Artigo

SUBSTRATOS VEGETAIS UTILIZADOS PARA NIDIFICAÇÃO PELA ABELHA URUÇU (Melipona scutellaris) NO LITORAL NORTE DO ESTADO DA BAHIA

Rogério Marcos de Oliveira Alves1, Bruno de Almeida Souza2, Carlos Alfredo Lopes de Carvalho3, Larissa Silva Souza4 & Jackeline Pereira Andrade5

1Doutorando, Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias, Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, UFRB, Cruz das Almas-BA. CEP: 44.380-000. E-mail: eiratama@gmail.com. Bolsista CAPES.
2Núcleo de Pesquisa com Abelhas, Embrapa Meio-Norte, Teresina-PI. CEP: 64.006-220. E-mail: bruno@cpamn.embrapa.br.
3Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, UFRB, Cruz das Almas-BA. CEP: 44.380-000. E-mail: calfredo@ufrb.edu.br. Bolsista Produtividade CNPq.
4Graduanda em Engenharia Agronômica ,Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, UFRB, Cruz das Almas-BA. CEP: 44.380-000. Bolsista PET/Agronomia/UFRB.
5Graduanda em Ciências Biológicas, Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, UFRB, Cruz das Almas-BA. CEP: 44.380-000. Bolsista IC/CNPq.

RESUMO

A criação de abelhas sem ferrão se constitui em atividade tradicional em quase todas as regiões do Brasil, sendo a abelha "uruçu" (Melipona scutellaris) uma das espécies mais conhecidas no Nordeste brasileiro. Este estudo foi conduzido com o objetivo de obter informações relacionadas aos substratos vegetais utilizados por este meliponíneo para nidificação no Litoral Norte do Estado da Bahia. Um total de 19 espécies vegetais foi identificado abrigando colônias de M. scutellaris. Anacardiaceae, Caesalpiniaceae, Meliaceae e Mimosaceae se destacaram entre as 12 famílias de plantas identificadas. "Ingauçu" (Sclerolobium rugosum) e "Pau-pombo" (Tapirira guianensis) foram as espécies vegetais preferidas como substrato de nidificação pelas abelhas e para a construção de cortiços pelos meliponicultores. Palavras-chave: Meliponini, ninhos, abelhas sem ferrão

INTRODUÇÃO

A criação de abelhas sem ferrão se constitui em atividade tradicional em quase todas as regiões do Brasil, sendo prática desenvolvida ao longo do tempo por pequenos e médios produtores (Alves, 1996). A região Nordeste tem se destacado na criação dessas abelhas, principalmente de algumas espécies do gênero Melipona, que apresentam porte avantajado e proporcionam satisfatórias colheitas de mel (Cortopassi-Laurindo & Macêdo, 1998).

Dentre as espécies de abelhas sem ferrão, a "uruçu" (Melipona scutellaris) destaca-se como uma das três espécies mais manipuladas pelo meliponicultor, sendo das mais conhecidas no Nordeste do Brasil (Kerr, 1998). Sua utilização se mostrou adequada em programas de autosustentação conduzido por Alves et al. (2006), proporcionando incremento na renda local e proteção do ambiente. Mesmo com esta importância, informações referentes às espécies vegetais utilizadas para a nidificação por esta abelha ainda são escassas apesar de relevantes por subsidiar estudos de preservação dessa fauna de abelhas e da flora associada.

Desta forma, este estudo teve por objetivo identificar as espécies vegetais utilizadas como substrato de nidificação por M. scutellaris no Litoral Norte do Estado da Bahia.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi desenvolvido em municípios do Litoral Norte do Estado da Bahia entre outubro de 1986 e setembro de 1993. A vegetação predominante no local é de floresta ombrófila, apresentando pequenas áreas cultivadas com fruticultura.

As colônias de M. scutellaris e as espécies vegetais que foram usadas como substratos para nidificação foram identificadas por meio de incursões na vegetação acompanhadas de mateiros, "furadores de abelhas" e criadores de abelhas sem ferrão da região. As partes férteis das plantas foram coletadas, montadas em exsicatas e enviadas para a identificação no Herbário do IBGE/RADAM em Salvador, Bahia.

Adicionalmente cortiços também foram vistoriados e criadores entrevistados para se chegar à espécie vegetal utilizada na região para confecção destes abrigos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi localizado um total de 82 ninhos de M. scutellaris, distribuídos em 19 espécies vegetais, pertencentes a 12 famílias (Tabela 1). Destas famílias identificadas, Anacardiaceae foi a que apresentou o maior número de espécies (três espécies), seguidas de Caesalpiniaceae, Meliaceae e Mimosaceae, cada uma delas com duas espécies.


Além destas famílias de plantas englobarem espécies utilizadas como substratos de nidificação pelos meliponíneos, também são citadas como fonte de recursos alimentares para Melipona quadrifasciata na região do Recôncavo baiano (Carvalho et al., 2006) e para M. scutellaris no município de Catu (Carvalho et al., 2001).

