Artigo

NOVAS TECNOLOGIAS E SUA ABSORÇÃO POR GRUPOS DE PEQUENOS APICULTORES " O CASO DO RASTREAMENTO DE MEL"

Plano de Ação
Setor: APICULTURA
KIT: Novas tecnologias
KIQ: Como ter acesso a novos equipamentos e tendências?
Autor: James Arruda Salomé

INTRODUÇÃO

As exigências de mercado para produtos apícolas, principalmente aqueles que são exportados começam a receber uma série de controles sugeridos pelos compradores. Esses controles de diferentes naturezas (certificação da produção, monitoramento de analises, etc) deixaram em alguns casos, de ser diferenciadores de produto para o mercado, servindo apenas para o cumprimento de normas exigidas pelos compradores.

Essa evidência fica clara no momento em que o produto não se encontra em conformidade com as exigencias do comprador, e naturalmente não há comercialização. Exemplo dessa ação ocorreu durante o embargo europeu ao mel brasileiro, por ausência de análises relativas a resíduos químicos.

Alem disso, o Ministério da Agricultura brasileiro, responsável pelas normas que regem produtos de origem animal e vegetal para comercialização interna e externa, começa a exigir dos entrepostos de produtos apícolas, uma série de critérios relacionados à determinação da origem dos méis adquiridos pelo estabelecimento para venda.

As circulares nº 313 e nº 314 de março de 2008 do Ministério da Agricultura (1) (2), estabelecem parâmetros para funcionamento das salas de extração de mel que fornecem produto para estabelecimentos exportadores. Essa é uma medida inicial para estabelecimento de processos de rastreamento do mel, que irá para o mercado externo, e que deverá ser encarada como norma padrão e que há uma real necessidade de implantar sistemas rápidos para cumprimento das normas, a fim de manter os mercados externos já conquistados.

O atual ambiente de negócios exige velocidade, agilidade e alto valor agregado a processos e serviços junto aos clientes. Nesse contexto, é evidente a necessidade das organizações atuarem de forma associada, de modo que possa sobreviver à elevada competitividade.

Não faz mais sentido a crença do produtor independente que produz qualquer produto sem orientação para o mercado destinado. O atual produtor deverá estar inserido em cadeias de abastecimento e de negócios, que envolvem desde os fornecedores até os consumidores, passando pela produção, compra, gestão de materiais, marketing, vendas e distribuição física. Estes agentes são permeados por três fluxos principais: de informações, de insumos e mercadorias e o financeiro.

Se por um lado há muitos desafios para o produtor agrícola, por outro lado surgem novas oportunidades de mercado por meio da valorização de seus produtos com atributos diferenciados de qualidade percebida para os clientes. As novas oportunidades incluem desde a inserção desses agricultores em mercados de nicho nacionais e internacionais, como se verifica nos produtos artesanais, naqueles com denominação de origem e nos orgânicos, até o aprimoramento dos circuitos regionais de produção, distribuição e consumo de alimentos.

A comercialização de produtos apícolas sempre foi o gargalo para a determinação de entrada de tecnologia de campo. Se não ocorrer a comercialização em patamares satisfatórios de preço final para o produtor, naturalmente não ocorrerão novos investimentos em melhorias na produção.

Dessa forma há necessidade em melhorar os sistemas de comercialização de produtos apícolas, diferenciando-os, com valor agregado. Além dos aspectos de controle e certificação da produção, há necessidade em mostrar ao comprador / consumidor de forma transparente a origem do produto ofertado.

O rastreamento de mel é o exemplo inserido nesse plano de ação, que diferencia de uma forma técnica o produto a ser comercializado. Também traz um caso de sucesso de um grupo de pequenos apicultores de municípios da Grande Florianópolis, que organizados sob a forma cooperativada, tiveram acesso a essa mais nova ferramenta tecnológica.

Quando se fala em rastreamento de mel, o pequeno produtor, de imediato acha que é algo inatingível pelo fato dele ser pequeno e não ter recursos disponíveis para implantação do sistema. Porem se ele trabalhar em grupo é possível ter acesso a essa ferramenta tecnológica para mercado, gestão e certificação.

