Artigo

O RIO GRANDE DO NORTE JÁ ANALISA O SEU MEL PARA A EXPORTAÇÃO

Rogerio A. Pereira 1, Luciene Xavier de Mesquita 2, Lionel Segui Gonçalves3 , David de Jong 4 e Katia P.Gramacho 5
1 Centro Tecnológico de Apicultura de Mossoró (CETEC), UFERSA, Mossoró-RN
2 Depto. de Ciências Animais, UFERSA e LIPOA, Mossoró-RN
3 Depto. de Biologia, FFCLRP-USP, Ribeirão Preto-SP e CETEC-UFERSA-Mossoró-RN
4 Depto. de Genética, FMRP-USP, Ribeirão Preto-SP
5 Universidade Tiradentes-Unit, Aracajú-SE

RESUMO

Atualmente, no Brasil, a apicultura vem se destacando como uma atividade de benefícios sociais, econômicos e ecológicos. No Rio Grande do Norte a apicultura é bastante nova, porém muito difundida nos últimos anos graças principalmente ao grande incentivo que vem sendo dado ao setor do agronegócio apícola pelo SEBRAE-RN. Já existe um mercado interno para os produtos apícolas no Rio Grande do Norte, e o Estado potiguar já vem aparecendo, nos últimos três anos, no cenário internacional como exportador de mel. No entanto o mel da região ainda é pouco valorizado devido a falta de qualificação do produto, uma vez que até recentemente não havia laboratórios de análises de produtos apícolas na região que pudessem auxiliar e orientar os apicultores para melhorar a qualidade de seus produtos. Em 2007, graças a uma ação integrada do SEBRAE-RN, UFERSA e o Ministério de Ciências e Tecnologia (MCT) foi fundado o Centro Tecnológico de Apicultura do Rio Grande do Norte (CETEC), com instalações na Fazenda Experimental da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), em Mossoró, RN, o qual já vem realizando vários tipos de análises de méis da região. Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo principal a análise das amostras de méis do Estado do RN. Tais análises incluem análise sensorial, denominada caracterização organoléptica (aspecto, cor, aroma e sabor dos méis) e análise físico-química (testes de pureza e integridade), sendo estes determinados através de exames laboratoriais. Dessa forma pretendemos colaborar com os apicultores da região no fornecimento de méis certificados quanto a procedência, características e qualidade, uma vez que, após as análises, os produtos apícolas da região já estarão classificados e enquadrados dentro das especificações exigidas pela legislação brasileira. Foram analisadas 73 amostras provenientes de 8 municípios do Estado. Verificou-se que, com relação às características organolépticas (sensoriais), a maioria das amostras estiveram dentro do resultado esperado, ou seja, 93% das amostras apresentaram-se com aspecto líquido e 82% delas estavam livres de qualquer tipo de impureza. As cores das amostras estiveram todas dentro do esperado de acordo com a escala de Pfund. O aroma de 84% dos méis analisados foi característico e, no que diz respeito ao sabor, 70% das amostras apresentaram sabor próprio e doce. Com relação aos testes de pureza e integridade, para o parâmetro densidade relativa a porcentagem das amostras que estiveram dentro dos limites aceitáveis pela legislação foi de 82% e a mesma porcentagem (82%) também apresentou-se dentro dos limites estabelecidos pela legislação para o parâmetro umidade. Já com relação ao teor de cinzas, hidroximetifurfural (HMF) e fermentos diastásicos, todas as amostras se enquadraram dentro do limite aceitável, ou seja, 100% das amostras foram aprovadas para estes três parâmetros. No que diz respeito ao pH e acidez livre, verificou-se que a porcentagem de amostras aprovadas foi de 96% para pH e 77% para acidez. As amostras com sólidos insolúveis aceitáveis pela legislação compreenderam apenas 34% do total, enquanto que para açúcares redutores e sacarose aparente, as porcentagens encontradas foram de 58% e 53%, respectivamente. Já com relação ao teste de Lund, 73% das amostras estiveram dentro do limite esperado. Nos testes que indicam adulterações ou falsificações no mel, todas as amostras apresentaram resultados negativos, mostrando que nenhuma amostra foi superaquecida, adulterada ou falsificada. Concluiu-se que, embora as amostras analisadas tenham se apresentado com alguns parâmetros fora do exigido pela legislação, todas estavam próprias para o consumo humano, pois este fato não inviabiliza os méis para tal fim, uma vez que o principal componente que poderia caracterizar deterioração do mel, o teor de hidroximetilfurfural, esteve dentro do limite aceitável pela legislação em todas as 73 amostras analisadas. Aliado a este fato, os testes para adulteração do mel, apresentaram resultados negativos, comprovando que não houve adulterações ou superaquecimento, reforçando ainda mais a sua liberação para consumo. Porém, faz-se necessário um melhor acompanhamento junto aos apicultores da região desde o momento da colheita do mel até o envase, para que os parâmetros que não se enquadraram nas normas técnicas sejam corrigidos e para que os produtores busquem soluções para equacionar seus problemas relacionados a qualidade dos seus produtos, garantindo assim um mel de melhor qualidade e capacitando-o para atender as exigências do mercado nacional e internacional.