Entre as plantas identificadas com ninho, duas espécies conhecidas pelos nomes vulgares de "erva-de-rato" e "itapororoca" não foram identificadas em nível de espécie devido à ausência de flores na ocasião de sua localização. Essas plantas foram cortadas por mateiros pouco tempo depois de serem localizadas, o que impossibilitou a posterior coleta de flores necessária para a identificação taxonômica.

De acordo com os dados obtidos a campo e junto a criadores e mateiros, o "ingauçu" (Sclerolobium rugosum), "pau-pombo" (Tapirira guianensis), "guabiraba" (Eugenia brasiliensis), "coqueiro" (Coccus nucifera) e "faveira" (Parkia pendula) são sugeridas como as espécies mais importantes nessa região para nidificação por M. scutellaris.

Pimentel et al. (2003), realizando levantamento de ninhos de meliponíneos em um fragmento de Mata Atlântica, verificaram que o "pau-pombo" foi o substrato mais utilizado para nidificação, com 57,9% ninhos.

Também o "ingauçu" se constitui em excelente planta para nidificação devido ao seu tronco possuir diâmetro maior e por ter facilidade em formar ocos, sendo o aparecimento de cavidade no tronco devido a quedas de galhos e ataques de brocas que permitem a penetração da umidade pelo orifício, facilitando o apodrecimento da parte central e proporcionando condições das abelhas ampliarem a cavidade utilizada. O mesmo não poderia ser feito em cerne sadio, porém a madeira apodrecida permite a escavação até onde não há cavidade natural (Santos, 1985).

Algumas espécies foram indicadas pelos entrevistados como substratos encontrados no mato, porém não confirmadas nas vistorias a campo. Nesses casos foram encontradas abelhas alojadas em cortiços.

O número de colônias encontradas em "coqueiro" (n=8) foi relativamente alto e, provavelmente, deve-se à redução da área de mata para implantação de pastagens, pomares e plantio de coqueiros.

Os resultados obtidos evidenciam que a espécie de meliponíneo em estudo nidifica em diversos substratos, constatando-se que as plantas mais utilizadas pelas abelhas no campo e na construção de cortiços são o "inguaçu" e o "pau-pombo" devido à sua abundância na região e à facilidade de formação de cavidades para abrigar o ninho desta espécie de abelha.

CONCLUSÃO

A abelha "uruçu" (M. scutellaris) utiliza diferentes espécies vegetais como substrato de nidificação na região do Litoral Norte do Estado da Bahia, destacando-se as espécies conhecidas por "ingauçu" (Caesalpiniaceae - S. rugosum) e "pau-pombo" (Anacardiaceae - T. guianensis).

A utilização do "coqueiro" (Arecaceae - C. nucifera) como substrato de nidificação parece ser uma adaptação à redução do número de espécies vegetais com cavidades de maior diâmetro na região.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, R.M. de O. Meliponicultura: aspectos práticos. In: Anais do XI Congresso Brasileiro de Apicultura (Teresina, CBA), p. 95-98. 1996.

ALVES, R.M. de O.; JUSTINA, G.D.; SOUZA, B. de A.; DIAS, C.S.; SODRÉ, G. da S. Criação de abelhas nativas sem ferrão (Hymenoptera: Apidae): autosustentabilidade na comunidade de Jóia do Rio, município de Camaçari, Estado da Bahia. Magistra, v.18, n.4, p. 221-228. 2006.

CARVALHO, C.A.L. de; MORETI, A.C. de C.C.; MARCHINI, L.C.; ALVES, R.M. de O.; OLIVEIRA, P.C.F. de. Pollen spectrum of samples of uruçu bee (Melipona scutellaris Latreille, 1811) honey. Rev. Bras. Biol., 61: 63-67. 2001.

CARVALHO, C.A.L. de; NASCIMENTO, A.S. do; PEREIRA, L.L.; MACHADO, C.S.; CLARTON, L. Fontes nectaríferas e poliníferas utilizadas por Melipona quadrifasciata (Hymenoptera: Apidae) no Recôncavo Baiano. Magistra, v.18, n.4, p. 249-256. 2006.

CORTOPASSI-LAURINDO, M.; MACÊDO, E.R.M. Vida da abelha jandaíra (Melipona subnitida). In: Anais do XII Congresso Brasileiro de Apicultura (Salvador, CBA), p. 65-67. 1998.

KERR, W.E. As abelhas e o meio ambiente. In: Anais do XII Congresso Brasileiro de Apicultura (Salvador, CBA), p. 27-30. 1998.

PIMENTEL, A.L.S.; ALVES, R.M. de O.; MARTINS, M.A.S.; SOUZA, B. de A.; CARVALHO, C.A.L. de. Mapeamento e sítios de nidificação de abelhas sem ferrão (Hymenoptera: Apidae: Meliponinae) numa área antropizada. In: Anais do VIII Encontro Estadual de Apicultura (Cruz das Almas, SEAGRI/BA), p86. 2003.

SANTOS, E. Os Insetos, Editora Itatiaia, v.2, Belo Horizonte, 250p. 1985.

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