Artigo

A UTILIZAÇÃO DA RESINA DE AMESCLA
(Protium heptaphyllum) NO MANEJO DA ABELHA URUÇU.

Rogério Marcos de O. Alves
Isabella Emilia da Silva Oliveira
Luciana Negrão de Moura
Aline Santana de Souza
Resumo

Detalhe da utilização de resinas vegetais como calmante de enxames

Os meliponineos constituem um grande grupo de abelhas que se defendem utilizando os mais variados meios: mandíbulas, substâncias causticas, resinas etc. Mesmo algumas espécies consideradas mansas, quando em épocas de abundância de mel, defendem seus ninhos causando desconforto ao criador. Nesses casos é recomendado a utilização de vestuário adequado visando reduzir os ataques e facilitar o manejo.

Em apicultura, a manipulação de colônias de Apis mellifera, é realizada através do uso de produtos de origem vegetal, destacando-se a maravalha como principal fonte para a produção de fumaça. A utilização de substâncias que visem reduzir a defensividade de algumas espécies em meliponicultura é pouco conhecida.

Entre os meliponíneos, as espécies consideradas de manejo difícil pertencem aos gêneros: Scaptotrigona, Trigona e Partamona. No grupo das Melíponas a defensividade ocorre em épocas de produção de mel quando os enxames estão populosos e as operárias investem contra o criador distribuindo "mandibuladas" e dificultando a operação de manejo.

A abelha uruçu (Melipona scutellaris) é considerada grande produtora de mel sendo bastante criada no Nordeste do país. Relatos de produtores são comuns sobre desconforto e às vezes acidentes provocados nas épocas de colheita de mel devido a excessiva defensividade dos enxames. Alguns criadores utilizam fumaça de origem vegetal (maravalha) para tentar reduzir os ataques sem obter sucesso. Em algumas regiões do Estado da Bahia, meliponicultores utilizam resinas vegetais como calmante de enxames de uruçu (M. scutellaris). Dentre as resinas mais conhecidas a amescla (Protium sp.) é a mais utilizada.

O gênero Protium pertence a família Burseraceae, espécies Protium heptaphyllum, P. spruceanum, P. warmingianum, P. widgrenii, P. ferruginea, sendo a espécie Protium heptaphyllum de ampla distribuição do Estado da Bahia até a Amazônia. Árvore comum na mata atlântica, atinge 18 m de altura, 50 a 60 cm de diâmetro na base sendo encontrada em florestas ombrófila densa e floresta estacional com solos argilosos (LOUREIRO et al.1979; OLIVEIRA FILHO, 2006; CPRH, 2010). Possui tronco cinzento, casca vermelha escura de onde é expelida resina branca conhecida na Amazônia pelo nome de elemi.

A utilização da resina de amescla no manejo da abelha uruçu é freqüente

A resina elemi do Brasil é empregada como incenso (rituais religiosos), medicina popular, analgésico, cicatrizante,expectorante e na preparação de bálsamos e vernizes. O produto é extraído por incisões nas cascas das árvores das quais dimana um liquido de odor aromático de cor branca com ligeira tonalidade esverdeada. O seu cheiro deve-se a elevada porcentagem de óleo essencial de fácil inflamação. É constituída de triterpenos tetracíclicos, como os ácidos elemadienólico e elemadienônico, pentaciclicos como alfa e beta amirinas, maniladiol e breina entre outros (RIZZINI E MORS, 1976). A resina ao entrar em contato com o ar solidifica-se tomando a coloração branca.

A árvore recebe denominações como: almecegueira, breu, amescla, elemi, pau de breu, curaçai, cicantaá-ihua, árvore de incenso (EDITECO,1980). Sua madeira moderadamente pesada (0,55 a 0,70 g/cm3), possui lenho bege escuro, levemente rosado, uniforme, grã regular, textura media, cheiro e gosto distintos. Fácil de trabalhar é utilizada na marcenaria, construção em geral, carpintaria, caixotaria sendo ótima para carvão (EDITECO,1980). Árvore bastante rústica é adequada a reflorestamentos em áreas degradadas. Excelente para utilização no paisagismo também é indicada para construção de cercas vivas e sombreamento de melíponários.