INTRODUÇÃO

O mel tem sido utilizado pela humanidade, desde as épocas mais remotas, sendo apreciado pelo seu sabor característico e valor nutritivo (Daellen-Back, 1981), sendo uma excelente fonte de energia para o organismo, a qual contribui para o equilíbrio dos processos biológicos do corpo humano. O mel apresenta ainda, fatores físico-químicos que reforçam os benefícios da sua ingestão regular, os quais devem ser elencados, como a proporção adequada de enzimas, vitaminas, ácidos, aminoácidos e substâncias aromáticas (Trevisan et al., 1981) Entende-se por mel, o produto alimentício produzido pelas abelhas melíferas, a partir do néctar das flores ou das secreções procedentes de partes vivas das plantas ou de excreções de insetos sugadores de plantas que ficam sob as partes vivas das mesmas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam, com substâncias especificas próprias, armazenam e deixam madurar nos favos da colméia (Brasil, 2000).

O Brasil tem um grande potencial apícola, devido a sua flora ser bastante diversificada, por sua extensão territorial e pela variabilidade climática existente, possibilitando assim produzir mel o ano todo, o que o diferencia dos demais países que, normalmente colhem mel uma vez por ano (Arruda, 2003). O semi árido nordestino brasileiro se caracteriza por períodos de chuvas curtos e irregulares, grandes solos com baixa fertilidade e pouca profundidade, mas em sua maioria cobertas por matas silvestres caracterizadas pela intensidade de suas floradas naturais. Esta situação apresenta-se em mais de 50% do Nordeste, castigando o homem pela limitação de produção agrícola. Por outro lado, o Nordeste é uma região promissora para o desenvolvimento de grandes projetos apícolas, porque estas grandes extensões de terras sem plantações proporcionam um pasto apícola sem contaminação química, possibilitando a produção de mel orgânico, ou seja, livres de agrotóxicos e medicamentos (Arruda, 2003).

A apicultura no Rio Grande do Norte é bastante nova, porém muito difundida nos últimos anos, graças principalmente ao grande incentivo que vem sendo dado ao setor do agronegócio apícola pelo SEBRAE-RN, e de grande importância social, envolvendo em torno de 5.000 famílias, que cuidam de mais de 100.000 colméias. Já existe um mercado interno para os produtos apícolas no Rio Grande do Norte, e o Estado potiguar já vem inclusive aparecendo, nos últimos três anos, no cenário internacional como exportador de mel, embora ainda em pequena escala, porém promissora. No entanto, o mel da região ainda é pouco valorizado devido à falta de melhor qualificação do produto, uma vez que até recentemente não havia laboratórios de análises de produtos apícolas na região que pudessem auxiliar e orientar os apicultores para melhorar a qualidade de seus produtos. Em 2007, graças a uma ação integrada do SEBRAE-RN, UFERSA e MCT foi fundado o Centro Tecnológico de Apicultura do Rio Grande do Norte (CETEC), com instalações na Fazenda Experimental da UFERSA, em Mossoró-RN, cujas instalações contemplam, entre as várias facilidades e laboratórios disponíveis, um Laboratório de Análises de Produtos Apícolas, o qual já vem realizando vários tipos de análises de méis da região. Essas análises são de extrema necessidade para se determinar quais parâmetros precisam ser corrigidos para que os produtores da região consigam uma melhor colocação de seus produtos no mercado.

Devido à diversidade dos méis existentes no Brasil, é necessária uma caracterização e, posteriormente, criação de padrões de acordo com fatores vegetais, edáficos e climáticos das respectivas regiões em que são produzidos. Assim, com uma caracterização e padronização coerentes com suas condições ambientais, ter-se-ão subsídios para melhorar a qualidade do mel produzido, e dar garantias do produto ao consumidor controlando possíveis fraudes desse produto (Marchini et. al., 2004).

