Artigo

Composição de méis de Melipona compressipes fasciculata de municípios da Baixada Maranhense

Gislane da Silva Lopes 1,2*; Luiz Junior Pereira Marques2*; José Malheiros Silva3 e Ana Maria Maciel Leite 4*
1Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão - FAPEMA.
2 Mestre em Agroecologia
3 Assessor Técnico da Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural
4 Profª Mestre do Departamento de Química e Biologia
* Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)

Resumo: Analisou-se 17 amostras de méis de Melipona compressipes fasciculata procedentes da região da Baixada Maranhense, sendo (02) amostras do município de Bequimão, (03) de Pinheiro, (03) de São Bento, (01) de São João Batista, (01) de Santa Helena, (01) de Viana, (01) de Anajatuba, (03) de Vitória do Mearim e (02) de Palmeirândia. Objetivando identificar e caracterizar os tipos polínicos presentes nos méis de M. compressipes fasciculata para determinar a procedência floral. As amostras foram preparadas segundo método de Maurizio e Louveaux (1965) e adotada a classificação proposta por Louveaux et al. (1978). Foram encontrados 53 tipos polínicos, sendo 10 espécies e 25 gêneros distribuídos em 23 famílias. Dentre as famílias que se destacaram na composição dos méis pode-se citar: Combretaceae, Flaucortiaceae, Lamiaceae, Leguminosae-Mimosoidea, Melastomataceae, Myrtaceae, Poaceae e Rubiaceae. Os méis de São Bento, Palmeirândia e São João Batista foram caracterizados como monoflorais de Eichhornia sp. e o mel de Viana indicou ser monofloral de Tipo Indeterminado C. Os méis dos municípios de Bequimão, Anajatuba, Santa Helena, Pinheiro e Vitória do Mearim indicaram ser heterofloral. Foram caracterizadas como recursos apícolas: Eichhornia sp., M. caesalpinifolia, M. pudica, Schrankia leptocarpa, Hyptis spp., B. verticillata e tipos indeterminados C e I. Os municípios mais similares botanicamente foram: Palmeirândia, São João Batista, São Bento e Santa Helena.

Palavras-chaves: Flora. Abelha. Análise.

Introdução

A apicultura é uma atividade econômica conservadora das espécies, devido ao baixo impacto ambiental que ocasiona, possibilitando a utilização permanente dos recursos naturais e a não destruição do meio rural. Assim, é uma das poucas atividades preenchedoras de todos os requisitos do tripé da sustentabilidade: o econômico, gerador de renda para os produtores; o social, ocupador de mão-de-obra familiar no campo, com diminuição do êxodo rural; e o ecológico, já que não se desmata para criar abelhas, necessitando elas, ao contrário, plantas vivas para a retirada do pólen e do néctar de suas flores, suas fontes alimentares básicas (ALCOFORADO FILHO, 1997; 1998).

O mel pode ser definido como alimento elaborado pelas abelhas melíferas a partir de néctar e/ou secreções de partes vivas das plantas (NETO & NETO, 2005). E sua qualidade depende de um lado de sua composição química, principalmente quanto aos diferentes tipos de açucares, sais minerais, proteínas e água. De outro lado, fazem parte do mel os grãos de pólen provenientes, na sua maior parte, das plantas fornecedoras de néctar, as chamadas plantas nectaríferas (BARTH, 2005). O conhecimento destas espécies que as abelhas utilizam como recursos florais para elaborar os méis bem como a caracterização botânica dos mesmos possibilitam definir o(s) período(s) de produção, de entressafra e agregação de valor ao produto final.

Uma das maneiras de caracterizar a flora visitada é através dos tipos polínicos encontrados nos méis. A análise do pólen indica a origem floral, permitindo a caracterização apícola de determinada região geográfica (DURKEE, 1971, SEIJO et al., 1992), sendo ainda utilizado como detector de fraudes, pois uma quantidade muito pequena de pólen no mel pode sugerir adulteração, através da mistura com outras substâncias como xaropes de glicose (SILVEIRA, 1996).

