Artigo

A importância do uso de dietas artificiais para o desenvolvimento de colméias de abelhas Apis mellifera.

Michelle Manfrini Morais*, Aline Patrícia Turcatto, Fabrício Alaor Cappelari, Lionel Segui Gonçalves e David De Jong.
*Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/USP - Departamento de Biologia

As abelhas necessitam de proteínas, carboidratos, minerais, lipídios, vitaminas e água para o crescimento e desenvolvimento normal de suas colônias. Estas necessidades normalmente são supridas pela coleta de néctar, pólen e água, sendo que o néctar coletado pelas forrageadoras satisfaz o requerimento de carboidratos enquanto o pólen satisfaz o requerimento de proteínas, minerais, lipídeos e vitaminas (Herbert, 1992). Dessa forma, o tipo e a quantidade de alimento coletado (néctar ou pólen) são selecionados pelas operárias, sendo que no decorrer do dia, elas podem alterar o tipo de coleta para atender às exigências da colméia (Free, 1980). Para as abelhas, pólen é a fonte natural de proteína, mas diferentemente do mel, ele não é fácil de estocar (Pernal & Currie, 2001). Precisa ser consumido logo após ser coletado, pois de outra maneira perde muito do seu valor nutritivo. As abelhas estocam um pouco de pólen nos seus ninhos na forma de "bee bread" (pão da abelha). "Bee bread" é uma mistura de pólen e mel, algumas enzimas (incluindo invertase), secreções glandulares das abelhas e microorganismos (Pseudomonas, Lactobacillus, e Saccharomyces sp.), que ajudam a proteger a mistura de pólen dos microorganismos deletérios, reduzindo o pH (Winston, 1987; Herbert, 1992). Os microorganismos contidos no "bee bread" também melhoram o valor nutricional do pólen estocado, aumentando o conteúdo vitamínico e alterando a composição de aminoácidos (Cremonez et al., 1998).

A coleta desses alimentos pode ficar dificultada em épocas de pouca disponibilidade, sendo dessa maneira, a alimentação artificial muito importante nestes casos, tanto para a manutenção da colônia como para o crescimento e multiplicação do número de colméias. O crescimento e a manutenção das colônias são limitados pela quantidade de proteína disponível; a longevidade, a quantidade de cria e a produção de mel são reduzidas quando o consumo de proteína é inadequado (Herbert, 1992). Carências de pólen podem ocorrer em qualquer época do ano e afetam o desenvolvimento da colônia. A carência de pólen pode ocorrer, por exemplo, quando as abelhas estão freqüentando plantas que produzem muito néctar e pouco pólen (Stanger & Laidlaw, 1974; Johansson & Johansson, 1977). Nas épocas de carência, as reservas de pólen nos favos e reservas de proteína nas abelhas logo são gastos de modo que pólen ou substitutos de pólen são necessários para manter colônias fortes para a polinização ou para a produção de mel. Assim, o fornecimento de dietas artificiais alternativas ou substitutos de pólen pode ajudar a melhorar o desempenho da colônia (Herbert, 1992). Sendo assim, Herbert & Shimanuki (1979) definiram substituto de pólen como qualquer material que, quando fornecido às colônias de abelhas, supre as necessidades de pólen por um curto período de tempo. O suplemento de pólen, segundo a definição, deve conter proteínas e também pequenas quantidades de pólen, o que aumenta o valor nutritivo da dieta e age como um atrativo. Se não houver pólen ou um bom substituto do mesmo, o desenvolvimento das crias pode diminuir ou até cessar completamente (Haydak, 1963). Entretanto, normalmente, os apicultores oferecem substitutos de pólen para as colônias sem os cuidados relativos à formulação da dieta, à deterioração durante o tempo de estocagem, à atratividade para as abelhas e aos custos dos componentes das dietas (Herbert et al., 1977).