Dentro deste contexto e devido à falta de informações sobre as características físico químicas dos méis produzidos no Estado do Rio Grande do Norte, o presente estudo visa efetuar análises físico químicas dos méis produzidos no Estado, objetivando colaborar com os apicultores da região no fornecimento de méis certificados quanto a procedência, características e qualidade, uma vez que, após as análises, os produtos apícolas da região já estarão classificados e enquadrados dentro das especificações exigidas pela legislação brasileira.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram analisados méis provenientes de 8 municípios do Estado do Rio Grande do Norte (Figura 1), totalizando 73 amostras, a saber: Baraúna (1 amostra), Mossoró (16 amostras), Serra do Mel (38 amostras), Apodi (12 amostras), Almino Afonso (2 amostras), João Câmara (1 amostra), Angicos (2 amostras) e Caraúbas (1 amostra).

As análises físico-químicas das amostras de mel foram realizadas no CETEC (-Centro Tecnológico de Apicultura do Rio Grande do Norte), situado na Fazenda Experimental Rafael Fernandes, de propriedade da UFERSA e no Laboratório de Inspeção de Produtos de Origem Animal (LIPOA), localizado no Departamento de Ciências Animais da UFERSA, em Mossoró-RN.

Foram realizadas dois tipos de análise por amostra, uma constando de análise sensorial, denominada caracterização organoléptica, onde foram verificados, aspecto, cor, aroma e sabor dos méis e outra constando dos testes de pureza e integridade (análise físico-quimica), sendo estes determinados através de exames laboratoriais.

Características organolépticas (análise sensorial)

ASPECTO

O estado físico do mel foi determinado através de análise visual, onde foi verificado se os mesmos encontravam-se em estado líquido, pastoso ou cristalizado, bem como a presença ou não de materiais estranhos no mesmo, tais como: cera, partes de abelhas ou outras impurezas.

COR

A classificação da cor dos méis foi verificada através do colorímetro Hanna, o qual mede a porcentagem de transmitância de luz através do mel. O aparelho expressa o resultado da medição diretamente em mm Pfund, cujo resultado é mostrado no visor do colorímetro e comparado com a Escala de Pfund.

AROMA

Foi realizado o teste através do olfato diretamente nos frascos onde foram coletados os méis e para evitar qualquer interferência do odor dos frascos no momento do teste, foi coletado cerca de 5 gramas de mel para ser realizado o teste olfativo diretamente em espátula de inox, esperando-se encontrar um aroma característico.

SABOR

O sabor do mel foi determinado através de análise gustativa onde foi provado cerca de 2 gramas de mel, esperando-se encontrar um sabor próprio e doce.

Testes de pureza e integridade (análise físico-química):

DENSIDADE RELATIVA (g/ml)

A densidade relativa do mel foi medida por picnometria. Para tal foi utilizado um picnômetro de vidro com capacidade de 10 ml, o qual é dotado de um termômetro para medir a temperatura da amostra no momento da leitura.

UMIDADE (%)

A umidade das diferentes amostras foi determinada por meio de um refratômetro manual ATAGO específico para mel. Após ser calibrado com água destilada, foi colocada 1 gota de mel sobre o prisma do aparelho o qual mostrava diretamente no visor a umidade do mel.

TEOR DE CINZAS (%)

A determinação de cinzas foi feita por meio de calcinação em mufla a 550°C. Este método é recomendado pela Legislação Brasileira em vigor (BRASIL,2000).

pH E ACIDEZ LIVRE (meq.kg-1)

O pH e a acidez livre das amostras, foram determinados seguindo a metodologia de Almeda-Muradian e Bera (2008), a qual é recomendada pela Legislação Brasileira (BRASIL, 2000).

HIDROXIMETILFURFURAL (mg.kg-1)

O hidroximetilfurfural também foi determinado baseando-se na metodologia de Almeida-Muradian e Bera (2008), cuja metodologia também é recomendada pela Legislação Brasileira (BRASIL, 2000).

FERMENTOS DIASTÁSICOS

A prova de fermentos diastásicos, é utilizada única e exclusivamente para verificar a presença de diastase, uma enzima natural do mel. O índice de diástase foi obtido pelo método descrito por Instituto Adolfo Lutz (1985), o qual fundamenta-se no principio da hidrólise do amido pela ação das amilases presentes no mel.

