Artigo

Ninhos de abelhas sem ferrão em praças urbanas

Lívia Cabral de Castro¹*; Fábio Prezoto¹

1-Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas - Comportamento e Biologia Animal, Laboratório de Ecologia Comportamental, Universidade Federal de Juiz de Fora, Campus Universitário Martelos, Juiz de Fora, MG, Cep. 36.036-900.

*liviadecastro@live.com

INTRODUÇÃO

As abelhas sem ferrão constroem seus ninhos em cavidades pré-existentes, como ocos de árvores ou até mesmo cupinzeiros. Utilizam vários tipos de materiais na construção, desde aqueles retirados da natureza como os secretados pelas próprias abelhas.

Algumas espécies têm sido frequentemente registradas em centros urbanos, nesse ambiente as abelhas utilizam cavidades disponibilizadas por construções humanas, assim como algumas árvores de médio a grande porte ali presentes.

Essas abelhas são responsáveis por 40 a 90% da polinização das árvores nativas, variando de acordo com o bioma. No Brasil são conhecidas mais de 400 espécies, algumas já ameaçadas de extinção. O conhecimento sobre as abelhas sem ferrão com ênfase nos locais que elas utilizam para construir seus ninhos é um elemento básico para o desenvolvimento de estratégias para a preservação e manutenção destas espécies.

Estudos sobre o comportamento de nidificação dessas abelhas foram realizados em área antrópica, porém foram conduzidos em locais bem arborizados como campus das universidades. Contudo, pouco se sabe sobre esse comportamento em locais com alto grau de urbanização.

O objetivo deste estudo foi descrever os locais de nidificação utilizados por abelhas sem ferrão em praças no município de Juiz de Fora, MG.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido em praças de Juiz de Fora, MG, situada na Zona da Mata Mineira, com uma população estimada em 2009 de 526.000 habitantes e uma área total de 1.429,875 km², sendo que desta, aproximadamente 70% constitui a área urbana, onde se concentra 85% da população.

Durante os meses de outubro/2007 a setembro/2008 foram realizadas visitas mensais nas praças em busca de colônias de abelhas. Para cada colônia encontrada foram registradas as seguintes características: tipo de substrato, altura da entrada do ninho e quando estavam localizados em árvores, a circunferência da árvore, a uma altura de 1,30m em relação ao solo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados oito ninhos de abelhas, sendo: 2 de Jataí (Tetragonisca angustula), 2 de Irapuá (Trigona spinipes), 2 de Iraí (Nannotrigona testaceicornis) e 2 de Mandaguari amarela (Scaptotrigona xanthotricha) (figura 1). Todos foram encontrados em cavidades nas árvores, com exceção da abelha-cachorro que constrói ninhos expostos. A circunferência das árvores utilizadas foi de 1,40 a 2,50m. A altura da entrada variou de acordo com cada ninho (tabela 1).

Apesar dos ninhos de algumas espécies como Jataí e Iraí serem frequentemente encontrados em construções humanas, a presença de árvores com ocos é um recurso importante para a nidificação das abelhas. O fato de algumas espécies não serem encontradas em ambientes urbanos, está relacionado à falta de locais para a construção de seus ninhos, uma vez que determinadas espécies nidificam exclusivamente em ocos de árvores, limitando a sua ocorrência em ambientes naturais preservados. Em ambiente urbano são poucas árvores que apresentam médio e grande porte, sendo que muitas dessas estão concentradas nas praças das cidades. Esses dados ressaltam a importância da presença de árvores de maior porte para a construção dos ninhos das abelhas sem ferrão.

Os ninhos construídos dentro de ocos possuem uma entrada discreta e são encontrados em locais mais baixos do que quando comparados ao ninho da Irapuá. Essa abelha constrói seu ninho em locais altos tornando difícil o acesso de predadores, apesar de serem facilmente localizados por estarem expostos.

O conhecimento das espécies de plantas para a prática da jardinagem nas cidades é importante para aumentar a oferta de cavidades e ainda a disponibilidade de flores para as abelhas nessas áreas.

Trabalhos sobre as abelhas sem ferrão em áreas urbanizadas são importantes por fornecerem informações para o conhecimento ecológico e comportamental das abelhas nesses locais.

Colônias de abelhas sem ferrão registradas nas praças. A - Mandaguari amarela; B - Iraí; C - Irapuá; D - Jataí.


  Mandaguari amarela Jataí Iraí Irapuá
Ninho 1 2,61 m 0,3 m 1,9 m 12 m
Ninho 2 2,54 m 1,57 m 3,6 m 15 m
Altura dos ninhos em metro das abelhas sem ferrão encontradas nas praças de Juiz de Fora, MG.


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