No Estado do Maranhão, apesar da diversidade floral e do potencial de exploração existem poucas informações sobre as plantas de interesse apícola. O ecossistema da Baixada compreende uma mistura de vários elementos, de campos úmidos, abertos, pertos dos lagos, até densas florestas de galeria ao longo dos rios (RADIOBRAS, 2000). Neste ecossistema é favorável o desenvolvimento da meliponicultura, atividade esta que favorece a agricultura familiar, visto que não necessita de grandes áreas para implantação e gera recursos econômicos ao fim de uma exploração harmônica da vegetação.

Buscando suprir a ausência de estudos da composição polínica, que diminuem esta vantagem natural, o trabalho visa identificar e caracterizar os tipos polínicos presentes nos méis de M. compressipes fasciculata procedentes da região da Baixada Maranhense para gerar informações botânicas que levem a conservação e o uso racional destas áreas.

Material e Métodos

Caracterização da área

O ecossistema da Baixada constitui um complexo de muitos componentes, tais como rios, lagos, estuários, áreas alagáveis e agroecossistemas; englobando numa vegetação uma mistura de manguezais, campos aluviais e flúvio-marinhos, perto dos lagos, até densas florestas de galeria ao longo dos rios, com babaçuais formando "ilhas" nas terras mais altas, pouco atingidas pelas enchentes, possuindo características próprias de clima e solos, que refletem fortemente na sua flora e fauna.

A Baixada Maranhense constitui assim uma das sete áreas de proteção ambiental (APA), do Estado do Maranhão, decorrente das riquezas do ecossistema e biodiversidade da fauna e flora encontradas, englobando 21 municípios e uma ilha (GEPLAN - UEMA, 2002). Tendo na meliponicultura uma alternativa de renda viável, uma vez que estes méis são muito valorizados; além de promover a conservação do patrimônio ambiental desta região.

A microrregião da Baixada apresenta temperaturas médias anuais de 26 ºC a 27 ºC, com proximidade marítima que exerce grande influência na temperatura do ar sendo por esta razão uma das maiores contribuidoras para os elevados valores anuais de umidade relativa do ar que atuam em torno de 79% a 82%. Devido aos aspectos da localização e cobertura vegetal atuante nesta região tem-se grande potencial hídrico, que se reflete nos índices de pluviosidade que variam de 2000 a 2400 mm durante o ano.

Metodologia

As amostras de méis de M. compressipes fasciculata foram obtidas nos municípios de Bequimão, Pinheiro, São Bento, São João Batista, Santa Helena, Viana, Anajatuba, Vitória do Mearim e Palmeirândia, no período de safra entre os meses de janeiro/2004 a abril/2006.

Para preparação das lâminas de mel foram dissolvidas 10 g de mel em 20 ml de água destilada segundo o método de Maurizio & Louveaux (1965), homogeneizadas pelo menos durante 15 minutos. Em seguida, a mistura foi submetida a banho maria por 5 minutos, centrifugada e decantada; logo após acrescentou-se 4,5 ml de anidrido acético e esta foi colocada novamente em banho maria por 10 minutos para se acrescentar posteriormente, o ácido sulfúrico e colocá-las em centrífuga por mais 10 minutos.

No fim deste processo foram adicionados 5 ml de água destilada a fim de se retirar o excesso de ácido sulfúrico em centrifugação a uma velocidade de 2500 rpm. Para finalizar, as lâminas foram montadas com gelatina glicerinada e vedadas com parafina segundo Erdtman (1952).

Para análise das amostras dos méis levou-se em consideração o tipo polínico encontrado nas lâminas, os quais foram desenhados e contados. Nesta análise proposta por Louveaux et al. (1978) contou-se a percentagem de pólen dominante (P.D.) - mais de 45% do total; pólen acessório (P.A.) - de 15 a 45% e pólen isolado (P.I.) - menor que 15%. Sendo ainda P.I. subdividido em P.I.i. (pólen isolado importante - entre 3 e 10%) e P.I.o. (pólen isolado ocasional). A identificação dos tipos polínicos foi realizada por método comparativo através de laminário de referência, onde se avaliou a semelhança das estruturas dos polens contidos nas lâminas.

Com os dados calculou-se o índice de similaridade (proposto por Mountford em 1962 e citado por Silveira Neto et al., 1976) comparando os locais estudados em grupos de dois através da fórmula:

I1 = 2j ÷ 2ab - (a+b)j

onde : a = número de tipos polínicos encontrados no mel produzido no local a; b = número de tipos polínicos encontrados no local b; j = número de tipos polínicos comuns aos méis produzidos nos dois locais (a e b).