SÓLIDOS INSOLÚVEIS (%)

Para análise de sólidos insolúveis seguiu-se as metodologias do Instituto de Apicultura de Santa Catarina (IASC) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).

AÇÚCARES REDUTORES (%)

Para a determinação dos açúcares redutores foi utilizada a metodologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).

SACAROSE APARENTE (%)

A sacarose aparente foi determinada seguindo-se a metodologia do Instituto Adolfo Lutz (2008).

REAÇÃO DE LUND

Os resultados do teste de Lund foram verificados, seguindo-se a metodologia de Almeida-Muradian e Bera (2008), qual é exigida pela Legislação Brasileira.

REAÇÃO DE LUGOL

Foi realizada seguindo-se a metodologia do Instituto Adolfo Lutz (2008).

TESTE DE FIEHE

O teste de Fiehe foi realizado também seguindo-se a metodologia do Instituto Adolfo Lutz (2008).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Características organolépticas
Aspecto

De acordo com Lengler (2000), os aspectos do mel podem ser líquido, líquido-cristalizado, líquido-granulado, cristalizado, granulado e cremoso. Com relação ao aspecto nas amostras avaliadas, das 73 amostras, 93% apresentaram-se com aspecto líquido e apenas 7% apresentaram-se em estado pastoso. Nenhuma das amostras chegaram em estado cristalizado (Figura 2).

Outra característica com relação ao aspecto do mel esteve relacionada com a presença ou não de impurezas.

Verificou-se que das amostras analisadas, 82% não apresentou impurezas, e das poucas amostras que continham impurezas, a maior porcentagem (12%) foi de cera (Figura 3), o que é mais comum de serem encontradas em mel do que outras impurezas como partes de abelhas, cascalhos, ou outro tipo de impureza. Salienta-se aqui que as amostras que se encontravam com aspecto pastoso foram as mesmas que apresentavam cera e partes de abelhas.

Cor

No que diz respeito à cor verificou-se que, de acordo com a escala de Pfund, todas as cores encontradas para as amostras analisadas encontraram-se dentro da norma vigente, onde variaram desde o branco até o âmbar escuro (Brasil, 2000). Verificou-se que houve uma predominância das cores âmbar claro (36%), âmbar (25%) e âmbar escuro (22%) (Figura 4).

Aroma

Quanto ao aroma, outra característica organolétpica de extrema importância, verificou-se que das 73 amostras analisadas 84% apresentaram-se com aroma característico (Figura 5), e os 16% restante estiveram distribuídos entre um certo odor avinagrado (8%), odor de fumaça (4%), odor de limão (1%) e um odor desconhecido(3%).

Sabor

O sabor do mel também é considerado uma característica organoléptica importantíssima para se determinar a qualidade do mel. A figura 6 ilustra os resultados encontrados para as 73 amostras analisadas no presente estudo.

Verifica-se que 70% das amostras apresentaram-se com o sabor característico do mel, ou seja, próprio e doce, seguido de sabores ácidos (11%), ligeiramente ácido (8%), leve sabor de fumaça (5%) e demasiadamente ácido e azedo (3% para cada característica). Novas pesquisas estão sendo realizadas junto aos apicultores na tentativa de solucionar o problema do sabor do mel, para que 100% das amostras apresentem a característica própria e doce.

TESTES DE PUREZA E INTEGRIDADE

Densidade relativa

De acordo com a legislação brasileira, o resultado esperado para o parâmetro densidade relativa, deve estar entre 1,39 e 1,44 g/ml. A densidade relativa das 73 amostras analisadas variou de 1,37 a 1,45 g/ml. A menor densidade relativa foi encontrada na única amostra proveniente do município de Caraúbas (1,37 g/ml), a qual esteve portanto, abaixo do exigido pela legislação, enquanto que a maior densidade relativa foi encontrada também em uma amostra única oriunda de Baraúnas, a qual apresentou um valor acima (1,45 g/ml) do exigido pela legislação, estando também fora do aceitável. Cabe aqui ressaltar que, como recebemos apenas uma amostra dos municípios supra citados, não dá ainda para se ter uma avaliação exata quanto a densidade dos méis produzidos naquela região. Portanto, para isso novas amostras serão coletadas em ambos municípios. De um modo geral, do total de amostras analisadas, 82% estiveram dentro dos padrões exigidos pela legislação (Figura 7).

