Criação Racional

Avaliação da flora usada por Melipinini: aplicação no manejo de Frieseomelitta varia e Scaptotrigona aff. depilis

Cláudia Inês da Silva, Kátia Paula Aleixo, Letícia Biral de Faria, Vera Lúcia Imperatriz Fonseca & Carlos Alberto Garófalo
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, E mail: claudiainess@gmail.com

Resumo:

A maioria das espécies de abelhas depende diretamente de recursos florais para sua sobrevivência. Dentre esses recursos, o pólen e o néctar são constituintes importantes da dieta das abelhas sem ferrão, sendo respectivamente fontes de proteínas e carboidratos, essenciais aos estágios larval e adulto. Os objetivos do presente estudos foram avaliar, por meio da análise polínica, as espécies de plantas usadas na alimentação por Frieseomelitta varia e Scaptotrigona aff. depilis e identificar as espécies-chave de plantas no seu manejo. Essas duas espécies coexistem no ambiente e compartilham a mesma área para forrageamento. São abelhas com colônias perenes e classificadas quanto ao hábito alimentar como generalistas. A coleta de recursos florais por F. varia é feita individualmente enquanto que em S. aff. depilis é feita em grupo. O estudo foi desenvolvido no meliponário experimental no campus da USP de Ribeirão Preto, no período de março de 2010 a fevereiro de 2011. Para isso, foram colhidas mensalmente amostras de grãos de pólen das corbículas das abelhas em quatro colônias para cada espécie estudada. O material polínico foi acetolisado e identificado por comparação com os grãos de pólen de espécies de plantas depositados na Palinoteca do Lab. de Palinoecologia da FFCLRP/USP. No total foram identificadas 120 espécies vegetais nas amostras, sendo o maior número real de espécies de plantas observado na dieta de S. aff. depilis (SS. aff. depilis= 86 e SF. varia= 77). Embora F. varia tenha apresentado o menor S, essa abelha possuiu uma dieta mais diversificada (H'= 4,474) quando comparada à S. aff. depilis (H'= 4,435). Consequentemente, F. varia apresentou mais espécies vegetais importantes para sua dieta (Saparente=22,22) do que S. aff. depilis (Saparente=21,75). O padrão de sobreposição no uso das plantas como fonte de alimento foi analisado pelos índices qualitativo (Ojk, variando de 0 a 1) e quantitativo (PS, variando de 0 a 100%), sendo observada uma sobreposição de 63% no uso das plantas (Ojk=0,639) e quando a sobreposição foi comparada levando-se em conta a proporção das plantas usadas na dieta (PS), o valor foi mais baixo (PS=21,75%) do que aquele observado pelo índice qualitativo. Os dados obtidos nesse estudo mostram que embora as espécies de abelhas apresentem itens comuns em suas dietas, elas tendem a utilizá-los em diferentes proporções. Do total de espécies vegetais que floresceram ao longo do período de estudo (235spp.), as operárias de F. varia coletaram recursos florais em uma fração muito pequena, que correspondeu a 32,76% das plantas por ela visitadas. As plantas intensamente exploradas por F. varia foram Delonix regia (Bojer ex Hook.) Raf. (Fabaceae), Poincianella pluviosa (DC.) L.P. Queiroz. (Fabaceae) e Ceiba speciosa (A. St.-Hil.) Ravenna (Malvaceae). Juntas, essas espécies responderam por 42% do total de grãos de pólen quantificados durante todo o período estudado. S. aff. depilis utilizou apenas 36,60% das plantas que disponibilizaram recursos florais, sendo Syzygium cumini (L.) Skeels (Myrtaceae), Mimosa sp.1 (Fabaceae), Schinus terebinthifolia Raddi (Anacardiaceae) e Eucalyptus citriodora Hook. (Myrtaceae) as espécies mais importantes na dieta dessa abelha. Juntas, essas plantas corresponderam a 45% do total de grãos de pólen quantificados em todas as amostras analisadas. Tais plantas são consideradas espécies-chave na manutenção dessas duas espécies de Meliponini, sendo indicadas para o plantio em Meliponários.

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