A IMPORTANCIA DO TRABALHO EM GRUPO E A INTERFACE DO SISTEMA DE RASTREAMENTO

O atual exemplo de acesso a novas tecnologias foi realizado com um grupo de pequenos e médios apicultores, produtores de mel, de seis municípios (Santo Amaro da Imperatriz, São José, Angelina, Anitápolis, São Bonifácio, Águas Mornas) da Grande Florianópolis / SC. A parceria estabelecida foi com o Agro Negócio Apícola do SEBRAE / SC e a empresa Paripassu. Esses trinta apicultores estão se organizando sob forma de cooperativa com a denominação de fantasia "Encosta da Serra", e tomam decisões de forma conjunta com representantes e gestores de cada um dos municípios.

Foi apresentado aos apicultores o sistema de rastreamento, o custo de implantação e quais regras deveriam ser observadas para a manutenção do sistema de forma contínua, para os compradores / consumidores acessar as origens dos produtos. Os dados referentes aos apiários, apicultores e manejos foram levantados por consultores em apicultura do SEBRAE / SC.

Com o aceite do grupo, a interface do sistema foi implantado no entreposto fracionador terceirizado, localizado no município de São Bonifácio, onde são depositados os estoques de colheita do grupo para posterior fracionamento ao mercado.

O cadastramento do Entreposto fracionador engloba dados referentes à responsabilidade do processo, dados sobre localização e processos realizados. É no Entreposto que há a concentração de dados sobre o rastreamento dos produtos que entram e saem, e de onde o sistema é alimentado com todas as informações.

O cadastramento dos produtores no sistema de rastreamento é realizado tomando-se em consideração dados referentes ao cadastro do produtor (nome, CPF, localização da propriedade, produtos explorados).

Alem de dados gerais do produtor, consta no cadastro de origens, o registro e as características de cada um dos apiários produtivos (figura 1), assim como, os tipos de produtos explorados e as fotos da produção.

Após a plotagem dos dados de origem dos produtores e dos apiários no sistema, é possível gerar códigos numéricos específicos para o (s) mel (es), que é (são) colhido (s) em cada um dos apiários, processados nas salas de extração e levados ao entreposto fracionador. Dessa forma, há conhecimento sobre o mel na recepção do entreposto, assim como, dados referentes sobre o produtor, qual apiário originou o produto e as respectivas quantidades (figura 2).

O sistema permite visualizar e controlar estoques de mel no entreposto, pertencentes a um apicultor ou a um grupo, facilitando tomada de decisões referentes à gestão e a comercialização em poucos minutos. Por exemplo, se um determinado mercado solicita méis claros (<40 mm Pfund), é possível saber quanto mel claro há em estoque (pois características como cor e umidade também podem ser cadastradas), e a qual produtor ele pertence, para proceder à comercialização. Alem disso, é possível ter visibilidade sobre o volume de produção conjunta de uma determinada região, grupo de produtores, apiários, assim como, de produções individualizadas de apiários e/ou produtores.

Os meles homogeneizados, pertencentes a diferentes apiários e produtores geram um código numérico único e que são destinados ao mercado, dessa forma há a possibilidade de verificar sua origem até em nível de apiário (figura 3).

As embalagens contendo produto chegam às mãos do consumidor, que de posse do selo de rastreamento (figura 4) tem acesso a página do sistema (www.paripassu.com.br), onde aparece em destaque na cor verde o sistema de rastreamento de produtos, bastando inserir o código numérico da embalagem e buscar de onde o produto se originou (figura 5).

Após digitar o código numérico da embalagem (figura 6), aparecem todas as informações concernentes ao produto em todas as fases produtivas, obtido pelo consumidor (figura 7).

Se o consumidor clicar em cada uma das figuras, aparece uma aba para melhor visualizar cada uma das etapas do processo de produção.

Na borda inferior da página aparece a opção de verificar o caminho percorrido pelo produto até chegar às mãos do consumidor final (figura 8).