Umidade

Analisando-se individualmente cada amostra, as porcentagens de umidade encontradas para as 73 amostras analisadas variaram de 15,9% a 22,6%. O menor valor foi encontrado na Serra do Mel (15,9%), cujo mel era proveniente da safra do caju e a maior porcentagem de umidade (22,6%) foi encontrada na amostra proveniente do município de Apodi. Do mesmo modo que ocorreu com a densidade relativa, quanto ao parâmetro umidade a amostra proveniente de Caraúbas (umidade de 21,1%) também não se enquadrou nos padrões exigidos pela legislação, cujo valor não deve ultrapassar os 20% de umidade (BRASIL, 2000). Este fato pode ser explicável uma vez que a densidade relativa está diretamente ligada com a quantidade de água presente no mel, e se observarmos, quanto mais alta a umidade, maior quantidade de água no mel, menor será a densidade, entretanto, quando analisados de forma geral, constatou-se que para o parâmetro umidade, a maioria das amostras estiveram dentro do limite aceitável pela legislação, ou seja, 82% das amostras foram aprovadas (Figura 7).

Cinzas

Segundo OLIVEIRA (1997), a determinação de cinzas, considerada como medida geral de qualidadeé freqüentemente utilizada como critério na identificação dos alimentos. O teor muito alto de cinzas indica a presença de adulterantes (Silva, 2005).

Quando analisadas de forma individual, o teor de cinzas encontrado nas 73 amostras estudadas variou de 0,01 a 0,4%, sendo que o menor valor foi encontrado na amostra proveniente de Serra do Mel, e o maior valor (0,4%) obtido na amostra proveniente de Mossoró. Verificou-se que, para as porcentagens de cinzas encontradas nos 8 municípios estudados, todas as amostras estão enquadrados na norma vigente, cujo valor máximo de cinzas presente no mel deve ser de 0,6% (Brasil, 2000), portanto, 100% as amostras analisadas são aceitas por esta norma (Figura 7).

pH

O pH das 73 amostras analisadas variou de 2,5 a 3,9 e , quando analisadas individualmente, verificou-se que 3% destas, apresentaram valores abaixo do exigido e 97% estavam de acordo (Figura 7) com o que é estabelecido pela norma vigente que determina um pH de 3,2 a 4,5 (Brasil, 2000).

Acidez

A acidez das 73 amostras apresentou valores variando de 13,1 a 98,7 meq/Kg, sendo que o menor valor de acidez (13,1 meq/Kg) foi verificado em amostras do município de Serra do Mel e o maior valor (98,7 meq/Kg) no município de Almino Afonso.

De acordo com a legislação brasileira, o valor máximo para a acidez deve ser de até 50 meq/kg. Nas amostras estudadas, 77% estiveram dentro do limite estabelecido pela legislação vigente (Figura 7), e dos 23% das amostras que não se enquadraram como aceitáveis pela legislação, encontram-se amostras de 6 municípios, quais sejam: Serra do Mel, Apodi, Mossoró, Baraúna, João Câmara e Almino Afonso.

Hidroximetilfurfural

A quantidade de hidroximetilfurfural (HMF) encontrada nas 73 amostras de méis analisadas variou de 3,1 a 21,1 mg/kg. O menor valor (3,1mg/kg) foi encontrado em uma amostra proveniente de Apodi e o maior valor (21,1 mg/kg) em uma amostra do município de Serra do Mel. No presente trabalho pode-se verificar que todas as amostras analisadas, com relação ao HMF apresentaram valores bem abaixo do valor máximo exigido, o que demonstra uma aceitação de 100% das amostras (Figura 7), uma vez que de acordo com a legislação brasileira, a quantidade máxima de HMF encontrada nos méis não deve ultrapassar 60 mg/kg.

Fermentos diastásicos

De todas as amostras analisadas (73 amostras) com relação ao parâmetro fermentos diastásicos, verificou-se que todas apresentaram resultados negativos, ou seja, coloração variando entre o castanho e verde oliva, mostrando que os méis aqui analisados não sofreram superaquecimento ou adulterações, assim, 100% foram aprovadas neste parâmetro (Figura 7). Na presença de fermentos diastásicos (mel natural não aquecido acima de 45°C) aparecerá uma destas cores supra citadas, porém, na ausência de fermentos diastásicos (mel adulterado ou mel aquecido acima de 45°C) aparecerá uma coloração azul (Instituto Adolfo Lutz, 1985).