Free & Williams (1971) mostraram que o fornecimento de pólen à colônia reduz a quantidade de pólen coletado pelas abelhas, porém quando alimentadas com substituto de pólen durante uma florada, este é pouco consumido e não há mudança aparente na atividade das campeiras. Entretanto, Doull (1980) observou que a alimentação com suplemento de pólen aumenta a produtividade da colônia. Colônias que receberam o suplemento produziram, respectivamente, 38% e 28% de mel a mais por abelha que as colônias que não receberam uma dieta suplementar. Dessa maneira, apicultores e pesquisadores têm experimentado diversos suplementos alimentares, tais como farelo ou farinha de soja, levedura de cana-de-açúcar, farinha láctea, terneron (sucedânio para bezerro), farelo de trigo, glutenose de milho, farelo de polpa de citros, entre outros (Azevedo-Benitez & Nogueira-Couto, 1998; Couto, 1998; Lengler, 2000; Cremonez et al., 1998) que podem ser utilizados na produção de dietas protéicas para as abelhas, tentando dessa maneira, evitar o enfraquecimento das colônias ou a perda por abandono (cerca de 50% de perda em regiões mais castigadas) (Lengler, 2000; Cremonez, 2001). Quando as condições ambientais estão desfavoráveis, a pouca cria existente na colônia pode morrer devido à fome, surgimento de doenças ou ser eliminada pelas operárias, que consomem parte da cria para saciar a falta de alimento (Crailsheim, 1990). Para tentar solucionar esses problemas, vários parâmetros têm sido usados para identificar o alimento mais eficaz, entre estes: consumo do alimento (Nabors,1996), desenvolvimento e peso das colônias (Silva, 1997), produção de geléia real e desenvolvimento da glândula hipofaríngea (Azevedo-Benitez & Nogueira-Couto, 1998), longevidade das operárias (Horr, 1998; Cremonez, 2001), infestação do ácaro Varroa destructor (Garcia et al., 1986), produção de mel (Abbas et al., 1995), e capacidade imunológica e teor protéico na hemolinfa das abelhas (Cremonez, 2001).

Assim, apesar da diversidade da flora apícola no país, devido ao seu tamanho, encontramos diversas realidades nutricionais. Como exemplo, no Nordeste brasileiro, durante a estação seca, ocorre uma escassez de pasto apícola e, conseqüentemente, de alimento para as abelhas (Pereira et al., 2006). Por conseguinte, todo ano os apicultores perdem uma grande parte das suas colônias, que abandonam os apiários em busca de novos pastos no período de escassez de alimento (Freitas, 1991; Lima, 1995). Dessa forma, a falta de recursos para adquirir o alimento e o desconhecimento de produtos que possam ser oferecidos às abelhas são os motivos que impedem a alimentação adequada das colônias no período necessário. O uso de dietas artificiais pode resolver parcialmente esse problema. Contudo, apesar de várias pesquisas terem sido realizadas visando encontrar um substituto alimentar para as abelhas (Abbas et al., 1995; Cremonez, 1996, 2001; Azevedo-Benitez & Nogueira-Couto, 1998), não existem produtos eficazes de fácil acesso e baixo custo ao produtor. Sob esta perspectiva, nosso objetivo é investigar materiais (ingredientes de rações para animais) de baixo custo, e desenvolver e testar diferentes misturas que poderão ser usadas como substitutos de pólen. Entretanto, os dados resultantes destes experimentos fornecerão importantes subsídios para o desenvolvimento da apicultura brasileira, com a possibilidade de estabelecer dietas que poderão ser usadas no âmbito nacional. Dessa maneira, é imprescindível a colaboração dos apicultores para tal pesquisa, pois estarão fornecendo dados importantes sobre as dietas artificiais já utilizadas em seus apiários.

Ficha de informação sobre o uso de dietas protéicas. Favor incluir o máximo de informação possível, deixando em branco os itens para os quais não possui dados.

1)Nome do Apicultor, endereço, e-mail e telefone

2)Cidade(s) no qual se localiza(m) o(s) apiário(s)

3)Número de colméias alimentadas.

4)Há a utilização de algum tipo de dieta artificial? Qual? Especifique os ingredientes e quantidades.

5)Custo das dietas ou dos ingredientes.

6)Qual a consistência utilizada em tais dietas (líquida, pastosa ou sólida).

7)Qual a quantidade de dieta oferecida por colônia? Em qual época do ano são oferecidas tais dietas? De que maneira (alimentadores)?

8)Qual o tipo de avaliação que é feita após a utilização dessas dietas (aceitabilidade, aumento da área de cria, aumento da população)?

9)Desde quando essas dietas estão sendo utilizadas? Você já usou e testou outras dietas?

Aos interessados, favor enviar as respostas para:

Drª Michelle Manfrini Morais
e-mail: mmanfrini@rge.fmrp.usp.br
Departamento de Biologia, FFCLRP-USP
14049-901 Ribeirão Preto, SP
Tel: (16) 36024578

Agradecimentos

Os autores agradecem à Fapesp (processo 2007/07701-3) e à Capes pelo suporte financeiro

Referências Bibliográficas

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