Esse sistema é único no Brasil e foi lançado no dia 03/06/2009, na X° edição da Feira do Mel, em Florianópolis.

O grupo de produtores da Cooperativa Encosta da Serra manteve stand na feira para comercializar seus produtos, e os consumidores eram convidados a acessar o sistema e rastrear o mel recém adquirido, visualizando a base de dados. O consumidor no momento de saber a procedência e origem dos produtos se impressionava com o detalhamento das informações, pois até o momento não tinha conhecimento sobre a origem e procedência de seu mel. O resultado do lançamento do sistema junto a um grupo de pequenos e médios produtores, com moderna ferramenta de diferenciação do produto do grupo, ocasionou a comercialização total dos produtos destinados a venda no dia anterior ao término do evento. Alem disso, a cobertura da mídia sobre o lançamento de uma nova ferramenta para agregar valor ao mel, juntamente com um grupo de apicultores organizados, foi noticia em jornais locais e nacionais, trazendo visibilidade sobre a organização do grupo, e principalmente sobre a divulgação da marca fantasia do produto comercializado pelos apicultores.

CONCLUSÃO

É possível grupos organizados de pequenos apicultores terem acesso as mais diferentes e modernas tecnologias produtivas, desde que reconheçam como necessidade a diferenciação de obterem tecnologia, que naturalmente se refletirá em melhoria nos processos de comercialização de seus produtos com valor agregado.

Foi exposto acima um caso de sucesso de diferenciação comercial no mel do grupo Encosta da Serra, que com certeza foi bem aceito pelo consumidor varejista como sendo um produto honesto, transparente e com grande respeito ao publico alvo.

O sistema de rastreamento para mel, exposto anteriormente também é aplicável alem do mercado interno, de natureza varejista, no mercado externo. Exemplo disso é de que o sistema está também implantado em entreposto de exportação da COOPASC (Cooperativa Apícola de Santa Catarina), e que se prepara para enviar os primeiros containers de mel para a Europa nos próximos meses. O sistema de rastreamento é básico para os entrepostos exportadores, tendo a adição de um passo a mais, por causa das salas de extração certificadas, que atualmente possuem registro no MAPA.

VISIBILIDADE DA ORGANIZAÇÃO E DO DIFERENCIAL DO PRODUTO ENCOSTA DA SERRA NA MÍDIA:

(a)http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=64944&channel=47

(b) http://www.youtube.com/watch?v=VTEelU3kX0U

(c)http://www.agenciasebrae.com.br/noticia.kmf?noticia=8499983&canal=199&total=3091&indice=0

(d) http://www.agrosoft.org.br/agropag/210536.htm

(e) http://www.revistafator.com.br/ver_noticia.php?not=79109

(f) http://www.dci.com.br/noticia.asp?id_editoria=1&id_noticia=287584

(g)http://sebraescgprs.blogspot.com/2009/05/sebraesc-desenvolve-primeiro-sistema-do.html

REFERENCIAS:

(1)http://www.sebraesc.com.br:8080/sis/pages/MostraLegislacaoAssinante.do?metodo=MostrarLegislacaoAssinante&idSetor=1&idLegislacao=456

(2)http://www.sebraesc.com.br:8080/sis/pages/MostraLegislacaoAssinante.do?metodo=MostrarLegislacaoAssinante&idSetor=1&idLegislacao=428



Figura 1. Cadastro de apiários, tipos de produtos e imagens da produção.

Figura 2. Geração de códigos numéricos específicos na recepção do entreposto com a entrada de mel colhido por apicultores participantes do sistema.

Figura 3. Geração de código numérico final do produto envasado para seu destino comercial.

Figura 4. Embalagem contendo mel da Cooperativa Encosta da Serra, e sua respectiva etiqueta de rastreamento

Figura 5. Página da web para o consumidor buscar origem e procedência de seu mel.

Figura 6. Inserção do código numérico para rastrear o mel comprado.


Figura 7. As etapas do processo de produção.

Figura 8. Visualização do caminho percorrido pelo pote de mel até chegar ao consumidor.

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