Para comparar os resultados obtidos nos 09 municípios relativos ao índice de similaridade, utilizou-se a metodologia proposta por Silveira Neto et al. (1976), agrupando-se os municípios de acordo com a semelhança entre os tipos polínicos encontrados nas amostras de mel.

Resultados e Discussão

Foram encontrados nos méis 53 tipos polínicos, sendo 10 espécies e 25 gêneros distribuídos em 23 famílias, destes ainda um total de 12 tipos polínicos indeterminados. Dentre as famílias que se destacaram na composição dos méis pode-se citar: Combretaceae, Flaucortiaceae, Lamiaceae, Leguminosae-Mimosoidea, Melastomataceae, Myrtaceae, Poaceae, Pontederiaceae e Rubiaceae. Resultado semelhante ao encontrado por Locatelli et al. (2000), que detectaram 29 famílias sendo utilizadas como recursos florais, em área de restinga em Pernambuco, das quais a família Lamiaceae, Melastomataceae, Myrtaceae e Rubiaceae faziam parte.

Nos méis provenientes do município de São Bento (Tabela 1), foi observada maior contribuição das espécies da família Pontederiaceae e Leguminosae-Mimosoidea. As Pontederiaceae são comuns em diversos ambientes que são periodicamente alagados por todo Brasil (SOUZA & LORENZI, 2005) como é o caso do ecossistema da Baixada Maranhense que sofre grande influência do ciclo das águas, destacando-se no mel com o gênero Eichhornia sp. (aguapé) como P.D. A família Leguminosae-Mimosoideae ocorreu com M. caesalpinifolia como P.A. e P.I.i. As espécies Maximiliana maripa, Borreria verticillata, Mimosa pudica e Acalypha sp. também aparecem na composição do mel. Devido o alto percentual de Eichhornia sp. (74,89% , 95,12% 2 e 74,41%) pode-se tratar de mel monofloral desse recurso.

Nas duas amostras do município de Bequimão, os méis apresentaram grande contribuição das espécies Hyptis sp, Banara sp. e Myrtaceae I. No total foram 16 tipos polínicos, dentre os quais se destacou Hyptis spp. como P.A. e P.D, ocorrendo o tipo Myrtaceae I como P.A. e P.I.i (Tabela 1). Deve-se ressaltar que nas amostras há predominância das espécies Hyptis spp., Banara sp. e tipo Myrtaceae corroborando com indicativos de méis heteroflorais, pois ainda encontram-se os tipos polínicos M .maripa, M. caesalpinifolia, M. pudica, B. verticillata e tipos indeterminados B e C.

Os méis do município de Pinheiro apresentaram como maior fonte de recurso floral as espécies das famílias Lamiaceae, Leguminosae-Mimosoideae e Rubiaceae, sendo encontrados 17 tipos polínicos, conforme demonstrado na tabela 1. A família Lamiaceae ocorreu com o gênero Hyptis spp., como P.D. e P.A., resultado semelhante de Barth (1960a) que encontrou o gênero compondo mel monofloral e de acordo com Souza & Lorenzi (2005), que afirmaram a presença freqüente das espécies de Eriope e Hyptis nos cerrados e campos brasileiros. Já a família Leguminosae-Mimosoideae teve como representantes as espécies M. pudica como P.A.; M. caesalpinifolia como P.A. e P.I.o; Schrankia leptocarpa, Stryphnodendron sp e Mimosa sp. como P.I.o. Esta família é bastante citada em trabalhos de levantamento apícola, exercendo maior ou menor importância conforme a localidade ou época do ano. De acordo com Lorenzon et al. (2003) a família Leguminosae foi a mais visitada, com cerca de 61% das abelhas coletadas, destacando-se Caesalpinaceae com 47% . Na família Rubiaceae apenas uma espécie foi contribuidora para elaboração do mel, entretanto B. verticillata, é uma espécie típica de mata de capoeira e muito referenciada em trabalhos apícolas com Apis mellifera, obtendo aqui percentual de 39,17% (P.A.) conforme trabalho de Santos et al. (2006), que avaliando plantas apícolas em Petrolina destacou B. verticillata como fonte de alimento na época seca na caatinga. A diagnose do mel deste município indica tratar de mel heterofloral principalmente de Hyptis spp., B. verticillata, M. pudica, M. caesalpinifolia e tipos indeterminados B e C.