Muito procurada pelas abelhas para coleta de pólen e néctar na épocas de floração setembro-outubro, apresenta flores brancas, verde, amarelas ou rosadas, o fruto é uma drupa resinosa, frutifica em janeiro e fevereiro, quando também ocorre exudação da resina em maior quantidade sendo avidamente coletada pelas abelhas e acumulada em alguns locais do ninho. Apresenta multiplicação através de sementes, que são consumidas avidamente por aves. Em um Kg de sementes existem 11.000 sementes, com germinação de 50% em 40 dias (CAMPOS-FILHO, 2009). Seu armazenamento deve ser realizado retirando-se a polpa, e embalando em papel com duração de poucas semanas.

A utilização da resina de amescla no manejo da abelha uruçu é freqüente na região do Baixo Sul, município de Taperoá e Catu no Estado da Bahia pelos criadores que coletam a resina nas árvores utilizando ferramentas (podões) na raspagem dos troncos, armazenando o material em recipientes escuros e bem vedado. Em contato com o ar a resina solidifica. Quando do uso recomenda-se colocar a mesma sobre brasas em vasilhas (panelas ou fumegador) produzindo uma fumaça odorífera que é dirigida ao ninho.

Testes de defensividade realizados no meliponário da UFRB em Cruz das Almas, Estado da Bahia, comprovaram a eficácia do método. Colônias de uruçu foram abertas e bolas pretas confeccionadas de lã foram colocadas penduradas em cordões em frente ao orifício de saída das abelhas (FUNARI et al. 2004). O comportamento defensivo das abelhas foi demonstrado através do ataque das operárias às bolas, agarrando-se a estas através das mandíbulas.

Foi utilizada resina de amescla em fumegador, retirada a tampa da caixa e aplicada o produto. A fumaça produzida pela resina de amescla reduziu o ataque proporcionando manejo fácil e sem defensividade das abelhas. O processo foi repetido com 5 colônias de M. scutellaris instaladas em bases individuais demonstrando que a resposta comportamental das abelhas com o uso da amescla foi significativa. O teste foi realizado com colônias das espécies de Scaptotrigona e Partamona não produzindo o mesmo resultado.

As análises realizadas em laboratório demonstraram que o produto não causou intoxicação nas abelhas e modificações nas propriedades físico-químicas e organolépticas do mel armazenado. A utilização desse produto no manejo das abelhas tem sido indicado para as espécie M. scutellaris e M. mondory.

Referencias Bibliográficas

CPRH. Amescla-de-cheiro. Disponível em:http\\:www.cprh.pe.gov.br/.../ctudo-arvores-mata-amescla.asp. Pernambuco. Acesso em: 20 de agosto de 2010.

EDITECO. As madeiras brasileiras: suas características e aplicações industriais. EDITORA INDUSTRIAL TECO, São Paulo. 155p.1980.

CAMPOS-FILHO, E.M. (COORD.) Plante as árvores do Xingu e do Araguaia, v. II. Instituto Socio Ambiental. São Paulo. Editora ISA. 300p.

FUNARI, S.R.C.; ORSI, R de O.; ROCHA, H. C da.; SFORCIN, J.M.; FUNARI, A.R.M. Influência da fumaça e Capim limão (Cymbopogon citrato) no comportamento defensivo de abelhas africanizadas e suas híbridas europeíza (Apis mellifera L.) Boletim da Indústria Animal, Nova Odessa, v. 61, n. 2, p. 121-125, 2004.

LOUREIRO, A. A; DA SILVA, M. F.; ALENCAR, J da C. Essências madereiras da Amazônia, INPA, Manaus, v.1, 1979. 245p.

OLIVEIRA FILHO, A.T. de. Catálogo das árvores nativas de Minas Gerais: mapeamento e inventário da flora nativa e dos reflorestamentos de Minas Gerais. Lavras, Editora UFLA, 2006. 423p.

RIZZINI, C. T.; MORS, W. B. Botânica econômica brasileira. São Paulo : EPU/EDUSP. 1976. 230p.

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