Ed.). Le traité rustica de l´apiculture. 2004. 528p.

Groh, C., Tautz, J., Rossler, W. Synaptic organization in the adult honeybee brain is influenced by brood-temperature control during pupal development. Proc. Natl. Acad. Sci. 101, p.4268-4273. 2004.

Harrison, J.M. Roles of individual honeybee workers and drones in colonial thermogenesis. J. Exp. Biol. 129, p.53-61. 1987.

Jean-Prost, P. & Le Conte, Y. Apiculture. Ed. Lavoisier. 2005. 698p.

Jones, C.J., Helliwell, P., Beekman, M., Maleszka, R., Oldroyd, B.P. The effects of rearing temperatures on developmental stability and learning and memory in the honeybee Apis mellifera. J. Comp. Physiol. A191, p.1121-1129. 2005.

Kleinhenz, M., Bujolk, B., Fuchs, S., Tautz, J. Hot bees in empty broodnest cells: heating from within. J. Exp. Biol. 206, p.4217-4231. 2003.

Kovac, C.H., Stabentheiner, A., Brodschneider, R. Contribution of honeybee drones of different age to colonial thermoregulation. Apidologie. v.40, p.82-95. 2009.

Kronenberg, F. & Heller, H.C. Colonial thermoregulation in honeybees (Apis mellifera). J. Comp. Physiol. B 148, p65-76. 1982.

Tautz, J., Maier, S., Groh, C., Rossler, W., Brockmann, A. behavioral performance in adult honey bees is influenced by the temperature experienced during their pupal development. Proc. Natl. Acad. Sci. 100. p.7343-7347. 2003.

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