O mel correspondente do município de Santa Helena apresentou como maior fonte de recurso as espécies das famílias Lamiaceae, Leguminosae-Mimosoideae, Rubiaceae e tipo indeterminado E (Tabela 1). As famílias Lamiaceae e Leguminosae também tiveram presentes em resultados de Lorenzon et al. (2003) com o maior número de espécies de meliponíneos. A família Lamiaceae foi representada pelo gênero Hyptis spp. , sendo este o maior responsável pela elaboração com 28,01%, indicativo de pólen acessório, corroborando com resultados de Aires & Freitas (2001), que analisando méis do Ceará encontraram a espécie Hyptis suaveolens como contribuidora para o mel heterofloral. A família Leguminosae-Mimosoideae obteve como respresentantes as espécies M. pudica, M. caesalpinifolia e o gênero Stryphnodendron sp, ambos ocorrendo como P.I.o. com valores inferiores a 3%.

A família Rubiaceae com B. verticillata apresentou percentual de 4,10%, resultado que indica juntamente com Hyptis spp. a composição principal do mel, devido o potencial apícola que essas espécies detêm, como referenciaram Viana et al. (2006) e Gonçalves & Melo (2005). A família Asteraceae que detém inúmeras espécies e gêneros elaboradores de mel assim como a família Flacourtiaceae ocorreram no mel, tendo o tipo Asteraceae III e o gênero Banara sp. apresentados caráter P.I.o., com valores inferiores a 3%. Segundo Barth (1989) a presença de maior número de espécies de plantas como pólen isolado ocasional pode estar relacionado com fatores da própria planta (pequena produção de pólen) ou, ao comportamento de coleta da abelha (coleta indireta e/ou recurso coletado). Apesar de o mel possuir três tipos polínicos indeterminados, C, D e E, este último indica ser mais importante à amostra, pois obteve um percentual bastante alto de 34,78%. A diagnose indicou ser heterofloral de Hyptis spp., B. verticillata e tipo indeterminado E.

Os méis do município de Palmeirândia apresentaram como maior fonte de recurso floral as espécies das famílias Leguminosae-Mimosoideae, Myrtaceae e tipo indeterminado A (Tabela 2). As duas famílias em questão já foram referenciadas em pesquisa de Pott & Pott (1986) em levantamento preliminar da flora apícola do Pantanal. Houve pequena participação das espécies M. pudica e M. caesalpinifolia ambos como P.A. e P.I.o. nas amostras. A família Myrtaceae obteve um representante com 8,30%, indicado como P.I.i. ao mel, conforme pesquisa de Gonçalves et al. (2005), que citaram o gênero Melipona como o terceiro mais ocorrido em Myrtaceae dentre as abelhas sociais. Entretanto o tipo polínico mais participativo ao mel analisado foi o tipo Eichhornia sp. com percentuais de 89,32 e 73,22 %, índices indicativos de pólen dominante (superior 45%) e caráter monofloral. A espécie Orbygnia pharelata (Família Arecaceae) e o gênero Hyptis spp. também ocorreram no mel de Palmeirândia, mas com menor freqüência (<3%). A diagnose indicou ser mel monofloral de Eichhornia sp. com contribuição das espécies M. pudica , M. caesalpinifolia e Myrtaceae III.

O mel do município de São João Batista foi representado principalmente pelos recursos florais das espécies da família Combretaceae, Pontederiaceae e tipo indeterminado C, sendo encontrados oito tipos polínicos (Tabela 2). A família Combretaceae foi representada pelo gênero Terminalia sp. com percentual de 14,25 %, este tipo polínico é citado por Pott & Pott (1986) como planta cultivada e apícola no Pantanal. O gênero Eichhornia sp. (Pontederiaceae) juntamente com o tipo polínico indeterminado C apresentaram percentuais de 64,04 e 13,61%, respectivamente. O caráter dominante de Eichhornia sp. indica ser monofloral. As famílias Leguminosae-Mimosoideae e Leguminosae-Caesalpinoidea também participaram do mel, ambas com um representante apenas: M . pudica e Cassia sp. como P.I.o.