Sólidos insolúveis

A porcentagem de sólidos insolúveis encontradas nas 73 amostras variou entre 0,004 e 1,2%. Ao analisarmos individualmente cada amostra em cada município, constatou-se que apenas 34% das amostras estiveram dentro das normas exigidas pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento (Figura 7), cujo valor para os sólidos insolúveis não deve ultrapassar a 0,1%.

Açucares redutores

O conteúdo de açúcares redutores presentes nas 73 amostras variou de 26,3 a 78,3%. O menor valor (26,3%) foi encontrado no município de Apodi, e o maior valor (78,3%) no município de Serra do Mel. A norma vigente no Brasil estabelece um mínimo de 65% para açúcares redutores. No presente experimento algumas amostras estiveram com valores abaixo do permitido, três municípios apresentaram algumas amostras com valores médios abaixo do permitido, a saber: Serra do Mel, Apodi e Mossoró. Os demais municípios apresentaram valores acima do mínimo exigido, ou seja, estão em conformidade com a legislação vigente. No geral, 58% das amostras estiveram dentro do estabelecido pela legislação brasileira (Figura7).

Sacarose aparente

Os valores encontrados para a sacarose aparente analisados individualmente nas 73 amostras variaram entre 3,3 e 8,2%, sendo tanto o menor, quanto o maior valor encontrado, no município de Serra do Mel, demonstrando que, do mesmo modo que para açúcares redutores, algumas amostras apresentaram-se como não aceitáveis pela legislação, que é de no máximo 6%. Desse modo, 53% dos méis analisados estiveram dentro do padrão exigido (Figura 7).

Reação de Lund

Os resultados obtidos nas 73 amostras analisadas individualmente para o teste de Lund mostraram uma variação entre 0,0 a 1,3. O menor valor (0,0) foi encontrado no mel proveniente do município de Apodi, e o maior valor (1,3) encontrado em uma amostra proveniente do município de Serra do Mel. Os padrões exigidos pela legislação devem estar em uma faixa de 0,6 a 3,0. No entanto, quando se analisa individualmente verifica-se que 27% das amostras não são aceitáveis pela legislação, no entanto, a maioria (73%) se enquadrou dentro dos padrões exigidos (Figura 7).

Reação de Lugol

Os resultados para o teste de Lugol (que detecta adulterações) apresentaram-se todos negativos, isto é, em todas as amostras houve a ausência da coloração vermelho-violeta ou azulada, o que se é esperado para méis sem adulterações (Figura 7).

Teste de Fiehe

Para o teste de Fiehe (também usado para detectar adulterações), as colorações apresentadas variaram de branco a rosa translúcido, sendo desse modo todas negativas (Figura 7), pois houve a ausência de coloração vermelha intensa, a qual aparece na presença de mel adulterado ou falsificado.

CONCLUSÕES

Diante dos resultados obtidos, concluiu-se que, dos oito municípios estudados, nenhum apresentou 100% de aceitação para todos os parâmetros exigidos pela legislação. No entanto, isto não inviabiliza o uso desses méis para consumo humano, uma vez que o principal componente que poderia caracterizar deterioração do mel, o teor de hidroximetilfurfural que o inviabiliza para consumo, estava com níveis dentro do aceitável pela legislação nas 73 amostras analisadas. Aliado a este fato, os testes de adulteração do mel apresentaram resultados negativos, comprovando que não houve adulterações ou superaquecimento, reforçando ainda mais a liberação do produto para o consumo humano.

Conclui-se também que, faz-se necessário um melhor acompanhamento junto aos apicultores da região, desde o momento da colheita do mel até o envase, para que os parâmetros que não se enquadraram nas normas técnicas sejam reavaliados e para que os produtores busquem soluções para equacionar seus problemas relacionados a qualidade dos seus produtos, garantindo assim um mel de melhor qualidade e capacitando-os para atender as exigências do mercado nacional e internacional.


BIBLIOGRAFIA

ARRUDA, C. M. F. Caracterização físico-químicas e polínicas de amostras de méis de Apis mellifera L., 1758 (Hymenoptera, Apidae) da região da Chapada do Araripe, Município de Santana do Cariri, Estado do Ceará. 86p. Dissertação de Mestrado. Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, 86p, 2003

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Marchini, L. C., Sodré, G. S., Sabadin, J. et al. Análises físico-químicas de méis de Apis mellifera provenientes de diferentes municípios do Paraná. Trabalho apresentado no 15º Congresso Brasileiro de Apicultura, Natal, RN, Brasil. 2004b

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