A família Myrtaceae ocorreu com o tipo polínico, Myrtaceae III, que deteve percentual de 3,82%, indicando ser P.I.i. na amostra. Entretanto obteve nos méis analisados da região da Baixada três tipos polínicos, resultado diferenciado dos encontrados por Salomé & Orth (2003), que diagnosticaram a família como a segunda em número de espécies visitadas em Santa Catarina. A diagnose revela no mel de São João Batista um caráter monofloral de Eichhornia sp. com contribuição do gênero Terminalia sp.

O mel do município de Anajatuba ocorreu com maior utilização das espécies das famílias Flacourtiaceae, Pontederiaceae, Vitaceae e tipos indeterminados C e G. Ressaltando que foram encontrados doze tipos polínicos (Tabela 2). A família Flacourtiaceae ocorreu com o gênero Banara sp., em percentual de 7,30% sendo representativo na amostra como P.I.i. A família Vitaceae ocorreu com o gênero Cissus sp., que também foi freqüente em pesquisa de Carvalho & Marchini (1999) como recurso floral no município de Castro Alves, Bahia; apresentou freqüência de 17,54% (P.A) tendo maior participação no mel que o gênero Banara sp. A família Sapindaceae ocorreu apenas neste município da Baixada Maranhense com uma única espécie, Serjania cornigera, entretanto esta família já foi relevantemente citada em trabalhos de Pott & Pott (1986) e Oliveira et al. (1998).

A família Poaceae ocorreu com o tipo Poaceae I detendo caráter de P.I.i., diferentemente do tipo Cecropia sp. (Cecropiaceae), que apesar de também ser pólen anemófilo ocorreu como P.I.o. Outra tipo polínico que também ocorreu como PIo foi M. caesalpinifolia com 2,63% de freqüência. Os tipos polínicos Eichhornia sp. e indeterminado G detiveram caráter de P.A. e tipo polínico indeterminado D ocorreu como P.I.i. A diagnose indicou ser heterofloral de Banara sp., Cissus sp., Eichhornia sp. e tipo indeterminados G.

O mel do município de Viana ocorreu com maior utilização das espécies dos tipos indeterminados C e F. Ressaltando que foram encontrados 07 tipos polínicos (Tabela 2). A espécie identificada foi Orbygnia pharelata, palmeira nativa e abudante no estado, ocorreu como P.I.o. Os gêneros Alternanthera sp.(Amaranthaceae), Cecropia sp. (Cecropiaceae) e o gênero Aegiphila sp. (Verbenaceae) ocorreram como P.I.o . Já o gênero Hevea sp. ocorreu como P.I.i, obtendo valor de 7,59%. Contudo foram os tipos polínicos indeterminados F (8,24%) e C (81,56%), os mais representativos na amostra, como P.I.i. e P.D., respectivamente. A diagnose indicou ser monofloral do tipo indeterminado C.

Os méis do município de Vitória do Mearim apresentaram em sua composição maior utilização das espécies das famílias Flacourtiaceae, Leguminosae-Mimosoideae, Melastomataceae, Poaceae, Pontederiaceae, Proteaceae, Rubiaceae e tipo indeterminado I (Tabela 2). Resultado próximo aos encontrados por Santos et al. (2006), que encontrou 25 famílias em levantamento realizado em Petrolina onde destacou também as famílias Leguminosae-Mimosoideae e Rubiaceae. Ressaltando que foram encontrados 21 tipos polínicos. A família Flacourtiaceae teve o gênero Banara sp. como P.I.i. A família Leguminosae-Mimosoideae teve três espécies e um gênero participantes do mel deste município, sendo M. caesalpinifolia como P.A. e P.I.i, e M. pudica e Schrankia leptocarpa como P.I.i. apesar de serem espécies superepresentadas nas amostras, por possuírem um caráter polinífero, são importantes no parâmetro fonte de proteína às abelhas. A representatividade de Leguminosae nas planícies litorâneas, como o ecossistema da baixada, deve-se a diversidade de hábitos, preferências ecológicas e mecanismos de manutenção, defesa e reprodução, por ela apresentados conforme Polhill et al. (1981) citado por Viana et al. (2006).

Melastomataceae compareceu na composição botânica do mel com três tipos: os gêneros Miconia sp. e Clidemia sp. como PIo e o tipo Melastomataceae I que compareceu como P.A. sendo mais significativo para a elaboração do mel.

A família Poaceae ocorreu com o tipo Poaceae II (37,20%) sendo P.A., apesar do alto valor ocorrido na amostra, o mel provavelmente caracterizou-se do tipo Melastomataceae I, pois as Poaceae não contribuem para néctar e, sim fazem o suprimento protéico da colméia. Além das Poaceae ocorreu o gênero Cecropia sp. e o tipo Arecaceae como PIo e que também são poliníferos e podem ter ocorrido acidentalmente no néctar durante as atividades das abelhas nas flores e colônias conforme Alves et al. (2006). Já a família Pontederiaceae destacou o gênero Eichhornia sp. com 18,82% (P.A.) e 89,61% (P.D.), respectivamente. A diagnose possível diante dos dados infere que o mel é heterofloral de M. caesalpinifolia, M. pudica, Schrankia leptocarpa, Roupala sp., B. verticillata, Acalypha sp., Eichhornia sp. e tipo indeterminado I.

O índice de similaridade foi calculado para os nove municípios da Baixada considerando os tipos polínicos encontrados nos méis conforme figura 2.

Os resultados mostram que os municípios mais similares na composição floral foram Palmeirândia e São João Batista onde dos sete e oito tipos polínicos encontrados, respectivamente, quatro foram comuns aos dois municípios destacando-se ainda, que os méis em ambos os locais foram monoflorais de Eichhornia sp. (Pontederiaceae).

Já os municípios de São Bento e Santa Helena apesar de constituírem méis de composição distinta (mono e heterofloral) detiveram a segunda maior similaridade na flora utilizada para elaboração dos méis, com nove e treze tipos, respectivamente, sendo cinco comuns aos dois locais. Entretanto os municípios de Viana, Vitória do Mearim e Anajatuba alcançaram baixa similaridade floral em relação aos demais, sendo os mais diferenciados botanicamente.

Algumas fotomicrografias de lâminas de referências que serviram para identificação dos polens de Mauritia flexuosa (amostra de São Bento) e Zea mays (amostra de Bequimão), figura 3 (A, B) e de lâmina de mel (Figura 4) do município de Pinheiro.

Conclusão

Os méis dos municípios de São Bento, Palmeirândia e São João Batista foram caracterizados como méis monoflorais de Eichhornia sp. e o mel de Viana indicou ser mel monofloral de Tipo Indeterminado C.;

Os méis dos municípios de Bequimão, Anajatuba, Santa Helena, Pinheiro e Vitória do Mearim indicaram ser heteroflorais;

Foram caracterizadas como recursos potencialmente apícolas: Eichhornia sp., M. caesalpinifolia, M. pudica, S. leptocarpa, Hyptis spp., B. verticillata e tipos indeterminados C e I.

As Famílias mais visitadas pelas abelhas na região são: Lamiaceae, Flacourtiaceae, Leguminosae-Mimosoidea, Pontederiaceae e Myrtaceae.

Os municípios mais similares botanicamente foram: Palmeirândia, São João Batista, São Bento e Santa Helena.

Agradecimentos:

Ao Laboratório de Microscopia da Universidade Estadual do Maranhão/Ao geógrafo João Firminiano da Conceição Filho, colaborador do Laboratório de Geoprocessamento-LABGEO da Universidade Estadual do Maranhão/A Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão - FAPEMA.


Figura 1. Mapa do estado do Maranhão mostrando os municípios de estudo na região da Baixada Maranhense.

Figura 2. Índice de similaridade polínica dos municípios da Baixada Maranhense.

Figura 3. Lâminas de referência de Mauritia flexuosa (A) e Zea mays (B) (Aumento de 400x)

Figura 4. Fotomicrografia de lâmina de mel do município de Pinheiro (Aumento de 400x)

Tabela 1 - Relação das espécies vegetais/ tipos polínicos que contribuíram para elaboração dos méis analisados (Valores percentagem/amostra)

Tabela 2 - Relação das espécies vegetais/ tipos polínicos que contribuíram para elaboração dos méis analisados (Valores percentagem/amostra)


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